Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 08 de dezembro de 2013

Linha de Frente (2013): Jason Statham em mais um razoável entretenimento

Ator conta com roteiro de Sylvester Stallone para incluir mais um filme de ação em uma carreira intensa e de público alvo cada vez mais fiel.

Linha de FrenteSe seus “concorrentes” do cinema de ação vivem basicamente do passado, por meio de longas que resgatam e satirizam o estilo narrativo dos anos 80 e 90, Jason Statham constrói o seu presente com bem mais eficiência e intensidade. Estrelando uma média de dois filmes por ano, o ator participa de trabalhos solo mais modernos, mais conectados com a evolução do gênero cinematográfico. Estranho, então, perceber que é ninguém menos que Sylvester Stallone quem roteiriza o mais novo longa protagonizado por Statham, o razoável “Linha de Frente”.

Responsável por se recolocar na telona por meio dos roteiros de “Os Mercenários”, “Rocky Balboa” e “Rambo”, Stallone desta vez escreve uma história mais discreta, de poucas explosões e heroísmo quase controlado. A única pessoa a quem Phil Broker (Statham), o personagem principal, deseja salvar é sua filha, a pequena Maddy (Izabela Vidovic). E ele só fará uso de suas habilidades com armas e artes marciais se alguém ousar agredi-la. É o que tenta fazer um grupo de mal encarados da cidade interiorana para qual se mudou, especialmente depois que descobre que Broker causou a morte do filho de um grande traficante.

Simplicidade é a palavra de ordem desta trama enxuta e relativamente bem resolvida. Aqui não temos reviravoltas ou fatos pra lá de surpreendentes. Estamos diante de um filme bastante previsível, mas de ação bem orquestrada e personagens interessantes, que nos fazem querer assisti-lo até o fim, mesmo que o esqueçamos rapidamente ao término da sessão. Stallone aposta a maioria de suas fichas na direção de Gary Fleder e na edição de Padraic McKinley, e a dupla cumpre suas funções sem qualquer louvor, mas longe de comprometer uma história que ainda busca a inserção de um suspense psicológico.

O medo é um dos principais temas do longa. E talvez por isso e por uma semelhança de cenários, o genial “Marcas da Violência”, de David Cronenberg, possa ser lembrado durante a projeção. Mas logo as duas produções se afastam em todos os sentidos quando percebemos que o trabalho de Gary Fleder não é tão competente ao ponto de fazer o medo realmente se instalar na trama. Fica, então, a sensação de uma mera ação cheia de ritmo, de socos, chutes e tiros convincentes, utilizados com esmo, ainda que o ato final traga sequências sem qualquer sentido.

Na ânsia por um encerramento apoteótico, o roteiro provoca reações estúpidas por parte de seu personagens, contradizendo as atitudes bem pensadas que tiveram até então. A trama parece esquecer a objetividade de vilões e mocinhos, especialmente dos primeiros, com motivações que ultrapassam a simples vingança, porque no universo de “Linha de Frente”, os mal encarados são bem mais trágicos do que o usual. No maior dos méritos do filme, os vilões, especialmente as mulheres, demonstram uma instabilidade psicológica atípica, possível pelo intenso uso de drogas, marcando uma relação de imprevisibilidade entre eles.

Kate Bosworth e Winona Ryder, como a irmã e a namorada do vilão principal, são quem mais se destacam nesse retrato pretensamente perturbador do usuário de drogas. Bosworth, principalmente, causa até espantos por sua magreza exagerada e atitudes bruscas, ainda que diante de seu filho. Já James Franco, como o grande antagonista, até nos faz confundir com um herói em sua primeira cena, mas logo mostra-se mais meticuloso do que o normal, configurando-se como um contraponto interessante para a bondade de Jason Statham, especialmente por basear suas maldades em ideias.

Talvez por isso a estrela de Statham surja um pouco mais apagada, cercada por bons atores em bons desempenhos. O maniqueísmo que afeta mais o seu lado do que o de Franco, ressaltado por uma fotografia que exibe em cores fortes e claras o seu amor pela filha única, incomoda. Mas não faltam frases de efeitos e oportunidades para ele demonstrar todo o seu potencial físico. E a maioria dessas cenas funciona como deveria, integrando um filme de ação que cumpre o que promete… e nada mais.

Darlano Didimo
@rapadura

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