Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 24 de julho de 2010

Predadores (2010): não é um desastre, mas também não é um bom filme de ação

Várias referências ao filme original da série e algumas boas intenções não salvam este longa da mediocridade.

Como conceito, os alienígenas da série “Predador” são ótimos. Caçadores silenciosos que, vindos de outro mundo, tiram os seres humanos do topo da cadeia alimentar. No entanto, os personagens renderam apenas um bom filme, justamente o original que, comandado por John McTiernan, misturava na dose certa humor, tensão e ótimas cenas de ação, tudo isso temperado com um Arnold Schwarzenegger em seu auge de representante máximo da masculinidade oitentista.

De lá para cá, tivemos uma sequência fraca em 1990 e os dois equívocos cinematográficos dos crossovers “Alien Versus Predador” (e chamar o segundo exemplar de “equívoco” é um belo de um elogio). Então, eis que chega Robert Rodriguez, fã declarado do primeiro longa, para produzir essa revitalização da franquia, com Nimród Antal na cadeira de diretor deste “Predadores”, fita que reconhece a existência das duas películas da série original e ignora (sabiamente) os dois “AVP”.

No entanto, parece que Rodriguez, Antal e os roteiristas novatos Alex Litvak e Michael Finch foram com muita sede ao pote. “Predadores” é um filme que erra em seus momentos de humor e jamais se decide se quer se dedicar a ação gore ou ao suspense, gerando um rocambole cinematográfico que simplesmente não encontra seu ritmo e acaba por – pecado dos pecados – entediar o público em seu miolo.

O começo é bastante promissor, com grandes guerreiros da Terra sendo, literalmente, jogados em uma selva estranha. Dentre eles temos um mercenário americano (Adrien Brody), uma militar israelita (Alice Braga), um soldado russo (Oleg Taktarov), um miliciano africano (Mahershalalhashbaz Ali), um membro da Yakuza (Louis Ozawa Changchien), um assassino no corredor da morte (Walton Goggins), um membro de um cartel de drogas mexicano (Danny Trejo) e… o carinha do seriado “That ’70s Show” (Topher Grace).

Após uma série de exploração e de diálogos, o grupo percebe (com certa demora) que eles estão em uma reserva de raça alienígena e que eles são as presas. A partir daí, começa um jogo de gato-e-rato entre os humanos e os predadores, mostrando até diferentes facções dos alienígenas. Há ainda outra surpresa, com uma referência um pouco vergonhosa a “Apocalypse Now” provida por Lawrence Fishburne (que estava naquele filme, aliás).

Todos os personagens são extremamente superficiais e bem estereotipados. Até aí, tudo bem. Os protagonistas dos dois longas anteriores da série apresentavam essas mesmas características. A questão é que aqueles personagens apresentavam uma camaradagem que permitia com que o público sentisse cada uma daquelas perdas. Como aqui temos um bando de estranhos e, dentre eles, figuras nada simpáticas, simplesmente não nos preocupamos com o que vai acontecer com aqueles homens e com aquela mulher.

Outro ponto negativo é que o roteiro de Litvak e Finch se sente na obrigação de explicitar a dubiedade do título “Predadores”, ao colocar a personagem de Alice Braga em um pequeno diálogo com o mercenário de Brody falando como eles são predadores da raça humana e que não merecem voltar para o nosso planeta e bla bla bla. Ou seja, a produção quis deixar óbvio algo que os dois primeiros filmes já deixava claro sem diálogos, chamando o público de idiota na cara dura e ignorando uma máxima do cinema, que é “mostre, não fale”.

Aí adentramos no que deveria ser o carro-chefe do filme, que são as cenas de ação. A despeito do visual assustador da floresta onde os personagens são jogados, dos cenários bem construídos e claustrofóbicos mostrados e até da excelente fotografia noturna, que nos permite ver o que está acontecendo (algo raro no cinema de ação atual), isso tudo não se converte em choque ou em tensão. Não há nenhuma cena que se compare com a descoberta dos corpos esfolados ou com o ataque aos rebeldes no primeiro longa e olha que se trata de um trabalho com quase 30 anos de idade!

Parece realmente que Nimród Antal atirou para todos os gêneros e só acertou em um, e de raspão. Apenas no terço final da película temos cenas dignas de nota, incluindo uma caçada noturna, um samurai contra um predador (na melhor tradição dos filmes do gênero) uma batalha entre predadores e uma homenagem (ou imitação de menor qualidade) do confronto final entre um humano e um predador do original. A impressão que dá é que todo o segundo ato da fita é dispensável, algo que compromete e muito a integridade de uma produção que já começava perdendo por não apresentar figuras interessantes.

Adrien Brody até se revela um herói de ação digno e Alice Braga mostra que consegue segurar a onda em filmes de ação sem perder a o toque feminino, mas os dois estão desperdiçados ali, sem muito material decente com o que trabalhar. Brody ainda assume uma voz rouca desnecessária para a composição de seu personagem, mas nada comprometedor. Sem querer puxar a sardinha da brasileira, ela é a que melhor se sai na tela.

Quanto ao restante do elenco, Danny Trejo sai de cena sem dizer ao que veio, Topher Grace foi claramente escalado para o filme errado, Lawrence Fishburne erra o tom completamente como o seu Noland e os outros atores estão só fazendo figuração de luxo, infelizmente.

“Predadores” não é um desastre no nível dos longas que mostraram os encontros das criaturas com os aliens, mas também não é um bom filme de ação, de suspense ou de ficção. Tenta agradar os fãs com um caminhão de referências à primeira aparição das criaturas, mas ficou pelo meio do caminho, infelizmente.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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