Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 07 de outubro de 2012

Busca Implacável 2 (2012): longa mistura boa ação com drama familiar

Interessante premissa põe em questão valores morais, rendendo uma boa sequência para o longa de 2008.

Quase nunca pensamos nos capangas cujas vidas são brutalmente arrancadas pelos “mocinhos”, que parecem ter sempre uma justificativa inquestionável para cometer tais atrocidades, como se os “vilões” também não fossem postos no lugar de vítimas e não tivessem alguém que se importasse com eles. Isto gera um estranho sentimento de compaixão no público para com Murad (Rade Serbedzija), antagonista de “Busca Implacável 2”, tornando o filme um pouco mais complexo do que ele pretende ser, embora não se aprofunde nestas questões. “Pelo menos, a minha filha está viva” – diz Lenore (Famke Janssen) em tom de provocação e deboche para Murad, o sequestrador que teve o filho assassinado pelo ex-agente do governo, Bryan Mills (Liam Neeson).

Acima de tudo, este é um filme sobre família. Longe de ignorar a construção dos personagens só por se tratar de uma sequência, dando lugar apenas a uma ação vazia de sentido, o roteiro de Luc Besson e Robert Mark Kamen se preocupa em trabalhar a relação entre Bryan, sua filha Kim (Maggie Grace) e sua ex-esposa Lenore, reforçando os vínculos familiares ao mesmo tempo em que apresenta novas possibilidades para os três.

A premissa do longa tem ligação direta com os eventos do anterior. Após resgatar sua filha dos sequestradores albaneses que desejavam lucrar com tráfico sexual, deixando no caminho uma pilha de cadáveres dos envolvidos no crime, Bryan agora se vê importunado pelos parentes de suas vítimas. Murad deseja vingança principalmente pelo assassinato de seu filho Marko (Arben Bajraktaraj no primeiro filme), independente do que ele tenha feito contra o agente aposentado. Desta vez, os sequestrados são Leonore e o próprio Mills, que tenta fugir com a ex ao mesmo tempo em que evita que sua filha também seja pega novamente.

Kim, que no longa de Pierre Morel era uma adolescente sem graça que só pela linguagem corporal já transmitia seu grau de infantilidade (ponto para Grace), amadureceu bastante no intervalo entre os dois filmes. É animador ver sua “parceria” com Bryan, com quem divide uma das melhores sequências do filme, tornando-se essencial para o desenvolvimento da história em vez de ser novamente apenas uma vítima indefesa.

Por meio de uma interpretação ousada, mas totalmente válida, podemos enxergar uma alegoria de reconstrução familiar. Os sentimentos apresentados implicitamente e deixados em aberto no primeiro filme agora são centrais na trama. Bryan não se conforma em obter somente uma proximidade afetiva com a filha, ele também quer sua mulher de volta, pois nunca deixou de amá-la. No lado oposto do combate, há outro pai que também vivenciou perdas familiares – muito piores do que as de Bryan, pois estas são irreparáveis –, e quer punir o responsável a todo custo (com razão?), sendo um personagem mais dramático do que ameaçador.

O diretor Olivier Megaton não é alheio a estas questões, sabendo equilibrar bem a subtrama melancólica com as excelentes cenas de ação, que nos oferecem o alto grau de violência que sempre diverte quem sabe diferenciar o cinema da realidade. A montagem de Frédéric Thoraval trabalha bem as sequências paralelas, fornecendo um clima de tensão muito útil para a narrativa. Em compensação, ele peca em momentos específicos com cortes exageradamente rápidos que não permitem um entendimento detalhado da situação, embora a ideia geral seja transmitida.

“Busca Implacável 2” tem várias referências a seu antecessor, mas não depende dele para ser compreendido de forma geral. Seu grande defeito é que as coisas se resolvem rápido e fácil demais. Praticamente tudo sai como o planejado por Bryan, que não se depara com situações que realmente desafiem suas impressionantes habilidades físicas e mentais. Dessa forma, perde-se uma ótima oportunidade de aproveitar melhor o potencial do protagonista, deixando o espectador com pensamentos e desejos do que poderia acontecer a mais. Talvez isto seja uma estratégia para manter a franquia viva, sequestrando um por um todos os membros da família Mills, o que seria uma boa opção do ponto de vista comercial.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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