Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 01 de setembro de 2010

Nosso Lar

O longa, que é baseado na obra mais conhecida de Chico Xavier, entra no universo espírita e detalha a sua complexa superfície estrutural.

Dando continuidade aos lançamentos cinematográficos que abordam a vida e a obra do famoso médium brasileiro Chico Xavier no ano de seu centenário, “Nosso Lar” utiliza a experiência espiritual do médico André Luiz para mostrar, de forma bem detalhada, parte da estrutura espírita e toda sua complexidade dentro de “planos” em que situam-se. Além de mostrar visualmente a estrutura do “Lar” dos espíritos, o filme explica também como funciona o tempo, como os sentimentos são julgados, enfatiza os outros planos existentes, mostra como é a evolução, fala da reencarnação e até como eles conseguem o contato com a Terra. É neste momento em que se sugere a existência de um médium bastante requisitado. Alguém advinha quem seja?

Inicialmente, o que mais chama a atenção são os efeitos visuais, e eles estão em quase toda a obra. Produzidos em grande parte no Canadá, em determinados momentos, eles funcionam muito bem. A imagem do médico caminhando no plano dos suicidas é de um visual surreal e extremamente apropriada para a cena, sendo um marco para o cinema nacional. Em outras tantas situações, eles beiram o amadorismo, com técnicas bem desgastadas na telona. Ainda assim, vale o esforço e a ousadia de incrementar efeitos em grande escala com um resultado bem interessante.

Ao tratar dos efeitos visuais, é importante também acompanhar o trabalho feito com a fotografia. Ueli Steiger teve a arriscada tarefa de cumprir com uma ideia que mexe com a filosofia de muita gente. Seu trabalho não mostrou nada além do que já se esperava, dessa forma, algo considerado padrão, variando no tom azulado dominante, imagens claras no plano do bem e escuras no plano sombrio. Algumas cenas trabalham com as cores estouradas e a maioria delas sofreu alguma modificação tecnológica.

A direção e roteiro do longa ficou a cargo de Wagner de Assis, que teve a ideia da adaptação há cinco anos. E tanto empenho para a realização da obra pode ser visto em seu trabalho principalmente como diretor. Ângulos inteligentes, sequencias bem trabalhadas e um clima propício para a temática. Tudo isso é fruto de um longo trabalho cuidadosamente pensado, já que se trata de um tema que envolve  um sentimento de milhares de pessoas. Como o próprio diretor diz, o filme faz pensar e refletir sobre as origens. Já o seu roteiro é bem fraco e repleto de diálogos vazios.

O elenco, diferente de “Chico Xavier – O Filme”, tem poucos nomes conhecidos . Os mais lembrados são os de Ana Rosa, Paulo Goulart, Othon Bastos e Wagner Schünemann. No entanto, o maior destaque não é nenhum deles.  O  intérprete principal é Renato Prieto, que se preparou durante seis meses e mostrou êxito no longa. Na pele do médico André Luiz, ele demonstra em todas as fases do personagem uma importante verdade que muito acrescenta à trama. Dúvidas, raivas, culpa, arrependimento, até a evolução dentro do plano, tudo é desenvolvido com competência pelo ator.  Outro que também faz bonito é Fernando Alves Pinto na pele de Lísias. Suas explicações servem não apenas para o recém chegado, mas também para o público cheio de dúvidas. A missão foi bem realizada pelo rapaz.

A trilha sonora composta totalmente por Philip Glass apresenta uma emoção no nível certo. Sua vibração consegue efeito até onde não tem, como nas cenas apenas de paisagem. Ela toca com sua suavidade que se complementa com a grande complexidade do tema. O som do piano exerce diversas funções na mesma sequência. Ele faz uma comunicação entre o pai e a filha, emociona os personagens e o espectador, denota um clima nostálgico e realça até a fotografia da cena. Um trabalho excelente de quem sente e percebe o clima antes de executar o seu trabalho.

“Nosso Lar” merece ser visto não apenas pela temática abordada, já que o roteiro não consegue fugir do comum, mas pelo seu bom trabalho de produção que não deixou escapar nada. Com efeitos visuais bem interessantes aos olhos nacionais e um conjunto que se complementa, o filme é uma boa surpresa ao espírito do cinema nacional.

Marcus Vinicius
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