Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 04 de março de 2013

Dezesseis Luas (2013): feitiçaria no sul dos EUA em mais um romance teen

Vendido como "O novo Crepúsculo" por sua distribuidora, este filme, a despeito da presença de atores de primeira linha em seu elenco e da boa química entre o casal principal, se mostra extremamente frustrante, funcionando apenas pontualmente e mais por conta de seu caráter trash.

promocao_1056_img1_cartaz_data_siteÉ um fato que a franquia “Crepúsculo” abriu espaço para romances adolescentes com temática sobrenatural, criando um mercado faminto por histórias do gênero graças aos seus recordes de faturamento, seja nos livros ou no cinema. Após o divertido “Meu Namorado é um Zumbi”, é a vez de “Dezesseis Luas” invadir as telonas, desta vez lidando com feitiçaria.

Não li nenhum dos livros da série e lembro aos leitores mais incautos que o filme tem de se sustentar sozinho, sem que o público tenha de recorrer à obra original para entender o que se passa na tela. O cenário aqui é a cidade do sul americano de Gatlin, ainda bastante influenciada pela religião e repleta de pessoas de mentes pequenas, contando com uma biblioteca cheia de livros proibidos pelas 12 igrejas locais.

O protagonista da história é o jovem Ethan (Alden Ehrenreich), estudante do ensino médio que não vê a hora de sair de Gatlin. Perturbado por noites mal dormidas e sonhos estranhos, Ethan conhece a misteriosa Lena (Alice Englert), sobrinha do ermitão local Macon Ravenwood (Jeremy Irons), que tem uma fama local de satanista.

Na verdade, a família de Lena é formada por feiticeiros da luz e das trevas e ela será em breve escolhida por um dos lados. Enquanto o casal se descobre e aos segredos por trás de sua atração, a mãe de Lena, Serafine (Emma Thompson), surge causando caos na vida da filha, buscando atraí-la para o lado sombrio, usando o amor dela por Ethan para trazer à tona uma antiga maldição.

As comparações com “Crepúsculo” são inevitáveis, até porque são provocadas pelo próprio material publicitário (vide o pôster que ilustra este texto). Nesse sentido, o casal principal de Gatlin consegue ser mais interessante que o triângulo amoroso criado por Stephenie Meyer, tendo em vista que os personagens desta produção ao menos possuem alguma personalidade própria e outros interesses além de suspirar um pelo outro.

Até mesmo a breguice dos figurinos e sotaques sulistas dos personagens que vemos em cena ajuda – até certo ponto – a criar identidades próprias às figuras que surgem na tela (embora “True Blood” já tenha investido nessa área dos EUA). Dito isso, o filme até funciona enquanto Ethan e Lena estão se conhecendo, até por conta da boa química entre Alden Ehrenreich e Alice Englert e, até aqui, o longa dependia apenas dos dois.

Mas quando a mitologia da família de Lena começa a tomar o palco principal, a produção simplesmente desaba. Pode ser por conta da inexperiência do diretor e roteirista Richard LaGravenese (“PS, Eu Te Amo”) com esse tipo de produção. Habituado a lidar com histórias mais humanas, o cineasta começa a se embaralhar quando tem de trabalhar com uma mitologia mais intrincada.

Toda a situação da maldição simplesmente não funciona, as ideias de magia e de luz e trevas são extremamente confusas, mostrando a dificuldade de LaGraveness em fundir esses conceitos com a história de amor de maneira orgânica, o que acaba também dificultando o envolvimento do público com a trama, parecendo que o texto apenas avança aos solavancos.

Em um ponto mais sensível, a cena do confronto entre Lena e sua sedutora prima Ridley (Emmy Rossum) provoca mais risos que tensão. Jeremy Irons, um dos nomes veteranos do elenco, parece envergonhado de sua participação. Emma Thompson, no entanto, está deliciosamente exagerada, estando para esta produção mais ou menos como Michael Sheen está para “Amanhecer – Parte II”. Já Viola Davis surge no piloto automático, embora sua Amma possua uma boa conexão com Ethan.

Os efeitos especiais e o design de produção são tão bregas que parece que o filme foi dirigido pelo cantor Falcão. A casa dos Ravenwood, por exemplo, parece mais uma galeria de arte comandada por um curador de gosto duvidoso e os penteados das matriarcas da família dos feiticeiros são inexplicáveis. A atroz direção de fotografia, que insiste em filtros azuis, também não colabora, empobrecendo ainda mais o visual.

“Dezesseis Luas” tem lá suas virtudes. O casal principal passa por desentendimentos, fazem sacrifícios e as decisões dos personagens apresentam consequências para eles, tornando o casal mais simpático aos olhos do público. É uma pena que os defeitos da produção acabem se sobressaindo e tornando a produção extremamente frustrante, funcionando apenas pontualmente e mais por conta de seu caráter trash.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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