Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 16 de junho de 2013

Um Golpe Perfeito (2012): “heist movie” despretensioso e desempolgante

Joel e Ethan Coen concedem questionável roteiro para Michael Hoffman, que realiza comédia sem graça, mesmo com elenco talentoso.

Um Golpe PerfeitoDatava de 1985 a única vez em que os irmãos norte-americanos Joel e Ethan Coen decidiram não dirigir um roteiro que realizaram. “Crimewave” caiu nas mãos de Sam Raimi, que não fez muito com o script. Naquela ocasião, os Coen haviam produzido um único filme, “Gosto de Sangue”, e não tinham ideia do quão grande se tornariam no cinema internacional. Quase três décadas e quatro estatuetas do Oscar depois, eles voltam a conceder o estranho mundo que constroem com suas palavras para um outro cineasta: Michael Hoffman.  Mas o melhor seria engavetar o projeto de tão pouco inspirado e sem graça que é.

“Um Golpe Perfeito” tem como personagem principal o inglês Harry Deane (Colin Firth), um curador de arte que trabalha em Londres para um dos maiores colecionadores de pinturas, o mais do que detestável milionário Lionel Shahbandar (Alan Rickman). Sem suportar as humilhações que sofre , bem como querendo se ver livre de dívidas e de sua vida medíocre, Deane decide armar um plano para roubar o chefe. Com a ajuda de um especialista em forjar quadros famosos, Major Wingate (Tom Courtenay), e de uma cowgirl texana, P J Puznowski (Cameron Diaz), ele tenta fazer Shahbandar comprar nada menos do que um falso Monet. Mas o plano não sai nada como esperado.

Na verdade, o filme também não sai como esperado. Trata-se de um trabalho B dos irmãos Coen de tão reciclado, pouco divertido e banal que é. A impressão é que a dupla desejava realizar um projeto menos pretensioso, sustentado na típica comédia de erros que os caracteriza, como no mais recente “Queime Depois de Ler”. Eles, no entanto, acabam desenvolvendo uma história descartável, de raros momentos engraçados, que se torna ainda pior com a falta de timing cômico de Michael Hoffman, em sua verdadeira e perceptível estreia no gênero.

Mas o filme começa bem. Introduzindo-nos, via narração em off (que posteriormente desaparece), a um personagem principal atípico, desses bem desajeitados e tímidos, a trama surpreende também ao inserir o onírico com sarcasmo, investindo na definição da personalidade de Harry Deane, um homem que mais sonha do que faz por onde, bem como fazendo o espectador ansiar pela real maneira com que colocarão o plano em prática. Ao lado de seu parceiro de golpe, ele invade terras bem conhecidas pelos roteiristas da produção, o Texas interiorano, deparando-se com personagens cheios de sotaque, preconceito e brutalidade, gerando um choque cultural discreto, mas bem explorado pela trama.

Ao desembarcar na capital britânica, o humor local e físico passa a dominar… até demais! Joel e Ethan Coen parecem saber da fragilidade e da falta de originalidade do “heist movie” que constroem e passam a deixá-lo cada vez mais de lado em prol de gags e situações cômicas. E essas não poderiam soar mais datadas. Fazendo do Deane de Colin Firth uma espécie de Mr. Bean ou um dos vários personagens criados por Peter Sellers, a história leva-o a protagonizar as mais embaraçosas cenas (e pode colocar embaraçosa nisso!), dos inúmeros socos que recebe à tentativa frustrada de roubar um vaso do hotel mais caro de Londres, podendo até fugir sem as próprias calças.

Essas situações tornam-se tão recorrentes que até a afeição que o público poderia ter por Deane é substituída por uma incômoda rejeição. “Não é possível que ele não seja nem capaz de tirar moedas de um pote sem atrapalhar-se”, podem dizer alguns. Por isso mesmo, é mais fácil apreciar as malvadezas de Shahbandar, ainda que ele tenha de lidar com a presença de alguns desagradáveis japoneses. Talvez porque Alan Rickman esteja mais acostumado com interpretações exageradas e personagens propositalmente acima do tom. Há uma agradável discrição em seu overact.

O mesmo não pode-se dizer de Colin Firth, de Cameron Diaz e, muito menos, de Stanley Tucci, como Martin Zeidenweber, um curador de artes concorrente. Suas performances ultrapassam a fronteira do aceitável e invadem a caricatura. Parecem não ter sido apropriadamente dirigidas. Na verdade, Michael Hoffman em nada acrescenta de bom a “Um Golpe Perfeito”. Dirige-o sem qualquer ritmo, utilizando-se de recursos de edição já defasados e desperdiçando a maioria das já escassas boas “tiradas” cômicas do roteiro, fazendo do filme um dos piores que já trouxe os nomes de Joel e Ethan Coen em seus créditos.

Darlano Didimo
@rapadura

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