Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de junho de 2010

Esquadrão Classe A

Leve e divertido, mesmo exagerando no americanismo em alguns pontos, esta adaptação do seriado oitentista consegue ser um filme de ação decente ao mesmo tempo em que presta boas homenagens ao material original e aos seus fãs.

Antes de passar à análise do filme, já aviso que evitarei comparações entre o filme e a série, mesmo tendo acompanhado esta última por meio da TV por assinatura. Basta deixar claro que os personagens principais tiveram todas as suas características básicas respeitadas. Adotando a velha tática de contar uma história de origem, esta versão de “Esquadrão Classe A” acerta ao adotar o dinamismo como sua principal característica.

A despeito de o filme ter a missão de nos apresentar aos seus protagonistas logo de cara, o longa não interrompe sua ação para nos dizer quem é quem, com o diretor Joe Carnaham se aproveitando da própria ação para fazer isso e expor o que liga os quatro membros de um grupo completamente diversificado, indo a um fôlego só desde a introdução até o clímax, praticamente sem dar espaço para o público respirar.

O quarteto é formado pelo mestre estrategista Coronel Hannibal Smith (Liam Neeson), o conquistador Tenente “Cara de Pau” Peck (Bradley Cooper), o mais que competente e completamente insano piloto Murdock (Sharlito Copley) e pelo musculoso pau-pra-toda-obra Bosco “B.A.” Barracus (Quinton ‘Rampage’ Jackson). Conhecidos como Esquadrão Alfa (ou Classe A), o grupo é o mais respeitado dentre as operações secretas do exército americano. No entanto, os quatro são presos e desonrados ao serem acusados pelo roubo de placas de impressão de moedas e pelo assassinato de um general.

Libertados com a ajuda do misterioso agente da CIA Lynch (Patrick Wilson), o Esquadrão Classe A tentará limpar o seu nome e capturar o grupo mercenário Floresta Negra, liderado pelo maquiavélico Pike (Briam Bloom), tendo ainda em seu encalço a bela Tenente Sosa (Jessica Biel), dona de um passado em comum com Peck e determinada a recapturar o esquadrão.

Em matéria de ritmo, o filme parece uma mistura de “A Cartada Final” (último trabalho do diretor Joe Carnaham) com o primeiro exemplar cinematográfico “As Panteras” (embora longe de ser tão bobo quanto este último). As tiradas sarcásticas e piadas irônicas feitas em diálogos rápidos e recheadas por uma boa dose de violência, típicas dos filmes de Carnaham, estão lá, mas aliadas à sequências de ação extremamente elaboradas e repletas de efeitos especiais.

Estas, aliás, costumam ser narradas por Hannibal, o homem que adora quando seus planos dão certo. A despeito de este recurso ressaltar a inteligência o líder do esquadrão, isto acaba cansando um pouco o público pelas diversas vezes que tais narrações acontecem. No entanto, a velocidade com quais as coisas acontecem em cena acabam compensando esta deficiência.

Os quatro protagonistas são bastante carismáticos e se equilibram muito bem em cena. Liam Neeson assume sua postura habitual de homem sábio como Hannibal e já chega impondo respeito junto ao público, algo importantíssimo para um líder. Sharlito Copley encarna a figura a figura mais divertida em cena, com seu insano Murdock arrancando risadas do público todo momento em que surge na tela, principalmente em colaboração com Quinton ‘Rampage’ Jackson, como B.A. O ex-lutador, aliás, possui uma participação surpreendentemente efetiva, a despeito do estranhíssimo desenvolvimento de um arco “dramático” envolvendo seu personagem se tornando um soldado pacifista.

Bradley Cooper e Jessica Biel surgem como os “colírios” para os públicos feminino e masculino. O Cara de Pau de Cooper até que ganha um bom espaço para aprontar das suas, mas Biel está muito desperdiçada no filme, o que é uma pena. Enquanto isso, Patrick Wilson parece estar se divertindo muito como o canastrão Lynch, enquanto Brian Bloom encarna seu Pike de uma maneira adequada e só.

Os efeitos especiais são efetivos quando se utilizam de técnicas práticas, mas a parte computadorizada deixa um pouco a desejar, com algumas cenas um tanto quanto artificiais demais. No entanto, o público pode até relevar isso, graças ao fato de que o filme simplesmente deixa as coisas seguirem sem muita seriedade.

A fotografia do filme é bastante adequada, se destacando em uma cena na chuva e durante o clímax da fita. Como já citado, a edição tem uma pegada rápida bastante adequada ao espírito da fita e a trilha sonora brinca muito com o tema original da série, podendo fazer os fãs saudosistas saírem da sala assobiando a melodia sem notar.

O grande incômodo do filme é realmente o fato de ser colocar os EUA como uma polícia mundial de uma maneira tão exagerada que deixa até o espectador médio se perguntando onde estão as autoridades locais. Não chega a atrapalhar a diversão, mas é algo ideologicamente estranho.

Entre mortos e feridos, esse filme é um entretenimento bem agradável, sendo um potencial início de uma nova cinessérie, com um segundo capítulo bem mais próximo da rotina do seriado. Se isso de fato se concretizar, já posso ouvir Hannibal dizendo seu habitual “Eu adoro quando um plano dá certo!”.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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