Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 29 de outubro de 2013

O Verão da Minha Vida (2013): simpática dramédia familiar

Nat Faxon e Jim Rash dirigem e escrevem filme de temática já bem explorada, mas que conta com carisma particular típico de produções distribuídas pela Fox Searchlight.

O Verão da Minha VidaComédias familiares com uma pitada de drama, às vezes mais intensa, às vezes menos, donas de uma particular simpatia. Nos últimos anos, a Fox Searchlight vem se especializando em distribuir esse tipo de produção. E nessa meta de apoiar o cinema independente norte-americano de bom coração, a companhia já fez o mundo se apaixonar pelas histórias de “Pequena Miss Sunshine”, “Juno” e “500 Dias com Ela”, para citar apenas alguns desses longas. “O Verão da Minha Vida” é mais um desses trabalhos de enorme carisma, apesar de bem menos pretensioso e marcante que os citados.

A trama conta uma parte curta, mas intensa da vida de Duncan (Liam James), um tímido adolescente de 14 anos. Sem poder opinar, ele viaja com a mãe, Pam (Toni Collette), o novo namorado dela, Trent (Steve Carell), e a filha dele,  Steph (Zoe Levin), para a casa de praia do pretendente a padrasto. Apesar do início quieto e retraído, lá ele consegue a liberdade que precisava para poder amadurecer. A amizade com Owen (Sam Rockwell), um rapaz descontraído que trabalha no parque aquático local, é uma das peças fundamentais para que ele torne-se um pouco mais adulto durante o antes indesejado verão praiano.

Escrito e dirigido por Nat Faxon e Jim Rash, responsáveis (ao lado de Alexander Payne) pelo roteiro de “Os Descendentes” (outro filme distribuído pela Fox Searchlight), “O Verão da Minha Vida” não é das peças mais originais. Explora temática já muito bem exposta pelo recente “As Vantagens de ser Invisível”, por “A Lula e a Baleia” e por “Quase Famosos”: a do adolescente em busca de seu espaço. Ainda assim, consegue convencer, principalmente graças a uma simplicidade e delicadeza exalantes que fazem o coração da obra crescer a cada minuto de projeção.

Pouco aprofundando-se na mente de seus personagens, o filme também não os banaliza. Concede-os dilemas comuns, mas verdadeiros. O principal deles, por exemplo, não poderia ser mais previsível: a rivalidade entre enteado e padrasto. Aqui encontra-se também uma das principais falhas do roteiro. Mesmo que ainda tente fazer de Trent um cara para além do vilão sem caráter, que não deseja apenas se aproveitar da mãe alheia, a trama não consegue fugir do estereótipo. O mesmo pode-se comentar sobre o retrato feito das adolescentes da cidade: fúteis demais para acreditar.

A verossimilhança de seu personagem principal, porém, compensa. Estabelecendo novas relações com a naturalidade que marca a direção de Faxon e Rash, Duncan permite-se fugir de seu casulo, livrando-se (pelo menos temporariamente) da solidão que o maltratava. E elas acontecem simultaneamente. Primeiro, ele conhece a filha da vizinha, de nome Susanna (AnnaSophia Robb), que parece entender o mundo particular em que ele vive. O encontro acaba introduzindo um previsível, mas acertado romance na história.

Pouco depois, surge Owen e sua piração que contrasta perfeitamente com a seriedade de Duncan. Na relação melhor definida pelo roteiro, a dupla acaba virando grandes amigos, apesar da diferença de idade, dando ao filme momentos de descontração conquistadora. É impossível não se divertir na festa de despedida de outro hilário personagem do parque aquático.  Não pode-se esquecer também a complicada relação mãe-filho que o filme trata tão bem. A confiança, que antes parecia estabelecida, é desconstruída por conflitos para ser recuperada e reforçada durante o verão, fazendo-os até mudar de assento no carro.

Com um longo e talentoso elenco, que conta ainda com Amanda Peet e Maya Rudolph, o filme sustenta-se na discrição de Liam James, na sobriedade da sempre competente Toni Collette e na energia de Allison Janney e, principalmente, de Sam Rockwell, dois dos ótimos coadjuvantes da produção. Embalados por um trilha sonora tão reflexiva quanto empolgante, eles ajudam a contar uma história atemporal, que não cansa de ser usada e abusada por roteiristas e diretores. Mas que são sempre bem-vindas quando contam com a sensibilidade e o humor apurados como o de Nat Faxon e Jim Rash.

Darlano Didimo
@rapadura

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