Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 04 de março de 2013

Doméstica (2012): documentário retrata a vida das profissionais do lar

Gabriel Mascaro e outros colaboradores apresentam de forma crua a vida de sete empregadas domésticas.

DomésticaDirigido por Gabriel Mascaro (“Um Lugar ao Sol”), o documentário “Doméstica” conta com a participação de sete jovens (Alana Santos Fahel, Ana Beatriz de Oliveira, Jenifer Rodrigues Régis, Juana Souza de Castro, Luiz Felipe Godinho, Perla Sachs Kindi e Claudomiro Canaleo Neto) de seis cidades do Brasil (Manaus, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Brasília) na sua realização. Os sete jovens, que pertencem a classes sociais distintas, são responsáveis por filmar as próprias empregadas domésticas e contar a história delas para os espectadores. Dessa forma, conhecemos um pouco da vida de Dilma dos Santos Souza, Flávia Santos Silva, Helena Araújo, Lucimar Roza, Maria das Graças Almeida, Sérgio de Jesus e Vanuza de Oliveira.

Todas as domésticas retratadas no filme têm uma característica em comum: moram com a família para quem trabalham. Por mais que os entrevistados façam questão de mostrar como as empregadas fazem parte da família, vemos que não é bem assim. Em alguns casos, essa situação fica forçada. Elas têm uma história difícil e a maioria delas é triste. O que sentimos é que elas não têm o próprio lugar no mundo e sabem que aquela família não é a dela. Vivem por conta de outras pessoas, trabalham o dia inteiro, mas não têm uma vida própria.

Em algumas histórias, percebemos que os jovens esquecem um pouco que os protagonistas não são eles mesmos e nem os pais, mas sim as pessoas que trabalham para eles. No capítulo de Helena, a patroa simplesmente se assume como responsável pela doméstica e passa a falar por ela, quase insinuando que Helena é sua propriedade. Em outras tramas, os patrões se sentem como “anjos da guarda” dos empregados.

Ainda assim, “Doméstica” apresenta histórias interessantes. Conhecemos Sérgio, responsável por todos os trabalhos domésticos da casa e que ajuda a tomar conta das filhas da patroa, batendo de frente com a cultura machista brasileira. Também conhecemos Flávia, que trabalha como doméstica de outra empregada doméstica. No último capítulo, Lucimar é amiga de infância da patroa e Luiz Felipe (filho da patroa) se aproveita de fotos antigas para retratar o relacionamento das duas.

O documentário também possibilita fazer uma análise sobre a hipocrisia existente na relação empregado-patrão e conhecer a vida de pessoas que passam a maior parte do tempo conosco, mas não sabemos mais que o nome. A forma como o filme foi concebido também impressiona, pois são sete estilos de fotografia e roteiros diferentes, mas que ao final formam um todo que funciona.

Esse filme fez parte da programação da 6ª Mostra O Amor, a Morte e as Paixões, em fevereiro de 2013.

Adele Lazarin
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