Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Percy Jackson e o Mar de Monstros (2013): franquia morre na praia

Esta segunda aventura de Percy Jackson até que provoca alguns sorrisos de canto de lábio, mas jamais engrena verdadeiramente, desperdiçando os interessantes conceitos de seu universo em uma fita morna.

Percy-Jackson-e-o-Mar-de-Monstros-poster-brSe existe um adjetivo perfeitamente adequado para descrever este “Percy Jackson e o Mar de Monstros” é “medíocre”, resultado deveras frustrante quando consideramos que a trama tem a ideia de atualizar os mitos gregos para o nosso mundo, um conceito fenomenal, principalmente quando lembramos que muito dos super-heróis que fazem tanto sucesso hoje em dia junto ao público e à crítica são derivados indiretos (ou mesmo diretos) desses mesmos mitos.

Esta continuação do menos insosso “Percy Jackson e o Ladrão de Raios” não exige do público muito prévio conhecimento da série de livros ou mesmo da fita anterior, com o roteiro de Marc Guggenheim (“Lanterna Verde”) se encarregando de expor o que aconteceu anteriormente, com nosso herói sendo um meio-sangue, filho do deus Poseidon com uma mulher mortal.

Essa raça mestiça é levada para o Acampamento Meio-Sangue, onde são protegidos dos inimigos dos olimpianos por um campo de força instituído por Zeus, após a morte de uma de suas filhas. Em um período de relativa calma, Percy (Logan Lerman) se sente pouco apreciado, não tendo alcançado muita coisa desde que salvou o Olimpo em sua aventura anterior.

Para completar, Percy descobre que possui um meio irmão ciclope, o atrapalhado Tyson (Douglas Smith), que parece receber um pouco mais de atenção do atenção do pai que ele. Eis que ressurge Luke (Jake Abel), adversário do jovem herói que destrói a barreira de proteção do acampamento e deixa os meio-sangues expostos, tencionando reviver o maligno titã Cronos.

Percy, Tyson e seus amigos Annabeth (Alexandra Daddario) e Grover (Brandon T. Jackson) saem por conta própria rumo ao temível mar de monstros para recuperar o lendário velocino de ouro, objeto que restabelecerá o campo de força, mas que também pode trazer Cronos de volta à vida, o que os coloca em rota de colisão com Luke e seus asseclas.

Com tantos plots e subplots para serem explorados em 100 minutos de projeção, obviamente um dos grandes defeitos da fita é sua superficialidade. Detalhes que deveriam ser mais chocantes, como a traição de alguns meio-sangues ou mesmo a relação entre Luke e seu pai, Hermes (Nathan Fillion), são simplesmente jogados ao léu, com a película preferindo explorar o preconceito de Annabeth para com Tyson, algo que obviamente será resolvido da maneira mais previsível possível.

Agravando esse problema de prioridades, pouco nos importamos com o próprio Percy. Isso por conta da interpretação sem energia ou carisma de Logan Lerman. Como “As Vantagens de Ser Invisível” provou, o rapaz é um bom ator, mas aqui se encontra extremamente letárgico, o que prejudica boa parte do elenco, cujos personagens dependem de interações com o protagonista, e até nossa preocupação com a própria busca do herói. E se Lerman está lento, o Luke de Jake Abel está praticamente em coma, com o vilão não despertando raiva ou simpatia, apenas… existindo.

E se o Acampamento Meio-Sangue em si está longe de ser tão interessante quanto a Hogwarts da saga “Harry Potter” (e a comparação aqui é inevitável, bem como com a sequência da Carruagem da Danação e o Noitebus Andante do bruxo inglês), o universo no qual a história se insere, mesmo pontualmente bobo, é responsável pelos melhores momentos da fita, como o milagre reverso com o vinho de Dionísio (uma ponta rápida de Stanley Tucci) e o fato de Hermes ser dono da UPS. Até mesmo o disfarce dos objetos divinos como produtos de comércio mundanos é uma bela sacada.

Ainda há algumas boas piadas para os fãs de Joss Whedon, como ver Anthony Head (o Giles de “Buffy – A Caça-Vampiros”) informando novamente um herói de uma profecia e Nathan Fillion falando sobre uma ótima série cancelada após uma temporada (algo que deve ter doído nos fãs de “Firefly”), mas estas são muito localizadas para um público específico para contarem como um ponto relevante.

A direção de arte se mostra pouco inspirada, especialmente no acampamento, que é extremamente sem graça. As criaturas estão apenas OK, assim como os efeitos especiais, embora ambos mostrem alguma melhora durante a curtíssima batalha final. A trilha sonora, composta por Andrew Lockington, chega a doer de tão genérica e não ficaria estranha em um desses filmes de cachorro exibidos na televisão aberta durante a tarde.

No fim de tudo, a direção frouxa de Thor Freudenthal, incapaz de tirar o melhor de seu elenco, dar um tom mais forte à produção, dar um visual mais único ou ao menos orquestrar uma cena de ação empolgante sequer foi a proverbial pá de cal nessa franquia que termina em um cliffhanger para uma sequência que, provavelmente, jamais virá.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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