Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 14 de abril de 2013

Alvo Duplo (2012): tão genérico quanto o seu título

Tentando ser um filme de duplas desajustadas ao estilo "Máquina Mortífera", esta produção se perde em um turbilhão de clichês e diálogos ridículos, com o par formado por Stallone e Sung Kang estando muito longe daquele de Mel Gibson e Danny Glover.

alvoduplo_1Sylvester Stallone é certamente um dos astros do cinema de ação oitentista mais atuantes hoje em dia. É um fato que a carreira do Garanhão Italiano na sétima arte mostra mais altos e baixos que um sismógrafo em meio a um terremoto. No final dos anos 1990 e no começo dos anos 2000, ele passou por um período de baixa onde seus filmes (de péssima qualidade) eram lançados direto para o mercado de home vídeo. Pois bem, este “Alvo Duplo” poderia muito bem ser encaixado neste capítulo da filmografia.

Baseado na graphic novel francesa Du plomb dans la Tetê” (a qual não li), a produção é uma verdadeira bagunça, espelhando muito bem a confusão que aconteceu por trás das câmeras, repleta de problemas como troca de atores e substituição de diretor, tudo para acomodar o projeto ao seu astro. Mas o público, que só quer ver um bom filme, não tem nada a ver com isso.

A trama é focada no assassino profissional Jimmy Bobo (Stallone) que, após ser traído em um trabalho, acaba tendo de se aliar ao policial certinho Taylor Kwon (Sung Kang) para se vingar de seus empregadores, com essa dupla improvável tendo de enfrentar o mercenário Keegan (Jason Momoa) para chegar aos chefões de colarinho branco (Adewale Akinnuoye-Agbaje e Christian Slater).

Obviamente, todos os clichês do gênero estão lá, como os parceiros de etnias diferentes que não se dão bem, a garota entre eles (Sarah Shahi), os vilões cheios de planos elaborados, as brigas do policial com os superiores… O que não seria incômodo nenhum, se tais chavões contribuíssem com a diversão do produto. Parece até que os produtores fizeram uma lista do que queriam ver e pouco se importaram se esses elementos poderiam contribuir para a história ou como eles seriam utilizados.

O plot da conspiração e corrupção não faz muito sentido e é deveras forçado, não servindo nem mesmo para expor o mau caráter dos antagonistas. Nisso, o roteirista Alessandro Camon infla o texto com tediosos diálogos expositivos para explicar os esquemas dos personagens de Akinnuoye-Agbaje e Slater, e deixa pouco espaço para o vilão “físico” de Jason Momoa aparecer e conquistar nossa antipatia.

Desse eixo do mal, mesmo com pouco espaço em cena, Momoa é o que se sai melhor, fazendo um divertido sociopata assassino que realmente gosta do que faz e, fisicamente, ele parece capaz visualmente de encarar a montanha sexagenária que é Stallone no mano a mano. Christian Slater, sumido desde o horrendo “Alone in the Dark”, surge em um overacting terrível ao viver o advogado corrupto Baptiste, ao passo que Adewale Akinnuoye-Agbaje aparece usando muletas como… bem, muletas de interpretação para o seu esquecível Morel.

A situação não melhora quando a fita tem de lidar com os mocinhos. Os momentos de interação entre Jimmy e Kwon mostram um claro desentrosamento entre Stallone e Sung Kang, e não de um bom jeito. Essa falta de química e sintonia entre os atores (e não entre os personagens) mata qualquer interesse que o público poderia ter por eles, pois em nenhum momento as tiradas entre eles parecem fluir naturalmente.

Além de Sung Kang estar perdido em cena e servir basicamente como saco de pancadas, o filme ainda faz questão de reiterar como Kwon é inútil a todo momento, buscando com isso fortalecer o status de Jimmy como macho-alfa e do próprio Stallone como protagonista, sendo que este atua aqui no piloto automático, sem fazer nenhum esforço para conquistar a nossa simpatia. Sly parece tão inseguro de seu status que ainda costura na projeção uma inútil e inconstante narração em off que teima em repetir informações que já foram ditas anteriormente ou em dar outras que serão passadas posteriormente de forma mais orgânica.

Sem personagens interessantes ou uma história que prenda a audiência, o que restou ao diretor Walter Hill foi tentar salvar a produção na base da porrada. Apesar da brutalidade honesta das cenas de ação, bastante diretas e gráficas, elas são muito curtas e espaçadas, não chegando nem perto de compensar as falhas narrativas e estruturais da película.

A coisa mais memorável deste “Alvo Duplo” é sua trilha sonora em blues, que tenta prestar alguma homenagem à cidade de Nova Orleans, que lhe serve de cenário. Isso, claro, depois que o filme basicamente disse que toda a força policial local é corrupta. Daí se vê a lógica desta produção.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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