Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 02 de junho de 2013

Giovanni Improtta (2011): José Wilker em comédia pouco “felomenal”

Estreia de José Wilker na direção traz de volta o famoso personagem Giovanni Improtta, criado por Aguinaldo Silva

Giovanni-ImprotaGiovanni Improtta surgiu nos anos 70 no livro “O Homem que Comprou o Rio”, de Aguinaldo Silva, mas foi em 2004, na novela “Senhora do Destino”, da Rede Globo, que o personagem interpretado por José Wilker conquistou o País. Alcançando altos índices de audiência, a novela possibilitou que Wilker ganhasse diversos prêmios pela interpretação, como o Troféu Imprensa e o Prêmio TV Press. Para manter a imagem do bicheiro que queria ser estrela, o criador escreveu “Prendam Giovanni Improtta”, em 2005, obra literária que serve de suporte para o filme que carrega o nome do personagem.

A comédia, que abriu a Mostra Competitiva de Longas-Metragens do 17º Cine PE – Festival do Audiovisual, conta a história de um contraventor que adora aparecer. O desejo de ser celebridade, porém, fica comprometido quando ele se torna alvo da polícia e da mídia, que o acusam de um injusto crime. O personagem politicamente incorreto, mas crítico por natureza, é conhecido pela redundância do uso pronominal nas frases, além de confundir certos termos populares. O próprio cartaz do filme traz a frase: “Ele está de volta em charme e osso”.

Tentando fugir das comédias enlatadas, que ironicamente são sucesso de bilheteria no mercado nacional, Wilker buscou em sua experiência internacional referências cinematográficas (Quentin Tarantino, Martin Scorsese e Tintim, para citar algumas) que pudessem se encaixar na película, aliado ao fato de que Giovanni Improtta mistura vários ícones do cinema nacional em um só personagem. Assim, o canal de comunicação com o público se estabelece rapidamente durante a projeção.

O roteiro de “Giovanni Improtta” foi desenvolvido há alguns anos, mas se mostra bastante atual. Em um momento em que se discute religião e política, além dos descasos sociais de sempre, o longa alfineta as instituições que supostamente detém o poder na sociedade, de forma bastante polida. Mesmo assim, a trama não consegue atingir um nível suficiente de entretenimento, pois um longa sobre o personagem não consegue se justificar per si.

Felizmente, o elenco conta com astros do humor que compensam determinadas falhas do script. Destaques para a sempre competente Andréa Beltrão, como a esposa do protagonista, e para André Mattos, como o Delegado Paulinho. O trio Othon Bastos, Hugo Carvana e Milton Gonçalves é absurdamente desperdiçado em um núcleo que teria muito a acrescentar ao longa. Jô Soares também faz uma pequena participação e é sempre bom vê-lo em cena.

Se a comédia se perde no meio do caminho, vale ressaltar pelo menos as competentes direção de arte e de fotografia, que criam um universo requintado e cheio de cores, bem característico do personagem. Por fim, o longa tem o potencial de agradar bem mais a quem acompanhou a novela “Senhora do Destino”, se perdendo entre os espectadores cada vez mais exigentes.

Esse filme fez parte da programação do 17º Cine PE – Festival do Audiovisual, em abril/maio de 2013, e a crítica foi adaptada de matéria especial publicada por este autor no Jornal Diário do Nordeste.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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