Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 12 de dezembro de 2010

Machete

Robert Rodriguez tenta fazer um filme bom que parece ruim, mas consegue ser apenas ruim.

Respeitado por obras memoráveis como “Um Drink no Inferno” e “Sin City”, o amigão de Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, é um verdadeiro fanfarrão. Sempre imprimindo em seus filmes aquele clima “B” de se fazer cinema – herdado de seu “El Mariachi”, que com pouquíssimos recursos ganhou visibilidade mundial -, o diretor aqui parece se confundir, fazendo com que o ruim seja apenas ruim.

A ideia de “Machete” surgiu após o alvoroço provocado pelo trailer falso exibido antes da projeção de “GrindHouse” (“Planeta Terror/ A Prova de Morte”), que Rodriguez fez em parceria com Tarantino. O apelo foi tão grande, que o diretor resolveu tirar o projeto do imaginário mundo “fake” e lançá-lo na realidade. Dividindo a direção com o desconhecido Ethan Maniquis – que sempre trabalhou na área de edição e efeitos visuais -, Rodriguez não se mostra consistente como em seus outros trabalhos, apresentando apenas uma cena inicial arrasadora, e prosseguindo de forma trôpega e sem graça até o final.

Tudo começa com o personagem Machete, um policial mexicano honesto e brucutu, que vê sua família ser violentamente assassinada pelo sarcástico Torrez (chefão do crime organizado local), despertando assim o mais puro ódio calcado no desejo de vingança. Com a policia corrupta a favor de Torrez, Machete foge para os Estados Unidos, e lá tenta tocar sua vida. Tudo isso até uma oportunidade única bater a sua porta: Ele é contratado para matar o Senador John McLaughlin, ativista insano que luta contra a invasão ilegal de mexicanos no EUA de forma terrorista. As coisas não saem como haviam sido planejadas, e Machete terá de se virar para sair dessa arapuca em que se meteu, e ainda acertar suas contas com o passado.

Com um roteiro precário, que basicamente faz do acaso uma fada madrinha, o filme nos faz esperar por uma cena tão boa quanto a inicial, mas ela nunca vem. Claramente que Rodriguez tenta fazer das coincidências, incrivelmente convenientes, um fator cômico na trama, mas o resultado não surge este efeito de forma eficaz. No final, a única força motriz da obra está em alguns personagens inusitados que possuem brilho próprio, mas pouco desenvolvimento dentro da história.

Machete é perfeito. Frio e calculista, ele ironicamente, ao mesmo tempo em que pica seus inimigos como um psicopata, tem uma personalidade honrada, além de pegar a mulherada, mesmo com sua cara mal acabada. Danny Trejo, que interpreta o personagem, se sai bem pelo simples fato de reconhecer que não é um bom ator, por isso parece satisfeito em não proferir mais de dez frases durante o filme todo, um verdadeiro exterminador do futuro versão mexicano.  Na pele do senador John McLauglin temos ninguém menos que Roberto De Niro. Seu personagem é puro estereótipo e o ator se vira para tentar torná-lo mais atraente, mas passa longe de ser um vilão digno de nota. Junto a ele, no time do mal, está Jeff Fahey, este sim mais caricato e engraçado com seu Michael Booth, sendo o bandido mais enfático da fita.

Temos também Michelle Rodriguez como Luz, uma bela revolucionaria que luta pelos diretos dos ilegais. Sua personagem é visualmente emblemática, com suas roupas escassas e seu tapa olho chamativo, um refresco no longa. Já Jessica Alba está caricata com sua agente especial da “La migra” Sartana Rivera, e não desperta nenhum carisma, contribuindo muito pouco com o resultado final. Lindsay Lohan (pós-clinica) está muito bem com sua vingativa April Booth, justiceira que veste o hábito de freira e mata criminosos a sangue frio. Junto a ela, também de batina, o eterno maluco Cheech Marin aparece como Padre Cortez, melhor personagem, que também merecia um filme só dele. Para fechar temos o terrível vilão Torrez, interpretado pelo experiente, mas pouco versátil Steven Seagal. Apesar de sua qualidade muito limitada, o ator entrega o papel de sua vida, com um desfecho que, de tão ridículo, se torna hilário.

“Machete” com certeza embutiu esperanças em todos os fãs de “cult movies” mundo a fora, mas com poucas cenas boas e uma história simplória e esquecível, somos obrigados a ser realistas e constatar que o filme é simplesmente ruim. No final, talvez este seja o grande desejo de Rodriguez, de que o filme seja realmente ruim, para assim, de uma forma diferenciada, ele se torne inesquecível. Vai saber.

Ronaldo D`Arcadia
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