Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Tarzan 3D – A Evolução da Lenda (2013): a involucão de uma lenda

A maioria dos bons momentos desta nova adaptação do clássico de Burroughs vem de outros filmes sobre o personagem, o que diz muito sobre o resultado final desta produção.

Tarzan3DVamos e convenhamos: uma adaptação de Tarzan que tem como MacGuffin a busca pelo meteoro que dizimou os dinossauros já não começa muito bem. Adicione ainda uma confusa geografia dentro da trama, personagens desinteressantes e um antagonista que mal troca duas palavras com o herói e temos um desastre que mancha o personagem criado por Edgar Rice Burroughs.

Bom, considerando que o longa é escrito e dirigido por Reinhard Klooss, o responsável (aham) por filmes como “Tô de Férias” e “Animais Unidos Jamais Serão Vencidos”, é um milagre que a bomba não tenha sido maior. Aliás, milagre não. O pior foi evitado por conta da “habilidade” do cineasta em copi…, quer dizer, homenagear cenas de adaptações melhor sucedidas.

Obviamente, não é necessário que versões fílmicas sigam passo a passo o original, especialmente no caso de uma obra que já passou por tantas versões diferentes e em todas as mídias possíveis. O que se pede é apenas respeito ao âmago dos personagens clássicos e coerência interna por parte da trama e da narrativa, o que não acontece aqui.

Após a queda do helicóptero que levava seus pais, o jovem J.J. Greystoke é adotado por uma macaca que acabara de perder seu companheiro e filhote. Anos depois, ele encontra e salva a bela Jane Porter, por quem se apaixona. Quando Clayton, o novo dono da empresa Greystoke, ameaça o lar de Tarzan em sua busca por uma fonte de energia, o herói e Jane unem forças para impedir o inescrupuloso empresário.

Transpor a ação para os tempos atuais e transformar Greystoke em uma empresa não é algo inédito ou herético (vide a fantástica série “Sherlock”, que coloca o icônico detetive na Londres do século XXI).  O que incomoda no filme é a inconsistência nas motivações dos personagens, a geografia confusa da trama e das cenas de ação e a falta de algo que justifique qualquer envolvimento emocional do público.

Os bons momentos do filme são aqueles que bebem diretamente de outras produções sobre o herói, como o clássico “Mim Tarzan, você Jane” e a ascensão de Tarzan como rei das selvas. O começo do relacionamento de Tarzan com sua mãe adotiva também é deveras emocionante, mas o desenvolvimento de todo o clã das selvas é atropelado demais e levado para frente por de um acontecimento previsível com um desfecho extremamente forçado.

Visualmente, mesmo com o filme não sendo nenhum primor, ao menos está a anos-luz dos trabalhos anteriores de Klooss. Além disso, o cineasta ainda assume o risco de incluir longos momentos sem diálogos. Mas ao inventar demais ao inserir uma rocambolesca e não solucionada trama sobre meteoros e fontes de energia, ele diminui os personagens (seu maior bem) e confunde suas ações e motivações.

O romance pouco aprofundado entre Tarzan e Jane também não combina muito com o clima moderno imposto à história e faltou também uma maior interação entre o personagem-título e o vilão Clayton, ou ao menos um algo a mais que justificasse o ódio e o sadismo do vilão de colarinho branco.

A história imortal do rei da selvas certamente sobreviverá a esta versão malsucedida. Resta aos fãs da obra de Burroughs esperar que próxima adaptação da franquia, já anunciada pela Warner, faça jus à importância que Tarzan tem para a cultura pop.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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