Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Conexão Perigosa (2013): novo trabalho de Robert Luketic não impressiona

Premissa nada original é desenvolvida em roteiro genérico.

Conexão PerigosaO cinema, como toda forma de arte, é um reflexo de seu tempo. Com o crescimento de empresas de tecnologia da informação, programação digital e desenvolvimento, a quantidade de produções que exploram essas corporações vem aumentando nos últimos anos. Isso explica “Conexão Perigosa”, o novo trabalho de Robert Luketic , com roteiro de Barry Levy e Jason Hall, a partir do romance de Joseph Finder.

Adam Cassidy (Liam Hemsworth) é um jovem ambicioso que trabalha na Wyatt Corp, uma empresa de desenvolvimento de software. Depois de uma desastrosa apresentação de um programa para seu chefe Nicholas Wyatt (Gary Oldman), ele e seus colegas de equipe são demitidos. Após tentar dar um golpe no cartão de crédito corporativo da empresa, ele é recrutado por Wyatt como espião. Sua missão é se infiltrar na Eikon, empresa de do antigo desafeto de Wyatt, Jock Goddard (Harrison Ford), e roubar o protótipo do celular Occura.

A partir daí, acompanhamos Adam na sua tentativa de atingir seu objetivo, enquanto se envolve com Emma (Amber Heard), tem problemas com o pai (Richard Dreyfuss) e é observado de perto por Meachum (Julian McMahon) e Judith (Embeth Davidtz). E em sua “ascensão” na Eikon, ele também se afasta dos colegas Kevin (Lucas Till) e Allison (Angela Sarafyan).

A história se perde ao tentar explorar as várias possibilidades da trama. Em alguns momentos, o longa se aproxima do drama familiar, em outros passa pelo thriller de espionagem e flerta com o drama policial. Porém, essa indecisão faz com que nenhuma delas funcione. Os personagens não têm profundidade suficiente para fazer com que o espectador se importe com o que acontece na tela.

Um dos acertos do roteiro é explorar a relação entre Wyatt e Goddard, que se assemelha à mítica rivalidade entre Bill Gates e Steve Jobs. Entretanto, essa semelhança é sutil a ponto de impedir que haja uma relação direta como Wyatt/Jobs ou Goddard/Gates. O confronto áspero entre eles durante o almoço em um restaurante de luxo é o ponto alto do longa.

As atuações são comprometidas pelo script, que não dá muito material com que os atores possam trabalhar. Além disso, fica visível a falta de carisma de Liam Hemsworth, que se mostra incapaz (pelo menos por enquanto) de segurar um filme desse porte. A relação entre Kevin e Allison não tem a menor credibilidade, o que torna a cena de ciúme no bar ainda mais constrangedora. Julian McMohan e Embeth Davidtz estão igualmente inertes, sempre com a mesma expressão.

Gary Oldman, bastante à vontade, é um dos poucos que parece pelo menos se divertir com o papel. Além de alguns trejeitos caricatos, ele acentua o seu sotaque britânico como poucas vezes. Harrison Ford faz o que pode com o que lhe foi dado. Jock Goddard, apesar de ameaçador e aparentemente inteligente, não tem profundidade. A participação de Richard Dreyfuss é pequena, porém sempre convincente.

Apesar de alguns bons momentos, “Conexão Perigosa” é uma obra irregular, que desperdiça um ótimo elenco com um roteiro que não sabe que direção tomar.

David Arrais
@davidarrais

Compartilhe