Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Bling Ring (2013): a cultura da inveja e da futilidade por Sofia Coppola

Perdida entre o tom de crítica social e de sarcasmo, diretora realiza filme mais pop e mais fraco de sua carreira.

Bling RingCriada no meio cinematográfico de Hollywood, cercada de muita riqueza, egos inflados e futilidade, Sofia Coppola parece não conseguir se livrar desse mundo nos filmes que realiza. Até mesmo quando deu vida a uma obra de época, foi incapaz de deixar a aristocracia de lado. Ainda assim, seu jeito sublime de dirigir e escrever a ajudou a deixar sua marca em um meio em que até as mulheres precisam fazer trabalhos “masculinos” para serem premiadas. Mas, se impressionou, há dez anos, com o magnífico “Encontros e Desencontros”, não passou do respeitável com “Maria Antonieta” e “Um Lugar Qualquer”. Com “Bling Ring – A Gangue de Hollywood”, Coppola dá continuidade a curva descendente qualificatória de sua filmografia, atingindo seu ponto mais baixo, seu primeiro filme realmente desnecessário.

Adaptado do artigo “The Suspect Wore Louboutins”, de Nancy Jo Sales, inspirado em uma história real, a trama tem início com uma dupla de estudantes, Rebecca (Katie Chang) e Mark (Israel Broussard), que decide ter como passatempo furtar pertences de carros abertos e invadir casas de famosos em Los Angeles. Com o tempo e com o devido crescimento do grupo, a segunda ação se torna um vício, “premiando” celebridades como Paris Hilton, Orlando Bloom e Audrina Patridge. Regadas a muita droga, bebida e agora roupas, sapatos e bolsas alheias, as vidas desses jovens parece não ter qualquer limite plausível, a não ser se imposto por alguém além de seus amigos e pais.

Perdida. Essa é a melhor palavra para definir a direção de Sofia Coppola em “Bling Ring”. Crítica social discreta e inteligente parece ser sua meta com o filme nos primeiros minutos, além do objetivo que melhor combina com o seu estilo de filmar. Mas à medida que o filme caminha, percebemos que estamos assistindo a um longa teen como qualquer outro, de pouco ou nenhum conteúdo crítico, com a diferença de possuir um ritmo mais morno do que o usual. Sem efetuar julgamentos ou introspecções (a não ser por raras sequências em que o silêncio se faz presente), Coppola funciona muito mais como uma documentarista que somente exibe os feitos de seus personagens, soando ainda bastante repetitiva.

Torna-se enfadonho, ainda no segundo ato, acompanhar roubo atrás de roubo, adentrar mansão após mansão, sem qualquer novidade além dos objetos encontrados, de joias caríssimas a armas de fogo. Não é permitido nem mesmo que o espectador respire entre invasões, impossibilitando qualquer aproximação do público com os personagens. E quando o terceiro ato se inicia, Coppola ainda tenta inserir um tom sarcástico mais explícito, que em nada condiz com o conteúdo apresentado até então. As risadas podem até surgir, especialmente pelos absurdos e ironias ditos, mas pouco contribuem para tornar marcante a adaptação de ações tão absurdas.

A impressão é que a diretora não se definiu por um tom exato para contar sua história, perdendo-se entre o sublime que tão bem defendeu até aqui, e que justifica o ritmo mais pausado da narrativa, e o sarcasmo que ajuda a definir a total falta de desenvolvimento de personagens do filme. Exibindo a futilidade como essência dos jovens de Los Angeles, o roteiro de Coppola mantém-se distante de todos, jamais buscando alguma justificativa para tal forma de comportamento (fazendo piadas – com pouco sucesso – até quando a personagem de Leslie Mann, a mãe, surge), e não conseguindo fugir dos estereótipos.

O roteiro confunde-se também em determinar seu protagonista. A Rebecca de Katie Chang, a verdadeira líder e incentivadora da gangue, recebe as principais atenções em um primeiro momento. Seu fiel escudeiro, o Mark de Israel Broussard, ganha mais tempo em tela posteriormente. Falhando em definir a relação de dependência dessa nascente amizade (por mais que a homossexualidade do rapaz tenha a discrição que precisa), resta dar a Emma Watson e sua cínica Nicki espaço para brilhar, proporcionando os momentos mais cômicos do longa, e os melhores, certamente.

A montagem confusa é realmente um grande problema de “Bling Ring” (os depoimentos pouco acrescentam à história), mas são o roteiro raso e a direção indefinida de Sofia Coppola as principais pedras no sapato do filme. Na verdade, Coppola não parece o nome mais apropriado para o projeto. Um cineasta de ironia mais lapidada poderia dar a história uma qualidade bem melhor do que a de promissora.

Darlano Didimo
@rapadura

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