Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 05 de fevereiro de 2013

Inatividade Paranormal (2013): Marlon Wayans fazendo aquilo de sempre

Os irmãos Wayans se especializaram em paródias de fitas de terror e suspense com a franquia "Todo Mundo em Pânico". Tendo como alvo o pseudo-realismo dos "found footage" essa nova empreitada se mostra apenas um repeteco das piadas de sempre desse tipo de produção, apenas em nova embalagem.

poster_inatividade-paranormal_1Considerando que o subgênero cinematográfico “found footage” (“filmagem encontrada”) já criou ramificações até no mundo sci-fi (vide “Cloverfield – Monstro” e “Poder Sem Limites”), até que demorou para que algum dos irmãos Wayans (criadores da série “Todo Mundo em Pânico”) fizessem uma paródia dos mais recentes longas de terror que reviveram esse tipo de filme. O resultado foi apropriadamente intitulado aqui no Brasil de “Inatividade Paranormal”.

Apropriadamente porque esse título nacional já ilustra muito bem a falta de imaginação que é a principal característica desta produção. Essa estreia na direção do cineasta Michael Tiddes tem como roteiristas Rick Alvarez (produtor de “As Branquelas”) e Marlon Wayans, sendo estrelada por este último.

O trio usa a trama do primeiro “Atividade Paranormal” como centro e amarra algumas cenas referenciando as diversas sequências daquela franquia, além de produções como “Rec” e “O Último Exorcismo”. Wayans vive Malcom, que se muda com sua namorada, Trisha (Essence Atkins), para a casa dos sonhos dos dois. Enquanto filmam a experiência conjugam, os dois descobrem que a casa é mal-assombrada e tentam exorcizá-la com a ajuda de “especialistas”.

Uma vantagem que Malcolm e Trisha têm em relação ao casal do “Atividade Paranormal” original é o fato de que eles ao menos tentam buscar ajuda especializada para seus problemas, mesmo que essa ajuda venha na forma de dois especialistas em segurança idiotas com delírios de grandeza (David Koechner e Dave Sheridan), um padre boca-suja recém saído da cadeia (Cedric The Entertainer) e um estereótipo gay metido a médium (Nick Swardson).

Nisso, acompanhamos esse elenco em meio a piadas que envolvem alternativamente animais mortos, estereótipos raciais e/ou sexuais, gases, coisas caindo em cabeças, órgãos sexuais, sexo grupal, sexo com bichinhos de pelúcia (!) e estupro fantasmagóricos (!), mostrando toda a variedade de ideias que pipocam na cabeça de Alvarez e Wayans e o bom gosto da dupla.

Eventualmente, há um clarão de luz na cabeça dos realizadores e eles brincam com algumas convenções do gênero, mas são raras as vezes que isso acontece. Mas a situação fica inacreditável quando o longa resolve recriar na cara dura a cena de “Todo Mundo em Pânico” na qual os personagens fumam maconha com o antagonista. Além do gosto duvidoso de algumas piadas e da falta de inovação, o problema é a insistência do filme nelas, deixando-as se demorar muito além do que deveria.

A própria narrativa se mostra repetitiva, especialmente com os comentários dos protagonistas sobre as gags, algo que acontece até o “clímax” da fita. O nível das atuações é aquele esperado de produções do tipo, sempre apelando para um humor rasteiro e tentando alcançar o riso fácil, mesmo que em detrimento da trama.

Algumas risadas isoladas saem aqui e acolá, mas considerando a quantidade de piadas por segundo disparadas, seria impossível que ao menos uma ou duas não acertassem o alvo. Mesmo sendo uma produção barata, os valores de produção aqui são até decentes, com os efeitos práticos sendo até melhor realizados que os de alguns dos filmes parodiados.

Quem vai ver esse tipo de fita, geralmente já vai sabendo o que esperar. Os fãs do humor dos Wayans não se decepcionarão, recebendo o mesmo produto de sempre em uma nova embalagem. Caso algum incauto resolva se aventurar, é bom ir preparado para o pior.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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