Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 18 de abril de 2010

As Melhores Coisas do Mundo

As dúvidas e os anseios adolescentes nunca foram tão bem representados pela dramaturgia nacional.

O novo filme da premiada cineasta Laís Bodanzky, “As Melhores Coisas do Mundo”, reúne nomes conhecidos da boa safra de novos atores da dramaturgia brasileira para contar a história de um adolescente paulista de classe média que enfrenta os conflitos típicos da idade, em meio ao burburinho de uma tradicional vida escolar.

Amparada por um elenco de protagonistas escolhidos entre os próprios alunos de uma instituição de ensino, Bodanzky fez um filme leve, sem grandes pretensões, mas que satisfaz o público espectador justamente por não teatralizar a representação de uma geração que não precisa ser distorcida para parecer exagerada. “As Melhores Coisas do Mundo” é um filme jovem, para jovens, e seu ritmo ágil pode incomodar quem espera por um drama sóbrio e maduro.

O filme acompanha um mês da vida de Mano (Francisco Miguez), adolescente que representa o substrato de todas as angústias e problemas da idade. Ele divide seu tempo e suas reflexões entre aulas de guitarra, tentativas de conquistar uma garota, desabafos de sua melhor amiga e o divórcio dos pais. Um tanto perdido entre responsabilidades que não podem ser adiadas, Mano é bombardeado por conselhos e recomendações dos adultos, que de certa forma acabam tomando o papel de antagonistas da história.

Cerca de 2.500 pessoas, entre protagonistas e figurantes, participaram das filmagens de “As Melhores Coisas do Mundo”. Quase todo o elenco jovem do filme foi selecionado pela diretora entre os estudantes comuns dos colégios de São Paulo, que também receberam a oportunidade de ler, criticar e sugerir alterações no roteiro do longa. A estratégia funcionou e, apesar de ser baseado na série de livros “Mano”, dos escritores Gilberto Dimenstein e Heloisa Pietro, o roteiro é marcado por situações que só uma mente adolescente poderia prever.

Apesar de iniciantes, os novos atores surpreendem e conseguem atuações que, de tão espontâneas, beiram o cinema documental. Estão mais a vontade do que os já conhecidos Fiuk, irmão do protagonista, e Paulinho Vilhena, o professor de guitarra. O elenco ainda conta com os sempre excelentes Caio Blat, no papel de um dos professores do colégio, Denise Fraga e Zé Carlos Machado, os pais de Mano.

O uso de características mais comuns ao cinema documental, como a presença de não atores e roteiro feito em colaboração com os personagens, aliadas ao fato de que boa parte da história acontece nos corredores de um colégio real, aproximam “As Melhores Coisas do Mundo” de outra produção recente, “Entre os Muros da Escola”, que em 2008 venceu a Palma de Ouro, em Cannes.

O filme de Bodanzky também possui inegável qualidade estética. Embora seja convencional em sua direção, ela não perde a oportunidade de brincar com a câmera e exibe técnicas interessantes que permitem congelar o tempo ao redor do protagonista.

As músicas que fazem parte da trilha sonora do filme acompanham a temática juvenil e acabam fazendo parte da lista de motivos que certamente não devem agradar ao público mais sóbrio. O mesmo acontece com a edição, um pouco ágil demais para a geração pré-MTV.

“As Melhores Coisas do Mundo” pode parecer a adaptação cinematográfica de um seriado adolescente de baixa qualidade, mas para quem viveu aquela crítica fase de dúvidas eternas e questões insolúveis, sair indiferente dos cinemas é quase impossível. Com um relato plausível, sem espaço para dramas baratos e situações improváveis, Bodanzky fez um filme que, se não é a perfeita representação do jovem brasileiro, é tudo aquilo o que ele não tem coragem de mostrar.

Jader Santana
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