Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 19 de maio de 2013

Reino Escondido (2013): bonitinho, mas fácil de esquecer

Visual bonito e pouca originalidade marcam esta nova parceria entre a 20th Century Fox e a Blue Sky Studios, resultando em um filme que não ofende, mas que passa longe de ser marcante.

foxrebannerpersonagensNa maioria das vezes em que críticos falam sobre adaptações radicais nos títulos originais de filmes quando são lançados no mercado brasileiro, o fazem reclamando. Não é o caso deste “Reino Escondido”, cujo título genérico combina muito mais com o produto que o original “Epic”, que teria sido quase uma propaganda enganosa. Sim, pois de épica esta nova animação da Blue Sky Studios em parceria com a 20th Century Fox não possui nada. A despeito da excelência técnica, a animação tem uma história desinteressante, mais parecendo que o espectador já tinha visto esse filme com outro nome antes.

Na trama, a jovem Maria “M.C.” Catarina, após a perda de sua mãe, tenta uma reconciliação com o pai, um atrapalhado cientista cuja crença na existência de uma sociedade de pequenos humanoides que guardam a floresta afastou todos do seu convívio. Tal civilização avançada realmente existe na figura dos Homens-Folha, liderados pela Rainha Tara. Eles estão em guerra com os bogans, facção que representa o apodrecimento e que é comandada pelo maligno Mandrake. Quando um ataque bogan atinge os Homens-Folha em seu coração, M.C. é levada para o coração do conflito, tendo como seus protetores o experiente guerreiro Ronin e o rebelde Nod.

A sensação de deja vu que a fita causa é explicável. Em 1992, a 20th Century Fox lançou a fraquíssima animação 2D “Ferngully – As Aventuras de Zack e Crysta na Floresta Tropical”, que tinha uma premissa bastante parecida, com um protagonista magicamente encolhido para um conflito entre forças da natureza e da devastação. Até mesmo pedaços do DNA do blockbuster “Avatar” (por coincidência também da Fox) podem ser vistos aqui. “Reino Escondido”, no entanto, possui diversas vantagens em cima de “Ferngully”, a começar de um universo melhor explorado e uma protagonista que possui conflitos reais e consegue despertar alguma simpatia do público.

É uma pena que os personagens que gravitam ao redor dela pareçam meros arquétipos a serem preenchidos. O pai ausente e amalucado, o guerreiro honrado (cujo nome revela sua condição), o rebelde que se recusa a aceitar seu destino, os alívios cômicos… Até mesmo o vilão Mandrake (pessimamente batizado, aliás) peca por ser genérico demais, sem despertar raiva na audiência, algo fatal em uma aventura desse tipo. Mas se há um aspecto a ser exaltado aqui é a animação em si e seu design de produção. Os elementos que formam o mundo dos Homens-Folha, desde as armaduras destes, passando por suas montarias, até as vestimentas da Rainha Tara são magníficos e muito bem detalhados, com temas claramente influenciados pela cultura japonesa.

A movimentação dos personagens é bastante fluida e os ambientes são bem construídos (com exceção de alguns momentos na água), com tudo sendo iluminado por uma bela fotografia digital, que é a proverbial cereja do bolo. O 3D é dispensável, embora seja mais presentes que os de certas superproduções recentes. A trilha sonora de Danny Elfman pode não inovar, mas ao menos não incomoda e a dublagem nacional é até competente e tem seu ponto fraco em Murilo Benício, que simplesmente não encontrou o tom ao interpretar o pai de M.C., criando um ruído toda vez que surge em cena.

“Reino Escondido” pode não ser épico, mas ao menos se mostra uma diversão passageira de fácil digestão e facilmente esquecível, ideal pra levar as crianças em um domingo preguiçoso.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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