Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 30 de setembro de 2013

R.I.P.D. – Agentes do Além (2013): sobrenaturalmente sem graça

Basicamente, o longa é uma releitura de "Homens de Preto", mas sem nada do carisma que fez aquela produção um sucesso. E trocando alienígenas por defuntos alérgicos a comida indiana. Sério.

Interrompa se já tiver ouvido essa antes: jovem policial metido a sabe tudo é recrutado para ser parceiro de um experiente e solitário agente de uma organização secreta cuja função é preservar secretamente a Terra contra a ação de seres extranormais. Mesmo com os dois novos companheiros não se dando bem inicialmente, aos poucos uma relação de respeito mútuo passa a surgir.

Sim, essa é a exata premissa de “MIB – Homens de Preto”, mas também se aplica integralmente a este “R.I.P.D. – Agentes do Além”, com algumas pequenas diferenças. Troque alienígenas por desmortos que teimam em permanecer no nosso mundo, um visual inspirado por efeitos de terceira, personagens carismáticos por clichês ambulantes e um elenco cheio de química por atores que – em sua maioria – parecem desconfortáveis em seus papéis e voilá!

Dirigido pelo geralmente eficiente Robert Schwentke (“Te Amarei Para Sempre”, “Red – Aposentados e Perigosos”), o longa é baseado na HQ homônima publicada pela Dark Horse nos EUA, com o roteiro de Phil Hay e Matt Manfredi apostando em um clima de comédia de ação, algo que a dupla já havia feito no mediano “O Terno de Dois Bilhões de Dólares”. Aliás, todo o clima da produção parece mirar no mediano e só consegue acertar no fracasso, apostando sempre em clichês batidos e repetições de fórmulas ad nauseum.

Na trama, o detetive Nick (Ryan Reynolds) é traído e morto pelo seu parceiro Hayes (Kevin Bacon) após querer dar para trás em um esquema que os dois estavam envolvidos. Considerando suas habilidades e necessidade de expiar pecados antes de ir para o céu ou para o inferno, ele é recrutado pelo R.I.P.D. para caçar desmortos, sendo alocado para trabalhar ao lado do irritadiço cowboy Roy (Jeff Bridges). Logo em seus primeiros dias juntos, a dupla acaba trombando com uma conspiração que quer destruir o mundo.

Ao contrário de “MIB”, que dedicou algum tempo para o desenvolvimento da própria agência e de seu universo, tudo em “R.I.P.D.” é corrido, não havendo nenhuma explanação sobre como aquele mundo funciona, com o público basicamente tendo de engolir que comida indiana é capaz de revelar a natureza monstruosa dos falecidos.

O conceito dos corpos trocados é até interessante, mas pouco explorado, bem como os demais membros do departamento, todos falecidos em épocas diferentes e – presume-se – com personalidades distintas e métodos de ação diversos. Digo “presume-se” pois nada disso é mostrado na fita além de pessoas com figurinos extemporâneos correndo pra lá e pra cá na sede da organização.

Ryan Reynolds aparentemente é um para-raio para adaptações fracassadas de HQs. Depois de “Blade Trinity”, “X-Men Origens – Wolverine” e “Lanterna Verde”, esta é mais uma roubada na qual o ator se envolve. Como protagonista, Reynolds está apático em cena, sem conseguir acertar uma tirada cômica ou mesmo convencer no romance entre o seu Nick e a bela Julia (Stephanie Szostak).

Além disso, o galã se mostra completamente desentrosado com Jeff Bridges, com o veterano se contentando com uma atuação preguiçosa, com o figurino e o sotaque sendo seus únicos diferenciais em cena, algo desapontador considerando o talento de Bridges e sua habitual força na tela, vide seus trabalhos em “Bravura Indômita” e no clássico “O Grande Lebowski”.

Os melhores atores em cena são Kevin Bacon e Mary-Louise Parker. Bacon imprime aquela energia de sempre como o corrupto Hayes e rouba a cena toda vez que aparece (não que seja muito difícil), enquanto a bela Parker, em suas curtas intervenções como a chefe do R.I.P.D., consegue resgatar alguma coisa de Jeff Bridges além de tédio.

Apesar de Robert Schwentke já ter dirigido filmes com temáticas extravagantes, aqui ele se encontra completamente perdido. Se alguém tomar uma dose de vodca toda vez que o diretor lança mão de um zoom, sairá do cinema em coma alcoólico. Aparentemente, este foi o único recurso de câmera (além do – surpresa – contrazoom) que Schwentke lembrou-se de usar durante as filmagens.

Além disso, o design de produção é extremamente pobre, não aproveitando os elementos sobrenaturais da premissa e despejando monstros mal desenhados na tela por meio de efeitos digitais que empalidecem até mesmo perante o primeiro “MIB”. Um dos maiores fracassos de 2013, a única qualidade de “R.I.P.D. – Agentes do Além” é o fato de ser curto.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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