Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 30 de abril de 2011

Água para Elefantes (2011): filme é piegas na medida certa para divertir

Hora de deixar de lado o preconceito e admitir que Robert Pattinson superou suas expectativas.

Todos esperavam pelo dia em que Robert Pattinson assumiria o papel que exigisse uma maturidade mais intensa que aquela demandada pelos filmes da série “Crepúsculo”. De um lado, a legião de fãs acostumadas e apaixonadas pelos caninos superdesenvolvidos do astro. Do outro, um número igualmente expressivo de críticos ferozes ao seu potencial. Para os primeiros, qualquer projeto em que Pattinson esteja inserido é sinônimo de sucesso e um motivo importante para ir ao cinema, para os outros – sobretudo para aqueles que não são influenciados pelos dois extremos – suas novas estreias funcionam como vitrines do seu crescimento (ou decadência) como ator.

Em “Água para Elefantes”, o ator britânico assume o papel de protagonista e, para o bem de todos e a felicidade geral da nação, cumpre seu desígnio de maneira convincente e esforçada. Vez por outra, esquecendo a boca aberta e apertando os olhos – com expressões faciais que se aproximam do olhar sedutor popularizado por James Dean –, Pattinson demonstra que os resquícios do bom vampiro ainda permeiam sua atuação, o que não chega a comprometer o filme, já que a empatia criada entre público e personagem é quase imediata. Visto sob um panorama geral, seu desempenho sinaliza um potencial ainda pouco explorado e, talvez, desconhecido por ele próprio.

Dividindo a cena com os oscarizados Reese Witherspoon e Christopher Waltz, Pattinson interpreta Jacob Jankowski, filho de imigrantes poloneses que vê seus sonhos simplórios ruírem após a morte trágica dos pais e a perda de todo seu patrimônio na liquidação de dívidas familiares. Sem casa, sem diploma universitário, sem namorada e com a ideia de deixar todas as recordações no passado, Jacob decide seguir caminho até a cidade mais próxima. Nesse trajeto, acaba encontrando o Circo dos Irmãos Benzini, administrado pelos métodos agressivos do personagem de Waltz e cuja principal atração é a encantadora de cavalos Marlena (Witherspoon), esposa do dono.

Com um papel pouco desenvolvido e de profundidade rasa, Witherspoon tem seu potencial reduzido ao meramente elementar. Marlena aproveita um intervalo de dois minutos para narrar suas origens, enquanto durante todo o filme possui três ou quatro falas de alguma relevância. No tempo restante, sua personagem se exibe no picadeiro, bebe uísque e atura a inconstância emocional de Waltz, o grande nome em “Água para Elefantes”. O ator convence como um brutamontes ambicioso que oscila entre picos de paixão descompensada pela esposa e pelo circo e ódio ferrenho por qualquer um que desafie suas vontades.

E o elefante do título? Ele demora a aparecer no filme, mas quando surge logo assume, ao lado dos três atores, papel de suma importância no desenvolvimento da carga dramática que permanecia em estado quase ocioso desde as sequências iniciais. E é importante destacar – não me olhem estranho por isso – que o bicho cumpre bem seu papel de gigante dócil totalmente à mercê dos humores de seu dono. Aqueles que possuem coração frágil quando o assunto é a relação homem-animal devem ir preparados para emoções fortes.

Se a história, baseada no best-seller homônimo de Sara Gruen, e o elenco estelar conseguem sozinhos atrair os mais diversos públicos, parece desnecessário perder tempo resolvendo detalhes e cuidando de aspectos não-fundamentais aos olhos daqueles atraídos pelos motivos acima citados (vide os filme da série “Crepúsculo”). Para o contentamento daqueles que não se satisfazem com pouco, o diretor Francis Lawrence – de “Constantine” e “Eu Sou a Lenda” – e o fotógrafo Rodrigo Pietro – de “Biutiful”, “Abraços Partidos” e “Babel” – oferecem ao público ângulos interessantes e cores de encher os olhos.

Figurino, maquiagem e direção de arte também estão incríveis. Duas sequências específicas valeriam o preço do ingresso: atentem para o momento em que os trabalhadores se esforçam para armar a tenda do circo e, depois, para o passeio de Jacob pelos corredores estreitos dos vagões do trem, enquanto uma série de personagens secundários interage ao seu lado.

Ao final do filme, é inevitável sentir aquele sabor nostálgico de uma dose revigorante de pieguice saudável. “Água para Elefantes” é isso: amor, drama, ódio e Robert Pattinson em um ambiente circense. Mais burlesco é impossível!

Jader Santana
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