Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 29 de outubro de 2013

Bastardos (2012): uma narrativa claustrofóbica e perversa

O filme não se mantém constante durante todo o tempo, mas consegue apresentar cenas belas construídas na depravação dos personagens.

Bastardos“Bastardos”, de Claire Denis (“Chocolate”), é um filme claustrofóbico, pessimista e sem esperanças. O longa se inicia com o suicídio do marido de Sandra (Julie Batalie), mulher que também acaba perdendo a filha (de uma maneira mais emocional) e se encontra à beira da falência da empresa da família. Ela culpa Edouard Laporte (Michel Subor), um bem sucedido homem de negócios, pelo infortúnio da família, enquanto esconde uma história muito mais sinistra. Em seu momento de desespero, Sandra pede ajuda a seu irmão, Marco Silvestri (Vincent Lindon), capitão de um navio.

Marco passa então a conduzir a história, buscando ele mesmo tentar resolver todos os problemas que envolvem a sua família, mesmo que ele tenha se desligado completamente dela anteriormente. Sua escolha de profissão pode até ter a ver com essa vontade de se afastar de seus laços de sangue e, assim, ter um desprendimento emocional. A sua busca acaba o levando a se envolver com Raphaelle (Chiara Mastroianni), esposa (mas com o papel de amante) de Edouard.

Claire Denis utiliza a câmera de tal forma que o filme parece estar quase o tempo todo totalmente fechado, focando em pequenos detalhes, gestos e movimentos, nas expressões dos personagens. É difícil sentirmos o envolvimento dos personagens com o meio em que estão, pois a câmera não nos permite e assim nos impede de ter uma visão melhor do ambiente e até mesmo do que está acontecendo. A câmera nos prende, nos restringe.

O mesmo desespero que os personagens sentem ao longo do filme acaba nos acometendo também, devido à falta de liberdade e claustrofobia provocadas pelo enquadramento da câmera e a intensidade do drama que permeia esse tipo de plano bem fechado no rosto dos protagonistas. Falta-nos ar durante praticamente todos os minutos do longa e, por causa desse plano constantemente fechado, os sentimentos que experimentamos junto com os personagens parecem se tornar muito mais intensos do que são.

Mas “Bastardos” também se torna um filme claustrofóbico devido à falta de muitos diálogos, contando principalmente com as relações interpessoais para o deslanche do enredo. Personagens aparecem na tela sem apresentações ou explicações, informações são omitidas, cenas em flashback são introduzidas a esmo e só mesmo ao final da projeção conseguimos compreender o que elas significam. O espectador é refém dessa prisão do filme o tempo inteiro.

Claire Denis, apesar da angústia iminente em suas cenas, consegue conduzir a sua câmera de forma muito sutil, filmando cenas fortes de forma tranquila e até elegante. Ela é uma observadora. E, mesmo assim, existe um sentimento crescente em sua obra de que pode haver algo muito mais pesado por trás de tudo e que nos leva a acompanhar a história até o fim. A cena final é particularmente bonita em toda a sua depravação, fazendo um duo fantástico entre imagem e sonoridade.

Quando Justine (Lola Créton), filha de Sandra, se encontra em um carro com mais duas pessoas (estas envolvidas na história nefasta que enlaça Justine), se torna marcante pela intensidade das imagens combinadas à música eletro punk, nos envolvendo totalmente como se estivéssemos realmente  dentro do filme. É de tirar o fôlego.

Adele Lazarin
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