Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de outubro de 2013

Rota de Fuga (2013): Stallone e Schwarzenegger mais modernos

Mikael Hafstrom comanda a dupla de brutamontes em filme com mais ideias do que tiros.

Rota de FugaNum mundo em que até James Bond teve de se modernizar para voltar a ser aceito pelo grande público (devido ao imenso sucesso das aventuras de Jason Bourne), por que Sylvester Stallone, Arnold  Schwarzenegger e seus músculos não poderiam fazer o mesmo? Pois fizeram, com este “Rota de Fuga”. Bem mais contidos no números de tiros disparados (apesar dos socos ainda virem em razoável quantidade), a dupla retorna junta à tela grande com um pouco mais de inteligência, mesmo que ainda não seja no nível que vai colocá-los como referências do recente cinema de ação.

Quem protagoniza a história é Stallone, como Ray Breslin, um especialista em testar prisões de segurança máxima nos EUA. Contratado pelo Governo Federal, ele finge ser um preso temporariamente para descobrir as brechas de cada penitenciária. Até que um novo serviço, encomendado (teoricamente) pela CIA, surge, levando-o para a chamada “Tumba”, uma prisão secreta de ousada estrutura. Lá, no entanto, ele descobre que está sendo enganado e que vai precisar da ajuda dos novos amigos, incluindo de Rottmayer (Schwarzenegger), para escapar e derrotar as intenções do criador da penitenciária, o carrasco Hobbes (Jim Caviezel).

Lembrando a ideia original da série “Prison Break”, o filme não perde tempo para instalar a ação. Iniciada com a fuga de Breslin de mais uma prisão de segurança máxima, dentre as várias das quais fugiu, a trama já dá ideia de que dessa vez Stallone vai ter de pensar um pouco mais antes de agir. O plano, apesar de não ser dos mais brilhantes, convence e permite uma noção do que veremos adiante: uma história esperta, de poucos furos, que serve como passatempo, mas da qual não podem ser feitas exigências – fruto de um roteiro pouco original que ainda precisa satisfazer o grande público com situações clichês. Quem o assina são Miles Chapman e Jason Keller.

E eles merecem crédito por tornarem crível uma ideia pretensiosa, mas que sabe seus limites de verossimilhança. Revelar a “essência” da prisão estragaria a experiência nos cinemas, mas vale destacar a boa surpresa que temos quando a descobrimos. A trama que acontece dentro dela traz elementos perspicazes suficientes para manter-nos curiosos, seja por guardar bem seus segredos, seja por construir uma boa história policial. O problema está em sua estrutura piegas, sem qualquer reviravolta e com desfecho mais do que previsível, e na essência de seus personagens, maniqueístas demais.

Ver Jim Caviezel encarnar o vilão, quando não passa de um bem sucedido engenheiro, é desconcertante. A cada cena, uma frase de efeito das mais nojentas precisa ser dita, assim como uma expressão que condiz com a arrogância dele. Sua rivalidade com o Breslin de Stallone não é bem construída. O mesmo pode-se dizer da tentativa de transformar os brutamontes em mocinhos por meio de trágicos contos familiares. O roteiro é enfadonho também quando exibe o núcleo da empresa em que Breslin trabalha, quebrando um ritmo que já não é dos mais invejáveis.

A verdade é que o trabalho de direção de Mikael Hafstrom, de “O Ritual”, é o grande ponto fraco do longa. Povoado por lugares comuns, ele não aproveita todo o potencial visual da trama. Os flashbacks acontecem quando e como os esperamos. Sequências dentro da “Tumba” tornam-se tão repetitivas que a impressão é de que estamos assistindo à mesma cena novamente. E quando a tão esperada sequência de fuga final chega, não nos impressionamos. Muito pelo contrário: nos decepcionamos. Com tiros e mortes gratuitos, retornamos ao padrão de filme que Stallone e Schwarzenegger lançaram no século passado.

Por falar no ex-governador da Califórnia, ele aceita a condição de coadjuvante e de ser pensante, saindo-se até melhor do que o colega em cenas de diálogos. Mas Stallone não está mal. Lidera com brutalidade, algum coração e um pouco de cérebro uma equipe que conta ainda com Amy Ryan, Sam Neill e 50 Cent. Adaptando-se seus trabalhos aos tempos modernos, ele, se não gera respeito, consegue convencer, abrindo suas possibilidades para ganhar uma geração sedenta por um pouco mais de ideia e inteligência.

Darlano Didimo
@rapadura

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