Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 04 de novembro de 2012

Magic Mike (2012): Hollywood deixa o pudor de lado e despe astros musculosos

Longa é pretexto para expor corpos sarados e biografar Channing Tatum em seu passado como strippper.

Channing Tatum, astro de filmes de ação como “G.I. Joe – A Origem de Cobra” e romances água com açúcar como “Querido John” e “Para Sempre”, já foi um stripper. A informação, nunca escondida, até fez com que o ator de 32 anos declarasse, anos atrás, que adoraria ter sua história contada em Hollywood. A indústria do cinema, de olho em cifrões, atendeu ao pedido de Tatum.

Dirigido por Steven Soderbergh, que tem em sua filmografia alguns ótimos longas como “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento”, “Traffic”, além da trilogia “Onze Homens e Um Segredo”, arregaçou as mangas e chamou uma equipe de músculos em dia para “Magic Mike”, mistura de drama, comédia e biografia para mostrar a vida de Tatum antes de entrar para o mundo do cinema. O biografado, claro, não podia estar de fora.

No longa, Mike (Tatum) é um rapaz que se desdobra entre bicos profissionais, o sonho de uma carreira estável e noites regadas a sexo que se alternam com apresentações no clube de Dallas (Matthew McConaughey). Certo dia, enquanto conserta telhados, Mike conhece Adam (Alex Pettyfer, mais conhecido por protagonizar “Eu Sou o Número Quatro”). Perdido na vida aos 19 anos, o rapaz se torna o mais novo pupilo de Mike, que o levará para as apresentações.

Sem saber nada de dança, Adam é jogado no palco e tem de se virar para ganhar umas boas verdinhas na sunga. Com beleza, carisma e um corpo que agrada a mulherada, Adam (aqui personificando o então inexperiente Tatum em sua tenra idade) ficará encantado com toda a grana fácil, mulheres e drogas daquele universo, levando-o a diversas inconsequências. O novo estilo de vida do rapaz não agradará nada à carrancuda irmã Brooke (Cody Horn) que, mais do que esperado, será objeto de interesse de Mike.

Entre outros corpos esculturais que sobem ao palco, temos ainda os coadjuvantes Ken (Matt Bomer, personificando o famoso namorado da boneca Barbie), o latino Tito (Adam Rodriguez) e Big Dick Richie (Joe Manganiello, o lobo Alcide da série vampiresca “True Blood”), conhecido por seu pênis avantajado. Nesta galeria de personagens que cultuam o próprio corpo e levam as mulheres à loucura em danças coreografadas com auxílio dos mais diversos acessórios para instigar o imaginário sexual (como as tangas fio-dental e sungas douradas). Isso sem falar nas fantasias fetichistas, como apresentações em que personificam cowboys, executivos, policiais, marinheiros, médicos, rappers, boxeadores e até um inesperado homem das cavernas.

O roteiro, escrito pelo desconhecido ator, roteirista e produtor Reid Carolin (que também faz uma ponta no longa), é carregado de clichês, frases prontas e expressões como “dude”, “man” e “bro”, que não chegam a estragar o produto como mera diversão. Considerado uma espécie de “American Pie para mulheres e gays”, o filme funciona como entretenimento e é um colírio visual a interessados em bíceps, tríceps e glúteos modelados para atrair, obviamente expostos em grande parte das cenas.

Reciclando sem novidades todos os clichês do submundo que envolve o universo do espetáculo (drogas, guerra de egos e sexo), “Magic Mike” é feito em formato de videoclipe, com trilha sonora pop e ritmo frenético. O resultado final, pelo visto, agradou, já que o filme custou cerca de US$ 7 milhões e arrecadou mais de US$ 113 milhões somente nos EUA. Se não merece os créditos pela qualidade técnica, o longa compensa por cenas de dança que divertem, principalmente em se tratando de Tatum, que expõe sua impressionante habilidade como dançarino.

Além disso, “Magic Mike” é um filme corajoso. Afinal, Hollywood nunca se dedicou a expor tanto os corpos masculinos (e de astros conhecidos do grande público) com tanta desenvoltura e naturalidade. E as mulheres, que vêm ganhando cada vez mais espaço com relação à sua sexualidade, aqui têm um exemplo de liberação de seus desejos sem culpa e com direito a muitos gritos estridentes.

Mesmo dedicado, a princípio, a elas (já que não se vê nenhum homem assistindo às apresentações no clube), “Magic Mike” possui uma latente e inegável carga homoerótica. Isso fica ainda mais evidente na cena em que o chefão Dallas ensina Adam a rebolar em sua frente enquanto o ensina a dançar, com uma inegável carga sexual. Além disso, os dançarinos chegam até mesmo a dividir suas mulheres com um companheirismo disfarçado de voyeurismo.

Porém, tanta amizade declarada tem seu conflito, que desestabiliza o grupo e dá indícios que o fim (do filme) está próximo, especialmente entre o trio Dallas, Mike e Adam, as três peças principais da história. Tatum, como o fenômeno Magic Mike, faz o que tem de melhor: exibe seu corpo escultural, seu charme de bom moço e carisma de ator limitado. Porém, é impagável a cena em que aparece travestido de Marilyn Monroe. Pettyfer, por outro lado, como o novato Adam, possui carisma e beleza, mas tem pouco a fazer, dando apenas o gancho necessário de dar vida ao Channing Tatum de outrora.

O destaque é o veterano McConaughey. Canastrão como nunca e exibindo um invejável corpo aos 43 anos, ele cria o típico caipira brutamontes egocêntrico, cercado pela própria aparência, de quadros a esculturas de si próprio e protagoniza algumas das cenas mais risíveis (como esquecer o momento em que, de sunga baby-look amarela e lenço na cabeça, ensina Adam a dançar em frente ao espelho?).

O epílogo é politicamente correto, bem à revelia de outros trabalhos de Soderbergh, aqui pagando as contas. Há rumores, inclusive, de uma continuação que, segundo Channing Tatum, deve demorar a acontecer e deve tê-lo assumindo a direção no lugar de Soderbergh. O filme, assim, cumpre sua função de divertir o público a qual é destinado. Portanto, garotas, uma dica: deixem os namorados em casa e levem as amigas e amigos gays para uma sessão de cinema sem compromisso.

Léo Freitas
@LeoGFreitas

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