Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 02 de setembro de 2013

O Casamento do Ano (2013): uma razoável reunião de grandes talentos

Justin Zackham consegue unir grandes nomes do cinema norte-americano, concede-os liberdade para se divertirem, mas é incapaz de entregar um filme à altura da carreira que preservam.

O Casamento do AnoRobert De Niro, Susan Sarandon, Diane Keaton e Robin Williams. Qual projeto faria o talentoso e premiado (são nada menos do que cinco Oscars) quarteto unir-se? Um bastante promissor, para dizer o mínimo, pensamos num primeiro momento. Mas não. “O Casamento do Ano” não traz nada de especial. Soa, na verdade, como uma oportunidade de diversão para todos do elenco e porque não de ganhar dinheiro sem efetuar grandes esforços. Afinal, se os bons dramas já não mais surgem com tanta frequência na carreira, o jeito pode ser fazer comédia, mesmo que qualidade duvidosa.

A trama gira em torno de Alejandro (Ben Barnes) e Missy (Amanda Seyfried), um jovem casal prestes a se casar. Adotado nos EUA por Don (De Niro) e Ellie (Keaton), com a ajuda da madrasta Bebe (Sarandon), o rapaz colombiano está assustado com a chegada da religiosa mãe biológica, Madonna (Patricia Rae), para o casamento. Tem medo que a falta de respeito a tradições por parte de sua família de criação possa assustá-la. Para tanto, é acordado, mas não sem desentendimentos, que Don e Ellie ainda fingirão estar juntos, ocasionando uma série de situações hilárias em duas diferentes línguas.

O responsável por domar tantos egos do elenco (temos mais uma série de bons atores jovens de Hollywood) foi Justin Zackham, o diretor e roteirista, que também já viu Jack Nicholson e Morgan Freeman interpretarem personagens criados por ele no mediano “Antes de Partir”. Desta vez, porém, ele segue uma linha mais cômica, sem grandes reflexões ou nostalgias, apesar de ainda inserir um comedido e acertado drama. Mas o ponto alto do filme são realmente sequências particulares em que o script permite seus ótimos atores de interagirem com enorme naturalidade.

É gratificante assistir Robert De Niro, Diane Keaton e Susan Sarandon formarem um triângulo amoroso temporário em que a antiga esposa traída vira esposa de mentira e amante por exatos quarenta minutos (algo que o personagem de De Niro faz questão de ressaltar). A sensação de que o trio está se divertindo é evidente, possível graças ao talento de todos e a um texto pouco amarrado que permite improvisações, exalando um alto astral transbordante e tornando a química entre eles ainda mais convincente. Sem levantar bandeiras, o filme ainda exibe uma família moderna que aceita diferenças, fala sobre sexo abertamente e que não guarda rancores de adultérios passados, por exemplo.

Outra atriz que se aproveita do mise-en-scène brincalhão de Zackham é Katherine Heigl, como Lyla, a filha mais velha que odeia bebês e que acaba de deixar o marido. É também através dela que o roteiro busca emocionar com admirável parcimônia ao trazer dramas universais de uma moça recém-separada que estava em luta para engravidar e que não possui o melhor dos relacionamentos com o pai. A cena em que os dois conversam sobre um trampolim é de uma sensibilidade ímpar em um filme que escorrega feio na comédia.

Além de não fazer uma transição apropriada entre os gêneros, Justin Zackham opta por um humor ora bobo demais ora escrachado demais, sustentado por uma premissa bastante questionável, a qual desagua nas piores respostas em seu desfecho. Logo, não se impressione se o assunto virgindade masculina, possível graças ao personagem de Topher Grace, for rapidamente resolvido pelo surgimento de uma sul-americana, irmã do rapaz colombiano, bastante pervertida, que não hesita em ficar nua  ao tomar banho de lago e querer fazer amor assim que o conhece.

Sem conseguir sair desse e de outros clichês que cria (não há qualquer graça e utilidade nas piadas e questionamentos do padre Moinighan, de Robin Williams, muito menos no preconceito e na recém-falência do pais da noiva), o filme vacila também no desenvolvimento de seus protagonistas. Amanda Seyfried e Ben Barnes são quase esquecidos pela trama e viram meros e desinteressantes coadjuvantes ao longo da narrativa. Não pode deixar de ser citado o erro na escolha de Barnes para o papel. A seleção de um ator que tivesse um espanhol mais fluente traria uma verossimilhança a mais para a história.

Perdendo a mão de vez na comédia no ato final, Justin Zackham ainda apresenta mais tapas,descoberta de antigos segredos, casório às escondidas, quase afogamento e um outro pedido de casamento. E tudo em questão de uma dezena de minutos, encerrando “O Casamento do Ano” como uma grande confusão que representa bem a essência do longa. Mas se a qualidade de seu trabalho não é dos melhores, o cineasta pode ficar satisfeito em ter conseguido reunir algumas lendas do cinema norte-americano e ainda fazê-los se divertir em cena.

Darlano Didimo
@rapadura

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