Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 06 de agosto de 2013

Os Smurfs 2 (2013): sequência desperdiça seu elenco e força da franquia

A despeito do carisma dos pequenos seres azuis e dos bons atores presentes no elenco, esta continuação simplesmente não decola, com um roteiro sem graça sabotando todo o seu potencial.

Aqueles que foram crianças nos anos oitenta e noventa provavelmente trazem consigo em suas memórias os pequenos e azulados Smurfs, as criaturinhas com aproximadamente três maçãs de altura, nomes designados por suas personalidades e que adoram cantarolar “La-la-la-la-la-la-la-la-la-la”. Criados pelo cartunista belga Peyo, os baixinhos cativaram gerações de crianças e adultos de três gerações por todo o mundo, sendo que o cinema tem sido usado para apresentá-los aos mais novos, através do longa de 2011 intitulado, obviamente, de “Os Smurfs”.

Após o sucesso comercial daquela fita, que misturava animação em CG e filmagem live-action (com atores), os produtores da Sony Pictures reuniram a equipe responsável pela película para a continuação, com o também óbvio título “Os Smurfs 2”. O que não é tão elementar é como foram necessários cinco roteiristas para cozinharem um script tão pré-pronto quanto o desta continuação, comandada, assim como o original, por Raja Gosnell.

O roteiro de J. David Stem, David N. Weiss, Jay Scherick, David Ronn e Karey Kirkpatrick situa a ação agora em território estrangeiro (leia-se, fora dos EUA), assim como aconteceu no terrível “Garfield 2”. De todo modo, ao menos a equipe preparou o guião a partir de uma história já estabelecida nos antigos desenhos da franquia, que é o fato de Smurfette ter sido criada pelo mago Gargamel (Hank Azaria) em um de seus antigos planos para capturar os Smurfs, sendo ela salva pelo Papai Smurf e integrada ao grupo.

Corta para o presente, onde o vilão, preso em nosso mundo, tornou-se um mágico famoso, com shows no melhor estilo David Cooperfield. Apesar disso, ele ainda não abandonou sua obsessão em capturar os pequenos azuis. Criando um casal de Danadinhos, seres cinzentos parecidos com os Smurfs, ele captura uma fragilizada Smurfette para que ela lhe revele a receita para criar Smurfs de verdade, cujo tom azulado alimenta sua magia.

Partem então ao resgate o Papai Smurf, acompanhado (acidentalmente) pelos Smurfs Vaidoso, Rabugento e Desastrado, recrutando no caminho seus amigos humanos Patrick (Neil Patrick Harris) e Grace (Jayma Mays), agora casados e com um filho, Azul (Jacob Tremblay), embora Patrick tenha também de lidar com seus problemas emocionais junto ao seu atrapalhado e bonachão padrasto, Victor (Brendan Gleeson).

É um roteiro extremamente inchado, que usa uma fórmula já conhecida de colocar dois blocos de personagens – humanos e criaturas -, com plots que se espelham. No entanto, a estrutura não é o problema aqui, mas sim a falta de ritmo do filme e a fraqueza do texto, que jamais supera seus próprios clichês e não apresenta gags ou piadas dignas de nota.

A exceção de Smurfette, que é até bem trabalhada pelo longa em um arco deveras previsível e sem muita graça, os demais Smurfs tem participações curtas, ficando praticamente reduzidos a meros veículos para celebridades lhes emprestarem suas vozes – embora Rabugento até consiga algum destaque com sua mudança de atitudes. Também vale destacar os trabalhos vocais de Katy Perry e Christina Ricci como a smurf loira e a danadinha Vexy, respectivamente, com as duas atrizes compondo um belo entrosamento entre as duas personagens.

Já os atores humanos se mostram engessados por um texto que pouco explora seus potenciais cômicos. O maior exemplo disso é Neil Patrick Harris, certamente um dos melhores artistas de sua geração, mas que aqui surge nulificado em cena, tendo seu melhor momento em uma piada em que brinca com a dificuldade de se fazer um simples bolo em uma festa de criança, mas mesmo ali, quase não vemos traço de sua habitual energia.

As interações de Harris com Brendan Gleeson também não se mostram muito melhores, com o veterano ator também não tendo muito com o que trabalhar. Jayma Mays se mostra bonitinha em cena e só. Quem se sai melhor dentre os atores de carne-e-osso é Hank Azaria que, mesmo contracenando com o nada durante boa parte de sua participação, consegue mostrar que está se divertindo a valer com sua exagerada caracterização do atrapalhado vilão Gargamel, com suas aparições rendendo as melhores cenas da produção.

Se Raja Gosnel não extrai o melhor de seu elenco, ao menos o visual cartunesco dos Smurfs e dos Danadinhos interage bem com os atores e cenários live-action do mundo humano. Os efeitos jamais querem se mostrar 100% realistas, se calcando propositadamente em algo mais próximo de desenhos animados, evitando o temido “vale da estranheza” da verossimilhança equivocada, o que simplesmente não combinaria com a proposta mais infantil do filme. O 3D, mesmo longe de indispensável, colabora no espetáculo, não sendo totalmente descartável.

Ao avançar de modo frouxo, tornando a experiência mais longa do que deveria, este “Os Smurfs 2” se mostra genérico, formulaico e pouco divertido, não trazendo muita diversão para a garotada nesse fim de férias e falhando em recriar o suficiente do clima da criação máxima de Peyo para atrair os adultos mais nostálgicos.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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