Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Cirque Du Soleil – Outros Mundos (2012): um espetáculo audiovisual magnífico

Tentando ser algo além de uma montagem dos melhores momentos da companhia circense de origem canadense, a produção possui um fiapo de trama que tenta interligar os números que surgem na fita, mas são justamente estes que justificam a ida ao cinema.

cartaz-oficial-em-portugues-do-filme-cirque-du-soleil---outros-mundos---poster-nacional-1361489994536_728x1080O Cirque du Soleil é uma das forças mais poderosas do entretenimento atualmente, reconhecido mundialmente por sua excelência artística e técnica, trabalhando sempre com os melhores acrobatas e coreógrafos e realizando proezas que impressionam não só pela dificuldade física, mas pela beleza sua estética, aplicadas sempre em produções sofisticadas.

Por mais que diversos espetáculos das trupes da companhia tenham alcançado versões para o mercado de home-vídeo, era apenas uma questão de tempo até que essa potência cultural oriunda do Canadá se aventurasse pela sétima arte, especialmente com o advento da tecnologia 3D. E isso aconteceu por meio deste “Cirque Du Soleil – Outros Mundos”.

O responsável para tentar levar a magia dos palcos para a telona foi Andrew Adamson, cineasta que comandou os dois primeiros episódios da franquia “As Crônicas de Nárnia” e o “Shrek” original. Adamson assina a direção e o script, se bem que é um tanto complicado chamar o fiapo narrativo que tenta dar coesão ao “roteiro”.

O cineasta lança mão de um dos maiores clichês do cinema, o do casal sofrendo da popular síndrome de “nunca te vi, sempre te amei”, e nos apresenta à jovem Mia (Erica Linz) e ao Acrobata sem nome (Igor Zaripov). Os dois se conhecem em um melancólico circo mambembe e caem em um mundo mágico, com a bela indo em busca de seu amado em diversos reinos, cada um deles um espetáculo diferente do Cirque du Soleil.

Durante a projeção, fica claro que a última preocupação na cabeça dos realizadores é a de contar uma história. O foco principal aqui é maravilhar o público com os diversos “mundos” pelos quais os protagonistas vagam até se encontrarem. Não esperem, portanto, qualquer arrombo dramático por parte do casal central, que não possuem nem menos uma química no sentido tradicional e passam pouquíssimo tempo juntos. Ora, Mia não chega nem ao menos a ouvir o nome de seu amado em nenhum momento.

Isso porque Erica Linz e Igor Zaripov não são atores, e não buscam nossa atenção de maneira cênica, mas performática. Sua arte é diferente, mas não menos emocionante. Os números que permeiam a fita são filmados de modo a deixar clara sua a natureza circense, com Adamson acertadamente não cobrindo arreios ou qualquer artefato utilizados nestes.

Sabemos desde o início que se trata de um espetáculo, nada mais. As performances são fotografadas em um 3D magnífico, com uma câmera lenta praticamente constante, valorizando o máximo possível cada uma das proezas que preenchem a tela. A empreitada é bem sucedida nesta intenção e cada segundo de “Cirque Du Soleil – Outros Mundos” é um verdadeiro banquete para os olhos.

É por meio do trabalho de captura das magníficas coreografias das trupes do Cirque Du Soleil que o longa justifica sua existência, ao brincar com o íntimo do público de maneira intensa, mixando música, sonho pop art e magia em uma combinação visualmente lisérgica, não sendo por acaso a presença de “Lucy In The Sky With Diamonds” (LSD) um acidente.

Adamson ainda tenta inserir algum DNA cinematográfico na película e faz diversas referências à filmografia de Georges Méliès, presentes em determinados conceitos visuais (a lua, principalmente) e na própria montagem do filme, com as fusões e transições lembrando muito o corpo de trabalho daquele pioneiro do cinema.

A presença “espiritual” de Méliès casa muito bem com a proposta do Cirque Du Soleil e acrescenta o tempero cinematográfico necessário para evitar que este “Cirque Du Soleil – Outros Mundos” não fosse nada além de uma compilação de melhores momentos dos espetáculos da companhia, embora a produção seja, de fato, pouco mais que isso.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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