Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Confissões de Adolescente (2014): uma bagunça quase despudorada

Adaptando série dos anos 90, filme mantém a essência, mas perde-se em demasia de personagens e curta duração.

Confissões de AdolescenteElas não se chamam mais Diana, Bárbara, Natália e Carol. As quatro irmãs inseparáveis agora atendem pelos nomes de Tina, Bianca, Alice e Carina, e podem ser vistas na tela grande. Seus dilemas, porém, permanecem circundando os mesmos temas: o primeiro beijo, a perda da virgindade, o primeiro namorado, a luta por independência etc. “Confissões de Adolescente”, exibida originalmente entre 1994 e 1996 pela TV Cultura, enfim, ganhou um filme, que, além do nome, preserva a essência do conteúdo da série. O demasiado número de personagens e o pouco tempo dedicado a cada um deles, no entanto, transforma tudo em uma grande bagunça.

O enorme apartamento em que três delas vivem (já que Tina mora sozinha), sob as rédeas do pai Paulo (Cássio Gabus Mendes), pode até juntá-las ocasionalmente (o mais correto seria dizer “raramente”). Mas, em geral, elas estão sozinhas, com seus respectivos amigos e namorados, seja assistindo aula, seja curtindo uma festa. Perde-se, assim, quase por completamente, o companheirismo que era uma das grandes marcas do seriado. Ganha-se em assuntos abordados. Mas o melhor seria selecioná-los e debatê-los com mais calma e competência, sem a pressa que acomete este longa.

Não podemos nem dizer que temos uma verdadeira protagonista. Ainda que a Tina de Sophia Abrahão apareça mais, também graças ao desnecessário e deslocado flashback incluído de seu nascente amor por Lucas (Hugo Bonemer), e exerça uma função de liderança entre as garotas, ela mantém-se longe da algazarra aprontada por suas irmãs. Extremamente confusos, o roteiro de Matheus Souza e a edição de Diana Vasconcelos não sabe como lidar com seus múltiplos núcleos, dando a impressão, por diversas vezes, de estarmos diante de um grande trailer, sem tempo para silêncios ou emoções, pronto para contar o desenrolar de uma outra trama.

Logo, o amor secreto de Bianca (Isabella Camero) entrelaça-se com a tentativa de perder a virgindade de Alice (Malu Rodrigues) e com a possibilidade do primeiro namoro da pequena Carina (Clara Tiezzi). A situação seria melhor se personagens coadjuvantes também não ganhassem espaço. Mas ganham, assumindo até pontos de vista, obrigando o roteiro a concluir cada um deles, dando um ar de telenovela teen cada vez maior ao filme.

Mas “Confissões de Adolescente” não vira “Malhação” por alguns motivos. O maior deles é a abordagem ousada que realiza dos temas, falando diretamente com seu público alvo, quase sem pudor. Não se espante, então, se o assunto depilação surgir após uma transa e se uma mãe der um kit de camisinhas para o filho ainda pré-adolescente, alertando sobre a validade do preservativo que se encontra na sua carteira. A direção de Daniel Filho e Cris d’Amato também não poupa nudez nem cenas de sexo de certa intensidade. A sequência, por sinal, é um dos melhores momentos do trabalho da dupla de cineastas.

Mas eles também vacilam, principalmente por tentarem dar um aspecto juvenil e moderninho demais ao filme, abusando das inserções digitais de conversas e perfis em redes sociais. Felizmente, essa escolha ajuda a manter em alta a energia do longa, afastando-se de adentrar em polêmicas que desvirtuariam o objetivo da obra, armadilha em que o seriado da Globo cai diariamente. Nem mesmo o assunto “aborto” vem seguido de lágrimas e lamentações infinitas. O bom humor do longa fazem-nas cessarem rapidamente.

O grande trunfo do filme, porém, é o carisma de suas personagens, especialmente das quatro irmãs e suas respectivas atrizes. Bem resolvidas, elas sabem o que querem e não hesitam em sair em busca. Se Tina conquista por sua maturidade e delicadeza, Bianca faz o mesmo por conta de seu caráter. E se Alice exala sensualidade e falta de vergonha, Carina vem com a esperteza. Além delas, a Juliana de Olívia Torres ganha muito com a naturalidade de sua intérprete, trágica em alguns momentos e atirada em outros. Apenas a Talita de Tammy Di Calafiori incomoda por uma maldade gratuita e caricatural.

Já Cássio Gabus Mendes dá a discrição que precisa ao pai, ocupado demais para lidar com todos os dilemas de suas filhas. O elenco da série dos anos 90 também faz participação especial. Estão lá Maria Mariana, criadora da peça que deu origem ao seriado, Georgiana Góes, Daniele Valente e Deborah Secco, provocando nostalgia em alguns e dando a sua força a um projeto cheio de boas intenções, mas que perde-se em núcleos e assuntos demais, dando a impressão de que deveria voltar para a TV. Essas personagens e os adolescentes atuais merecem!

Darlano Didimo
@rapadura

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