Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 24 de março de 2014

Namoro ou Liberdade (2014): comédia pastelão sem graça

Sem grandes méritos, Tom Gormican estreia como diretor e roteirista de cinema em uma comédia (romântica?) genérica.

Poster Namoro ou Liberdade.inddTrês amigos por volta dos 30 anos de idade, heterossexuais, solteiros e de boa condição social se encontram em um bar para azarar mulheres e encher a cara. O que há de errado nisso? Nada. A ideia de um filme de comédia que tenha como pano de fundo esse tema é, em tese, apesar de simples, perfeita: independente de faixa etária, condição social, sexualidade ou status de relacionamento, todos nós gostamos de nos reunir entre amigos, “tomar umas” e jogar conversa fora; gera identificação imediata com o grande público. O problema reside em restringir o círculo de piadas a um conjunto apelativo, sem inspiração nenhuma, desconstruindo (quase) tudo o que poderia sair de bom em uma experiência como essa.

Escrito e dirigido pelo estreante Tom Gormican, “Namoro ou Liberdade” acompanha a vida de três amigos que, encontrando-se em fases distintas de suas relações amorosas, resolvem fazer um pacto para ficarem solteiros e se divertirem juntos. Jason (Zac Efron) fica com uma mulher até a relação chegar à encruzilhada entre levá-la adiante ou terminá-la, optando sempre pela segunda opção. Daniel (Miles Teller) pula de relacionamento em relacionamento, transa em transa, como se fossem apenas diversões momentâneas, não levando nada a sério. E Mikey (Michael B. Jordan) é um recém divorciado que busca estabilidade na volta à rotina de solteiro.

Assim, o longa se desenvolve seguindo as reviravoltas que as vidas de cada um dá e como elas afetam o relacionamento entre eles. Enquanto isso, o roteiro tenta rechear a história com piadinhas sem graça, quase sempre envolvendo banheiro e/ou promiscuidade, e que em nada colaboram com a construção do arco dramático de cada personagem ou mesmo com a narrativa em si, de forma que elas soam vazias e sem propósito. É o típico humor pastelão hollywoodiano em sua pior versão: machista, apelativo, sem refinamento algum e, na maioria das vezes, consequentemente, sem graça.

Claro que existem momentos que salvam o longa do desastre completo. Méritos mais para o carisma de Zac Efron e Michael B. Jordan, especialmente deste último, do que para a (falta de) consistência do roteiro em si. Ambos carregam a trama nas costas. Se a polêmica envolvendo a escolha de Jordan como o Tocha Humana levasse em consideração apenas carisma e talento, o que infelizmente não é o caso, com certeza ninguém contestaria seu nome. E Efron, apesar de não ser particularmente talentoso, definitivamente conseguiu se desvencilhar do fantasma chamado Troy Bolton que o assombrava desde o fim da trilogia “High School Musical”.

Nos outros segmentos da película, clichês e lugares-comuns; tudo o que já vimos diversas vezes em outros filmes semelhantes a este. Aqui, o que chama a atenção – negativamente – é a falha constrangedora em tentar criar um envolvimento emocional com os espectadores. Em momentos cruciais, quando, teoricamente, éramos para estar à flor da pele, a indiferença toma conta, principalmente por já sabermos como tudo aquilo irá terminar, tamanha a previsibilidade do script e a falta de criatividade dos realizadores na concepção da obra.

Neste sentido, não tem nem como atribuir culpa a terceiros, uma vez que Tom Gormican é responsável tanto pela direção quanto pelo roteiro, parecendo realmente acreditar que um discurso meloso e meia-boca no último ato pode mesmo salvar toda uma narrativa mal construída. Pior, a impressão que passa é a de que o diretor nunca de fato viu uma comédia romântica na vida, à medida que as resoluções que propõe soam tão genéricas e artificiais que podiam se encaixar em qualquer um desses enlatados do gênero que Hollywood produz a rodo todos os anos.

Dessa forma, dependendo quase exclusivamente do carisma de um ou outro nome do elenco para funcionar razoavelmente, “Namoro ou Liberdade” não cumpre de maneira minimamente satisfatória sequer a mais essencial de suas premissas, que é divertir e entreter o espectador. Quando uma obra não consegue alcançar nem o mais básico objetivo pela qual foi concebida, é sinal de que algo (ou muita coisa) deu errada.

Arthur Grieser
@arthurgrieserl

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