Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 24 de dezembro de 2011

Missão Impossível 4 (2011): a tecnologia usada a favor do bom entretenimento

Brad Bird assume direção da franquia em filme com ação quase ininterrupta graças à irresistíveis bugigangas de "última" geração.

Quando Josh Holloway (em participação especial) surge em tela, ainda nos primeiros segundos de “Missão Impossível 4 – Protocolo Fantasma”, correndo e se jogando de um prédio em Budapeste, somos surpreendidos com o aparecimento repentino de um colchão inflável que impede sua queda brusca no chão. É apenas o começo. Durante mais de duas horas de duração, o quarto longa da franquia nascida em 1996 exibe os mais criativos e impressionantes artefatos tecnológicos jamais vistos no cinema. E o melhor é que boa parte deles é usada a favor da ação e da comédia, fazendo de cada cena um espetáculo à parte, e tornando o todo um dos mais agradáveis entretenimentos cinematográficos do ano.

Assumindo a franquia depois de realizar os excelentes “Os Incríveis” e “Ratatouille”, Brad Bird estreia no mundo live-action com mais inteligência do que o seu filme aparenta possuir. Seu objetivo é, acima de tudo, prender a atenção do público durante a exibição. Deixá-lo embasbacado com a singularidade de cada sequência, ao mesmo tempo em que admite explicitamente que tudo não passa de uma grande brincadeira, daquelas que dá vontade de experimentar novamente por sua intensidade e pela dose certa de comprometimento com a realidade. Afinal, não é todo dia que tempestades de areia soam tão providencialmente prazerosas!

Também não é todo dia que Hollywood explode o Kremlim. Mas é exatamente com esse fato que a trama do longa verdadeiramente tem início. Depois de resgatarem Ethan Hunt (Tom Cruise) da prisão, os integrantes da IMF, Jane Carter (Paula Patton) e Benji Dunn (Simon Pegg), dão prosseguimento à investigação que visa saber quem roubou arquivos russos ultraconfidenciais, bem como assassinou um dos agentes da rede de espionagem americana. No entanto, a investigação toma rumos mais perigosos quando o prédio mais importante da Rússia vem abaixo, levando a uma ruptura diplomática entre os dois antigos rivais de Guerra Fria e fazendo Hunt agir mais secretamente do que nunca para impedir uma catástrofe nuclear.

Sim, como de praxe na série, “Missão Impossível 4” é bastante pretensioso em sua sinopse, que coloca o futuro da humanidade em questão mais uma vez. E não poderia ser diferente. Enfim, o que justificaria fazer seus personagens arriscarem tanto suas vidas durante o serviço? E arriscar a vida aqui assume felizmente um sentido extremo. Não é a toa que Brad Bird declarou ter temido pela vida de seu protagonista. O mesmo sentimos por Ethan Hunt, em um sinal do ótimo trabalho do diretor e sua equipe técnica, que fazem uma escalada ao prédio mais alto do mundo soar realista, e ainda divertida. No entanto, a sequência não teria o mesmo efeito se não fosse o apurado senso de comédia juntamente com uma enorme capacidade para inventar tecnologias por parte dos roteiristas.

Josh Apleubaum e André Nemec ainda fazem seus personagens flutuarem e fugirem de prisões de segurança máxima com meros cliques no computador. Alguns podem acusá-los de mentirosos. Mas “criatividade” é a palavra que melhor define o trabalho da dupla. Eles entendem que não basta dar vida a artefatos de última geração, mas que é preciso transformá-los em objetos capazes de proporcionar ação e comédia. Se Tom Cruise e Jeremy Renner, como um analista cheio de segredos da IMF, responsabilizam-se por colocar em prática as correrias e os tiroteios, Simon Pegg provoca as gargalhadas, nunca excessivas ou forçadas.

Paula Patton vem com a sensualidade. Ela complementa a equipe, enquanto Ethan Hunt recebe uma atenção mais comedida do que nos filmes anteriores. Com uma história de vida já relativamente bem explorada e desgastada, o personagem é por vezes ofuscado pela novidade introduzida pelo trágico Brandt (Renner) e o genial Benji. O roteiro opta ainda por uma trama bem mais simples, sem reviravoltas, em que a surpresa é o próximo desafio a ser enfrentado. Vacila, porém, no desenvolvimento raso de seu vilão, especialmente no idealismo que o motiva, demasiadamente radical para o baixo padrão de intelectualidade da história.

Se Apleubaum e Nemec evitam total e acertadamente envolvimentos amorosos, escorrega ao fazer determinados personagens compartilharem o sentimento de luto que nunca convence o espectador. Mas nada que uma sequência de ação de tirar o fôlego não compense. E em “Missão Impossível 4: Protocolo Fantasma” elas são várias, musicadas por mais uma espetacular trilha sonora de Michael Giacchino (que não hesita em usar o tema inesquecível criado por Lalo Schifrin) e regidas por um Brad Bird engenhoso, que faz da produção algo tão divertido quanto suas bugigangas tecnológicas.

Darlano Didimo
@rapadura

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