Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 14 de outubro de 2012

Procurando Nemo (2003): mais um clássico da Pixar é relançado em 3D

A deliciosa experiência de rever esses velhos amigos tem seus altos e baixos com os óculos 3D, mas a beleza da história de Marlin, Nemo, Dory e companhia continua a mesma!

Passaram-se nove anos desde que Marlin, Dory, Nemo e toda essa turma estrearam na tela grande. “Procurando Nemo” foi o quinto longa da Pixar Animation Studios e o filme escrito e dirigido por Andrew Stanton levou (merecidamente) multidões aos cinemas de todo o mundo e ainda é adorado por muita gente mesmo após quase uma década. E é neste cenário que o filme retorna aos cinemas, desta vez em uma versão 3D.

Já foi muito falado que a Pixar gosta de animar o que muitos consideravam ser impossível. Claro, histórias no fundo do mar foram feitas antes, com “A Pequena Sereia” sendo um grande exemplo disso. Porém, em “Procurando Nemo”, não nos identificamos com os humanos que porventura aparecem no decorrer da projeção. Estes estão mais para alienígenas em filmes de abdução que para qualquer outra coisa. O nosso coração bate é pela comovente história de um pai tentando proteger seu único filho e deste rebento tentando descobrir o mundo onde vive.

No seu fundo (sem trocadilhos), o que Stanton nos apresentou foi sim um conto de pais e filhos. O peixe-palhaço Marlin se preparava para viver uma vida feliz em seu lar ao lado de seus entes queridos. Mas, após perder a esposa e todos os outros filhos ainda não nascidos em um ataque, a única família que restou a este pobre pai foi o pequeno Nemo, um peixinho com uma nadadeira menor que a outra, que está ansioso para dar seus primeiros passos fora do lar.

Mas Marlin, ainda temeroso por tudo o que aconteceu, não quer que seu filho corra qualquer risco. O conflito entre os dois acaba fazendo com que Nemo seja levado para longe e posto num aquário. Agora, o peixe-palhaço que não sabe contar piadas tem de atravessar perigos indizíveis para resgatar seu filho, antes que seja tarde demais. Ao seu lado, Marlin tem apenas Dory, uma amalucada peixe azulada com problemas de memória que em busca de um lar. E assim a aventura se desenrola.

O que torna “Nemo” atemporal é o talento de Stanton de aliar visuais magníficos e mundos exóticos a temáticas extremamente humanas. As brigas entre Marlin e Nemo podem ocorrer em qualquer lugar e o público pode se identificar facilmente com as posições tomadas por ambos os personagens. Nisso, nenhum dos dois soam, em nenhum momento, antipáticos, mas falhos como qualquer um.

No entanto, ao contrário de, por exemplo, Bryan Mills no primeiro “Busca Implacável”, nosso protagonista é um pai absolutamente comum, não o rei dos sete mares ou mesmo um heroico animal de ação. Enquanto isso, Nemo vive seus próprios dilemas e dificuldades no aquário, com a montagem de David Ian Salter alternando habilmente entre as duas linhas narrativas.

Ao mesmo tempo, somos apresentados a uma série de carismáticos coadjuvantes, cujos próprios dramas renderiam filmes inteiros. Dory e sua memória de curta duração, o tubarão Bruce e seu “vício”, o traumatizado e sofrido Gil e sua saudade do mar… Todos eles são figuras complexas capazes de nos cativar, por maiores ou menores que suas participações na trama sejam.

Conseguir com que a audiência se visse nesses pequenos peixes foi o primeiro passo do realizador. O segundo foi criar um mundo no qual a plateia pudesse mergulhar, conseguindo isso através de uma direção de arte que faz jus à espetacular dobradinha entre a criatividade humana e a própria diversidade biológica do oceano.

Neste sentido, o 3D imposto a este relançamento foi uma faca de dois gumes. A imersão no fantástico universo subaquático apresentado pelo longa ficou ainda mais embasbacante, com efeitos tridimensionais que realmente exploram os recursos de profundidade visual. Todavia, por conta dos óculos 3D (que diminuem sensivelmente o brilho da imagem), perdemos um pouco das cores vivas que fazem do fundo do mar imaginado por Stanton e sua equipe um lugar tão atraente.

Com seus prós e contras, a oportunidade de rever “Procurando Nemo” na telona após tanto tempo é tão irresistível quanto o próprio filme, que não envelheceu nada do ponto de vista tecnológico e não deve enfraquecer tão cedo como narrativa. Recomendado.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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