Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 02 de fevereiro de 2014

Jovem Aloucada (2012): diretora se perde em longa desinteressante

Primeiro filme da cineasta chilena Marialy Rivas, tragicomédia exibe um emaranhado de ideias confusas na tentativa de enaltecer o sexo e criticar o fanatismo religioso.

JOVEMPautado em uma premissa no mínimo curiosa, este “Jovem Aloucada” critica e satiriza a segurança que a religião proporciona, enaltecendo no processo quem tem coragem para desafiá-la. Parece ser o suficiente para constituir filme interessante, mas infelizmente a direção e o roteiro destroem qualquer esperteza que a narrativa aspira ter. Sem querer investir em nenhum tipo de atrito que não seja o de pele com pele, a cineasta chilena Marialy Rivas desperdiça suas boas ideias, explorando-as desajeitadamente.

O roteiro escrito a dez mãos (o que nunca é um bom sinal) acompanha as peripécias da jovem Daniela (Alicia Rodríguez) que, inspirada em um caso real, é expulsa de sua escola por transar com outro estudante. Extremamente reprimida por sua família evangélica, ela é obrigada a trabalhar em uma emissora de TV cristã, onde conhece Tomás (Felipe Pinto). Embora atraído, o rapaz recusa os prazeres do sexo por causa da religião. Ao mesmo tempo em que conhece novas pessoas, explora novas relações, satisfaz suas curiosidades e eventualmente se descobre bissexual, a moça compartilha fervorosamente seus desejos e fantasias em um blog.

Mistura de “Jovem e Bela” e “Ninfomaníca”, mas sem a elegância destes, o longa aposta em uma linguagem moderna recheada de inserts e animações, mas pobre em ideias. Além de insistir na dinâmica repetitiva de garota-libertária-contra-família-conservadora, o roteiro jamais se preocupa em desenvolver a relação de Daniela com sua mãe (fundamental para o andamento da história), personagem que é sumariamente descartada assim que cumpre suas funções na narrativa. E o que dizer da comparação feita entre sua mãe e sua tia, que não acrescenta em nada à projeção e é só mais uma ideia jogada sem desenvolvimento?

Os personagens secundários até que se esforçam, mas são sempre sabotados pelos roteiristas, que os define sempre por uma ou duas características, incapazes de conferir-lhes nuances. Há que se reconhecer, é claro, que o roteiro não é o único responsável pelo péssimo desenvolvimento das figuras ali presentes. A atriz Alicia Rodriguez é inexpressiva demais para que saibamos o que sua Daniela está sentindo, ao passo que as rápidas cenas onde esboça algum sentimento são breves demais para corrigir esse problema.

Embora atabalhoada, a fotografia possui seus bons momentos. Mesmo excessivamente “alvejada”, o que destoa do tom descontraído que a diretora estreante parece querer adotar, acerta ao enquadrar a protagonista quase sempre em primeiro plano, com pequena profundidade de campo, nas cenas em família. Assim, vê-se de forma orgânica seu alheamento em relação ao meio.

Contando com seus momentos de humor, “Jovem Aloucada” seria um projeto mais bem sucedido se a diretora tivesse o bom senso de reconhecer seu projeto como  uma bobagem-experimentalista. Mas ao levar-se a sério, como mostra a reflexão fraca que encerra a projeção, o longa acaba exibindo-se para o espectador como o que realmente é: um arcabouço feito sob medida para abrigar os exercícios masturbatórios de uma cineasta que mal sabe onde quer chegar.

Bernardo Argollo
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