Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 13 de novembro de 2010

RED – Aposentados e Perigosos [2010]: sem pretensão, mas bem divertido

Esta adaptação da graphic novel homônima de Warren Ellis consegue ser bastante superior ao seu material de origem, resultando em um filme que diverte pelas situações absurdas apresentadas e, principalmente, por seu elenco afiado.

Warren Ellis é um tremendo quadrinista. Dono de um senso de humor extremamente ácido, um saudável desrespeito às autoridades e um dom nato para imaginar situações bizarras e personagens complexos, Ellis é responsável pela criação de uma das minhas séries favoritas, a fantástica “Planetary”. Nessa onda de adaptações de HQs para o cinema, uma de suas obras menores para a DC Comics, feita em conjunto com o desenhista Cully Hammer, a curtíssima “RED – Aposentados e Perigosos” originou este filme homônimo.

Percebendo que se fizesse uma mera transposição do texto de Ellis o resultado seria um média-metragem, os roteiristas John Hoeber e Erich Hoeber apenas pegaram um pouco da premissa básica da graphic novel e algumas de suas cenas de ação para o script da fita, mudando até o nome de seu personagem principal. Aqui, Frank Moses (Bruce Willis) é um agente da CIA aposentado, que passa seus dias tentando se adaptar à sua nova rotina e flertando por telefone com sua atendente do Serviço Social, a entediada Sarah (Mary-Louise Parker).

Do nada, Frank se vê obrigado a voltar para o jogo da espionagem, quando um esquadrão de extermínio surge à sua porta e ele se torna um inimigo do estado, caçado de maneira implacável pelo agente (Karl Urban). Levando a também ameaçada Sarah como bagagem, o aposentado apela para a ajuda de seu velho inimigo Ivan (Brian Cox) e reúne a velha guarda de companheiros de luta, que incluem o bem-informado Joe (Morgan Freeman), o ensandecido Marvin (John Malkovich) e a atiradora Victoria (Helen Mirren).

O diretor Robert Schwentke faz uma aposta segura em cenas de ação à moda antiga, sem exagerar na câmera lenta ou na manjada edição epiléptica, mas também arrisca pouco. Tiroteios e Bruce Willis formam sempre uma boa combinação, além de ser engraçadíssimo ver Willis em um combate mano-a-mano com Karl Urban, contando ainda com um discurso “velho contra o novo”.

Ver figuras como Helen Mirren e John Malkovich brandindo armas como se fosse a coisa mais natural do mundo para eles também traz uma carga extra de diversão à fita. Esses dois atores, em especial, se saem de maneira magnífica e surgem extremamente descontraídos em cena, brincando com suas imagens de dama inglesa e de excêntrico, respectivamente. Mary-Louise Parker surpreende. Linda e com um timing cômico ótimo, a atriz tem uma química com Bruce Willis,  facilitando que o casal Frank/Sarah tenha sentido junto o público, algo essencial para que a audiência mergulhe na película.

Willis, por sua vez, faz o que sabe fazer de melhor como herói de ação, mas permite o filme fazer piadas sobre sua conhecidíssima vaidade, em uma ótima tirada sobre a deficiência capilar do astro. Ainda em forma e fazendo jus à sua fama de durão, o eterno John McClane torna crível que um quase sexagenário consiga lutar (quase) de igual para igual com alguém com metade da sua idade.

É uma pena que Morgan Freeman acabe passando quase que despercebido pela fita, com apenas uma cena mais relevante para o personagem. Brian Cox aproveita muito bem o seu tempo em cena como um caricato ex-espião russo com um segredo junto a um membro do grupo de Frank. Já Karl Urban encarna de maneira segura seu papel como o metódico agente Cooper. A película ainda conta com ótimas participações especiais dos veteranos Ernest Borgnine e Richard Dreyfuss, este último no papel de um traficante de armas com um caráter mais do que duvidoso.

A montagem do filme, a despeito do bom ritmo, principalmente em suas cenas de ação, possui falhas. A dinâmica de transições com cartões postais de cada cidade não me agradou, ficando excessivamente esquemática. Sim, é uma referência aos cartões que Sarah tem em seu cubículo, mas o recurso é tão deselegante que simplesmente não funciona.

Robert Schwentke fez um belo trabalho nas cenas de ação, mas eu esperava um trabalho visual mais apurado por parte do cineasta, que trabalhou muito bem este aspecto (e com muito menos recursos) no romance “Te Amarei Para Sempre”. Algumas sequências são mais inspiradas, como o duelo de Marvin contra uma agente que lhe chama de “velho”, mas a maioria das cenas de ação, embora sejam loucas em suas concepções, são filmadas de modo bastante ortodoxo.

Isto torna “Red – Aposentados e Perigosos” uma fita que vale mais por seu elenco do que por qualquer outro motivo, algo raro dentro de seu gênero. É um longa sem grandes pretensões de ser um clássico do seu nicho, cumprindo com louvor a missão de divertir o seu público.

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Thiago Siqueira
 é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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