Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 15 de maio de 2010

O Preço da Traição

Amanda Seyfried é o que há de melhor neste sensual drama de Atom Egoyan.

A maior estrela de “O Preço da Traição” é, sem dúvidas, Amanda Seyfried. Revelada em 2004, quando participou da comédia juvenil  “Meninas Malvadas”, a atriz passa atualmente pela melhor fase de sua carreira. Nada menos do que três filmes protagonizados por ela, incluindo este, chegaram ou irão chegar aos cinemas brasileiros em cerca de dois meses.  Alguns podem argumentar que seus projetos nem são tão bons assim. Mas os melhores profissionais sempre saem ilesos  de produções de gosto duvidoso. Foi assim em “Mamma Mia!” e “Garota Infernal”. E depois de ofuscar a bela Megan Fox e conseguir se destacar ao lado da super talentosa Meryl Streep, Seyfried desvia a atenção de Julianne Moore para ela neste tórrido drama dirigido por Atom Egoyan.

Seyfried interpreta a moça que leva o nome original do filme, “Chloe” (em mais uma tradução desnecessária dos distribuidores locais).  Com seus ondulados cabelos loiros e enormes olhos verdes, ela sobrevive satisfazendo sexualmente alguns carentes clientes de uma grande metrópole americana. Homens casados é o seu público mais comum, mas Chloe tem uma surpresa das mais inusitadas quando conhece a doutora Catherine (Julianne Moore) em um caro restaurante da cidade.

Desconfiada de uma suposta traição do marido David (Liam Neeson) durante uma viagem a Nova Iorque, a médica decide contratar a moça para testar a fidelidade de seu companheiro de longa data. A nascente parceria tem um início revelador. Mas o que deveria ser um contrato informal de curto período dura um pouco mais, trazendo consequências contraditórias. Os encontros “secretos” com David e suas respectivas descrições por parte da acompanhante acabam se tornando uma rotina excitante e perigosa para Catherine e Chloe.

Responsável pelo aclamado longa-metragem “O Doce Amanhã”, o cineasta egípcio Atom Egoyan entrega uma película que exala sensualidade em boa parte de suas cenas. O clima noir dá o tom a esta trama cercada de personagens que trazem na libido acentuada uma de suas principais características. Desde a própria Chloe até o filho adolescente de Catherine, todos são expostos como pessoas extremamente sexualizadas. E o diretor procura defender essa proposta através de um comando de câmera, edição e fotografia que transpõem esse sentimento para além da tela grande.

“O Preço da Traição” é um thriller erótico  bastante pretensioso, cheio de fortes diálogos e bonitas tomadas que valorizam as formas e a beleza de suas mulheres. Amanda Seyfried e Julianne Moore são as principais peças de sedução de Egoyan. E apesar da bela relação e da ótima sincronia entre as duas, é a primeira quem mais se destaca. Chloe deve funcionar como objeto de desejo, e Seyfried sabe como transformá-la em uma menina-mulher extremamente sexy e misteriosa. O vulgar, no entanto, passa longe de sua performance fascinante. A cena em que ela encara a câmera, olhando diretamente para o espectador, é o auge de um trabalho impressionante por parte de uma ascendente atriz.

Julianne Moore é capaz de retratar a confusão mental pela qual está passando Catherine. Mas nada pode fazer diante de um roteiro que  sacrifica sua personagem para contar uma história que chega a dialogar com o “sem pé nem cabeça”. Liam Neeson vira um coadjuvante de luxo mal aproveitado que pouco chegamos a conhecer. Enquanto que Max Thieriot é responsável pelo papel mais mal inexplicado de todo o filme. Como o jovem Michael, filho do casal, ele se torna um empecilho chato de uma trama já falha.

Adaptado do filme francês de 2003, “Nathalie X”, o roteiro do longa é escrito por Erin Cressida Wilson, que volta a mergulhar na mesma temática de seus filmes anteriores, voltando a errar nos mesmos pontos. Em “A Pele” e “Secretária”, a roteirista mostra histórias que tem a sexualidade como um de seus principais motes, senão o maior deles. A intensidade  da vida de suas protagonistas é mudada e, no entanto, nunca apropriadamente justificada e defendida. Em “O Preço da Traição”, Wilson traz uma introdução correta, mas acaba se perdendo do meio para o fim.

Catherine tem razão ao desconfiar da infidelidade do marido e procurar Chloe. Até os primeiros encontros entre os dois, o filme é cativante, principalmente por optar demonstrar um ponto de vista particular nesses momentos de intimidade. À medida que a relação entre as duas cresce, entretanto, a trama busca saídas questionáveis, trazendo na ousadia o seu maior problema. Além disso, o roteiro faz questão de descontruir todo o universo palpável que justificava as ações de Catherine, transformando-a em uma ciumenta problemática.

Encerrando sua história com mais um furo de roteiro e uma insinuação  ridícula, “O Preço da Traição”  sai de uma ótima trama amorosa para uma péssima fita que aborda a obsessão. A sensual direção de Atom Egoyan não compensa o roteiro falho de Erin Cressida Wilson. Se há alguém que sai ganhando com o filme, essa é Amanda Seyfried. A atriz se estabele como uma das mais talentosas de sua geração, demonstrando versatilidade. De uma adolescente arrogante que odeia Lindsay Lohan  até uma prostituta cheia de sex-appeal, ela sabe o que faz.

Darlano Didimo
@rapadura

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