Cinema com Rapadura

Críticas   domingo, 02 de junho de 2013

Se Beber, Não Case! Parte III (2013): um encerramento fraco para a trilogia

Comédia perde o atrativo na tentativa de se diferenciar de seus antecessores, resultando em um entretenimento pouco empolgante.

hangover-posterEm 2009, a comédia para adultos “Se Beber, Não Case!” cativou o público com seus personagens carismáticos e cenas absurdas que partiam de uma ideia de fácil identificação para boa parte dos espectadores: amigos que acordam de ressaca sem lembrar o que aconteceu na noite anterior. O segundo filme da série, de 2011, apesar de tão eficiente quanto o primeiro, gerou críticas por se prender à mesma estrutura do antecessor, mudando apenas o contexto da trama. Reconhecendo o comodismo, os roteiristas Todd Phillips e Craig Mazin tentam fazer desta sequência que fecha a trilogia algo diferente, embora preserve a essência da série.

Dessa forma, “Se Beber, Não Case! Parte III” não envolve bebida e nem casamento em sua premissa. A trama parte da necessidade que os familiares e os amigos de Alan (Zack Galifianakis) sentem de interná-lo em uma clínica devido a seu estilo de vida alienado e inadequado, consequência da medicação que ele deixou de tomar. Para esta intervenção, Alan tem a companhia de seus melhores amigos, Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms) e o sempre apagado Doug (Justin Bartha).

Eis que, durante a viagem, os quatro são abordados pelo traficante Marshall (John Goodman) e seus capangas, que procuram Chow (Ken Jeong) por este lhes ter roubado uma gigantesca quantia em barras de ouro. Exigindo que o “bando de lobos” ache o ladrão asiático devido à aparente relação de coleguismo que possuem com ele, Marshall sequestra Doug como garantia, ameaçando matá-lo caso seus amigos não lhe entreguem Chow em três dias.

Phillips, que além de assinar o roteiro também comanda a direção de toda a trilogia, situa bem a trama e os novos personagens, mas a opção por um desenvolvimento menos caótico do enredo em relação aos outros filmes prejudica o teor cômico neste, que em vez de se sustentar durante toda a narrativa, tem apenas bons momentos casuais. Isto também se dá pelo fato de boa parte das gags se basear em referências aos longas anteriores, dependendo necessariamente do conhecimento destes para que sejam compreendidas – e mesmo assim, nem sempre são efetivas.

A direção de Philips também falha em estabelecer a gravidade da situação em que o trio de protagonistas se encontra. Mesmo com um de seus melhores amigos correndo sério risco de morte, Phil, Stu e Allan transmitem um nível de preocupação que aparenta saberem que tudo vai dar certo no final, o que é totalmente incoerente na diegese do filme. O bordão “O que está acontecendo?” do desesperado Stu passa quase despercebido e parece ser dito apenas para cumprir tabela.

Nos dois primeiros filmes, o desenvolvimento da trama se dava a partir de eventos já ocorridos, com os personagens refazendo seus passos da noite anterior para descobrir o que havia acontecido e como poderiam sair da situação em que se encontravam. Neste, a história é totalmente aberta, com os personagens tendo que lidar com problemas que lhes são apresentados, fazendo-nos pensar que o ritmo fraco da obra seja reflexo da dificuldade dos roteiristas em adequar este tipo de narrativa a esta série específica.

Apesar de o roteiro privilegiar cenas com Galifianakis – tentando se aproveitar da competência humorística do ator até quando não há o que tirar de engraçado -, quem mais se destaca é Jeong, roubando a cena na pele de Chow, que ganha maior importância nesta terceira parte, com a trama girando ao seu redor. Infelizmente, o bom elenco não disfarça as falhas de Phillips e Mazin, que embora mostrem criatividade na elaboração de situações interessantes e potencialmente memoráveis, não conseguem desenvolvê-las de modo satisfatório, forçando o público apenas a esperar por momentos mais empolgantes que nunca chegam.

Como todo encerramento de trilogia que se preze, “Se Beber, não Case! Parte III” resgata vários elementos do primeiro longa. O problema é que a inserção destes elementos é feita de modo forçado, soando mais como um filme de homenagem à franquia – a exemplo de “American Pie: O Reencontro” – do que como parte integrante desta. O “final épico” prometido no pôster decepciona quem espera ver o melhor longa da série ou pelo menos um que faça jus ao sucesso dos anteriores. Em todo caso, não será surpresa se daqui a alguns anos for realizada uma quarta parte da franquia, visto a regra dos produtores de sempre deixar margem para possíveis continuações caso o retorno financeiro as torne viáveis, mesmo quando a proposta é de conclusão.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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