Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 (2010): o amadurecimento chegou

Cansativo e repetitivo, o filme não atinge um resultado satisfatório principalmente para quem não leu a obra de J.K. Rowling.

Desde que o diretor David Yates assumiu o controle da franquia, “Harry Potter” passou a ter um destaque mais sombrio, com histórias que envolviam o pessimismo caminhando para um destino trágico das personagens que lutam para sobreviver ao domínio de Voldemort. No sexto filme, isso se dá por conta da fotografia obscura e também pela seriedade adotada pelo roteiro do filme, baseado no livro escrito pela britânica J.K. Rowling. De certa forma, Yates continua adotando este mesmo tom nesta primeira parte do filme “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, o último da saga que foi dividido em dois. Aqui, Harry precisa fugir dos Comensais da Morte, lutar pela sua própria sobrevivência e dos seus amigos, além de buscar uma forma de matar Voldemort para que Hogwarts, finalmente, consiga voltar à normalidade depois da morte de Dumbledore.

É bem verdade que todo o elenco nesta primeira parte consegue atingir um grau de maturidade que evoluiu conforme a idade deles e também a história. O Harry de hoje, logicamente, não é o mesmo que se viu no filme “A Pedra Filosofal”, quando ele ainda estava chegando em Hogwarts, mas já precisava conviver com o fato de ter “Potter” em seu sobrenome. Neste sétimo filme, o amadurecimento das personagens possui uma ligação importante com a história, que não se passa mais nos corredores confusos e cheios de magia de Hogwarts. O Ministério foi destruído com a morte de Dumbledore e também com a traição de Snape. Quem está no comando agora é Voldemort e a sua mancha escura no céu vem causando terror e medo nos bruxos e nos trouxas, que começaram a deixar as suas residências para viver em outros lugares.

Enquanto Voldemort segue com os seus planos de matar Harry Potter e de encontrar a varinha mais poderosa para realizar este feito, Harry é protegido pelos amigos que se sacrificam literalmente para que ele possa sobreviver – mesmo porque, Harry é o único capaz de derrotar “Você-Sabe-Quem”. Agora já adolescente, as decisões tomadas pelos seus amigos são questionadas por Harry, que se sente culpado e resignado por esta força e impulso que os outros bruxos estão realizando para mantê-lo em segurança. Se por um lado ele sente dessa forma em relação a estas pessoas, por outro ele confia plenamente em Rony e Hermione, os dois amigos inseparáveis que agora precisam encarar aventuras mais violentas e sombrias. Além disso, Harry ainda luta com os seus próprios fantasmas, com os seus sonhos inacabados, com a sua busca incessante por respostas, mas sem poder confiar em absolutamente ninguém.

Tudo isso é retratado e adaptado com fidelidade por parte do time de roteiristas e também por David Yates que não sai do lugar-comum e filma apenas aquilo que é necessário. Algumas sequências de ação, que é um elemento que faz esta primeira parte andar, se tornam até mesmo confusas em certos momentos. Na cena de uma perseguição na floresta, por exemplo, Yates adota uma agilidade para tentar dar intensidade àquele momento, mas, na realidade, tudo o que ele consegue é deixá-lo apenas mais confuso. Por outro lado, a primeira sequência deste filme, quando Harry está sendo transportado para um local seguro, o diretor já consegue atingir bons elementos de perseguição que não se tornam repetitivos. Ao mesmo tempo em que vemos os bruxos duelando no céu, Yates também os coloca nas avenidas de Londres para brigarem entre si e isso dá um dinamismo maior à narrativa e também à própria cena. Ainda assim, como no filme anterior, ele consegue ter uma direção segura e faz o necessário para deixar a aventura dos bruxos mais ágil quando necessário,e também lenta quando esta característica é pedida.

Em compensação, os aspectos técnicos de “Harry Potter e as Relíquias da Morte” são impressionantes. O som é extremamente alucinante, pois é possível se sentir invadido pela história quando ouvimos com bastante nitidez de que lado aquele som está partindo. A experiência de assistir ao filme dentro de um cinema é impressionante justamente por isso. O cuidado técnico da equipe de produção, seja com os efeitos especiais, visuais e sonoros, mostra também um amadurecimento e evolução dos filmes desde o primeiro que foi lançado. No entanto, a fotografia é um dos elementos que mais cresceram neste sentido. Eduardo Serra adota um tom sombrio em toda a sua narrativa, deixando o tom de azul invadir os cenários de uma forma que ele se torna ausente apenas nas sequências que se passam dentro de Hogwarts, que é tomada por um outro estilo de tonalidade.

Se estes aspectos técnicos evoluíram e conseguiram alcançar maturidade quando inseridos dentro da história, os atores também possuem boas atuações novamente  como foi no filme anterior. Daniel Radcliffe, sempre contestado por apresentar uma única faceta para a sua personagem, consegue se destacar em algumas cenas que possuem um valor dramático maior. Emma Watson, mais uma vez, demonstra uma capacidade incrível de se sentir confortável com a sua personagem. O mesmo acontece com Rupert Grint, ainda mais carismático neste sétimo filme, tendo  espaço dedicado à descontração no qual ajuda dar até um tom de ironia e comédia em determinados momentos.

Não sei, porém, se o livro escrito por J. K Rowling possui problemas de narrativa quanto à história, mas fica claro nesta primeira parte que o roteiro escrito por Steve Kloves carece de momentos surpreendentes ou de pontos-de-virada que possam trazer alguma surpresa. E já sinto os fãs mais fervorosos dizendo: “mas o filme precisa ser fiel ao livro”. E eu concordo com esta afirmação, mas, para quem não está familiarizado com o mundo criado por Rowling, o que é visto neste sétimo filme é apenas mais do mesmo. Algumas pessoas se mostram empolgadas com o filme – algo que é justificável -, mas a própria narrativa de David Yates segue por uma linha óbvia em que, às vezes, a falta de emoção dentro da trama é suficiente para que ele não empolgue um público que não é exatamente fã, mas que pode se sentir atraído por este universo.

No ano em que o primeiro “Harry Potter” foi lançado aconteceu também a estreia de “O Senhor dos Anéis”, baseado no livro escrito por J.R.R Tolkien. Muitas comparações foram feitas entre os dois livros e, principalmente, entre os dois filmes. O que faz da obra de Tolkien superior a esta criada por J.K Rowling é o fato do primeiro fugir das obviedades que são vistas na segunda. Os dois filmes possuem um final conhecido: Frodo precisa ir para a Montanha da Perdição destruir o Anel e salvar a Terra-Média, enquanto que Harry Potter precisa seguir a sua trajetória para destruir Voldemort e recuperar a paz que foi quebrada entre os bruxos e os trouxas, e até mesmo entre os próprios bruxos. “Harry Potter – Relíquias da Morte”, no entanto, é um filme que consegue um efeito apenas de blockbuster sem chamar atenção para nada além do entretenimento. Existe, de certa forma, um certo envolvimento com a narrativa. Porém, em um determinado momento, ela começa a perder o efeito por ser cansativa e repetitiva demais, com Harry se escondendo nas magias de proteção enquanto tenta responder as suas perguntas.

Entre erros e acertos, uma coisa é certa: Harry Potter amadureceu. E este amadurecimento é sentido nesta primeira parte. As reviravoltas ainda serão vistas (acredito eu). O final deixa aquela vontade de querer saber “o que vem depois”. E só esperando até o ano que vem para ver o duelo final entre Harry Potter (o Bem) e Voldemort (O Mal).

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