Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 03 de fevereiro de 2014

Fruitvale Station – A Última Parada (2013): as últimas horas de Oscar Grant

Tragédia da estação Fruitvale é contada com ares de documentário.

Fruitvale Station - A Última ParadaNo dia 1º de janeiro de 2009, o jovem negro Oscar Grant III voltava das comemorações de ano novo em São Francisco para sua cidade quando, depois de uma briga dentro de um trem, foi detido pela polícia na estação Fruitvale e assassinado por um dos policiais de plantão no dia. Depois do veredicto do grande júri, o diretor e roteirista Ryan Coogler decidiu levar essa história para as telas do cinema.

O início do filme, com gravações reais do dia da ocorrência, já demonstram a intenção do diretor em criar uma obra com toque documental para retratar os fatos da forma como ocorreram. Para isso, a trama acompanha Oscar (Michael B. Jordan) constantemente, com a intenção de ilustrar seu universo e de sua família: sua filha Tatiana (Ariana Neal), sua namorada Sophina (Melonie Diaz) e sua mãe Wanda (Octavia Spencer).

Além disso, há uma preocupação em explicar o passado de Oscar e tudo pelo que passou até aquela fatídica madrugada. Seu envolvimento com drogas, tanto como usuário quanto traficante, o período que passou preso e sua incrível dificuldade em falar a verdade. No entanto, o roteiro também trabalha com eficiência as qualidades do protagonista, como a dedicação à família, o amor pela filha e a tentativa de agradar sua namorada.

O script, apesar de bem desenvolvido em grande parte da projeção, falha ao não se aprofundar, tanto quanto sua natureza quase documental pedia, nos temas que aborda. Assim, a sutileza com que os preconceitos racial e social são mostrados pode ser facilmente confundida com superficialidade. Por outro lado, a intenção de construir uma atmosfera realista é reforçada pela escolha de um elenco sem astros (o rosto mais conhecido é o de Octavia Spencer). Com isso, em momento algum o espectador “sai” do filme e é o talento dos atores que garante a qualidade da fita.

Melonie Diaz se mostra eficiente como Saphine, a exigente, porém carinhosa namorada de Oscar. A sua reação ao sentir cheiro de maconha no carro do namorado não demonstra raiva, mas preocupação. Octavia Spencer compõe Wanda com maestria. De forma semelhante a Saphine, ela tem como maior preocupação o bem estar do filho, por isso é tão rígida com ele. A cena no hospital é o momento mais tocante de toda a fita.

Apesar do excelente trabalho de seus companheiros de elenco, o grande destaque é Michael B. Jordan. É incrível como o ator consegue transmitir todas as emoções experimentadas por Oscar, seja o desespero por não conseguir um emprego, as singelas brincadeiras com a filha ou a pureza das implicâncias com a irmã, com a mesma desenvoltura. Ele ainda consegue recriar os efeitos do carisma magnético do personagem sobre todos à sua volta, como na cena em que ajuda uma jovem no supermercado.

Apesar de pecar pela falta de ritmo, se tornando maçante em vários momentos, “Fruitvale Station – A Última Parada” atinge seu objetivo primordial: provocar discussões sobre um recente evento chocante na sociedade americana.

David Arrais
@davidarrais

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