Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 05 de junho de 2010

Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo

A adaptação do videogame homônimo cumpre ao que se propõe. Nada além.

Sabe aqueles filmes genuinamente hollywoodianos, com direito a herói se apaixonando pela mocinha enquanto os dois tem de enfrentar as armadilhas montadas pelo vilão? “Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo” é assim, jamais negando sua origem e suas intenções comerciais. O problema é que ele é tão preso às amarras de Hollywood que se torna a verdadeira representação da palavra “clichê”. Por isso, não se espante se no meio da mais perigosa ação, Dastan parar, olhar para seu envolvimento amoroso e beijá-la, enquanto literalmente o mundo acaba ao redor deles. Sem apresentar nada de novo, mas cumprindo os seus objetivos (por mais limitados que eles sejam), “Príncipe da Pérsia” diverte, principalmente graças às belas cenas de ação dirigidas por Mike Newell (“Harry Potter e o Cálice de Fogo”).

Na trama, Jake Gyllenhaal é Dastan, um príncipe adotivo que traz na coragem sua principal virtude. Ele é um dos líderes da ocupação ao reino de Alamut, que esconderia armas misteriosas de enorme potência por trás de seus altos muros e soldados dedicados. As lutas favorecem o povo pérsia, que dominam a região, mas são incapazes de encontrar qualquer ameaça que justifique o embate. E é questionando a existência dessas armas, que Dastan conhece a geniosa princesa Tamina (Gemma Artenton), que guarda bem mais segredos do que ele pensa.

As circunstâncias levam-na a se tornar a futura esposa do rapaz, apesar dos iniciais desentendimentos entre eles. Os dois terão de ficar ainda mais próximos depois que Dastan é acusado de matar o próprio pai, o rei da Pérsia, em uma cilada armada para ele. Caçado a mando de seus dois irmãos, ele foge com Tamina, que revela-lhe a existência de uma adaga que permite viajar no tempo. Tentando provar sua inocência no crime, o príncipe encontrará no objeto a razão para a traição que sofreu, além de utilizá-lo como uma forte proteção.

Adaptação do game homônimo de 2003, o filme utiliza praticamente todos os elementos que rege a cartilha de Hollywood, desde a estrutura narrativa até a construção de seus personagens. Sabe-se, no entanto, que as regras servem apenas para guiar, não funcionando como fórmulas “fechadas”. Os roteiristas Boaz Yakin, Doug Miro e Carlo Barnard parecem não entender a máxima (numa possível influência do megaprodutor Jerry Bruckheimer, de “Piratas do Caribe”) e trazem na previsibilidade o grande déficit de “Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo”.

Diante disso, torna-se extremamente difícil encontrar identificação com um longa que é nada mais do que a cópia de outras obras. Dastan é um protagonista extremamente comum, apenas dono de uma atleticidade exuberante. A excentricidade, que tão bem encontrou espaço na Hollywood de Bruckheimer com Jack Sparrow, passa longe dele. É um mocinho “quadrado”, de boa índole, solteiro, disposto a lutar por tudo e por todos, incluindo seu mais novo affair. Tamina, aliás, até que é mais brava e durona do que as heroínas comuns, mas o destino faz questão de amolecer seu coração.

Os vilões também não destoam. São meros indivíduos ambiciosos, que buscarão agir da maneira mais incorreta possível para se tornar o homem mais poderoso do mundo. O roteiro, porém, tem seus méritos. Sabe como incluir com sutileza a comédia, tão bem representada por Alfred Molina. O romance entre os protagonistas também ocorre de maneira gradual, usando a longuíssima e chata duração do filme em seu favor. Yakin, Miro e Barnard no entanto, acham nas diversas cenas de ação a grande atração da película.

A isso o trio deve vários agradecimentos ao seu diretor, Mike Newell. O cineasta sabe como explorar as possibilidades de uma adaptação de videogame e exagera sem pudor. Pulos por sobre as construções, cambalhotas, intensa utilização de armas brancas sobram no filme. E o melhor: grande parte dessas sequências funciona, mesmo com o decepcionante desfecho. Newell até demora a pegar o ritmo, mas assim que o encontra justifica, em parte, por que as fórmulas de Hollywood fazem sucesso até hoje.

Tecnicamente, o filme conta com uma rápida e intensa edição, que peca apenas na introdução demasiadamente lenta. A trilha sonora de John Seale é um espetáculo a parte. Pautada por temas musicais do Oriente, a música é a cereja no bolo das ótimas cenas de ação. E se a direção de arte é impecável, a fotografia oscila entre momentos de enorme beleza visual e outros em que denuncia que tudo foi filmado num estúdio de proporções gigantescas. A primeira cena de luta retrata bem essa fragilidade.

Diante de obras como “Street Fighter – A Última Batalha” ou “Super Mario Bros”, “Príncipe da Pérsia – As Areias do Tempo” até que se destaca como adaptação cinematográfica de games, mas não significa tanto ao lado do apenas bom “Silent Hill”. Com um diretor competente, o filme poderia ser bem melhor se encarasse as regras de Hollywood como sugestão e não como lei.

Darlano Didimo
@rapadura

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