Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 19 de dezembro de 2009

Tron – Uma Odisséia Eletrônica (1982): uma revolução tecnológica

Ah, os anos 80... Naquela época, o cinema nos fazia crer que a ciência era capaz dos mais absurdos feitos, inclusive de levar o homem a interagir com programas e games como se fossem outras pessoas. É com imenso saudosismo que revisitamos o clássico nerd da Walt Disney Pictures.

Os jovens de hoje podem não saber, mas houve um tempo no qual as interações entre os usuários e os computadores se davam através de comando extremamente longos e complexos e no qual os filmes não possuíam efeitos digitais. Um dos longas pioneiros em mixar animação computadorizada e filmagem live-action foi a aventura “Tron”, isso quase trinta anos atrás. Embora a fita tenha afundado nas bilheterias quando de seu lançamento, ela se tornou um pequeno cult, sendo referenciada em diversas obras, aparecido na franquia de games da Disney/Square “Kingdom Hearts” e até mesmo ganhando uma continuação, que está a caminho dos cinemas. Analisemos, então, este pequeno passo do cinema rumo ao mundo virtual, lançado no hoje longínquo ano de 1982.

Na história, o impulsivo programador de jogos Flynn (Jeff Bridges) é demitido do conglomerado tecnológico ENCOM quando Dillinger (David Warner), um colega ambicioso, rouba seus projetos para jogos para ascender na empresa. Com a ajuda do poderoso Programa Controle Mestre – ou PCM -, Dillinger começa a ter mais e mais influência na companhia.

As ambições do PCM amentam de maneira desenfreada, colocando os mundos real e virtual em sério risco. Com a ajuda do certinho Alan (Bruce Boxleitner) e de sua ex-namorada Lora (Cindy Morgan), Flynn tenta recuperar o que é seu de direito, mas acaba indo parar no mundo virtual como um joguete para o PCM, tendo como sua única esperança o heróico programa de segurança desenvolvido por Alan, Tron (também vivido por Boxleitner). Agora, usuário e programa são a única esperança dos dois mundos.

Escrito e dirigido por Steven Lisberger, “Tron” pode contar uma básica história de um reino dominado por um tirano, mas inova ao situar tal trama dentro de um universo povoado por programas de computador. Vale notar que cada programa recebe o mesmo rosto de seu criador e usuário, facilitando para o público reconhecer heróis e vilões. Outro fator que ressalta o maniqueísmo da fita é a dualidade de cores entre mocinhos (azuis) e bandidos (vermelhos).

A própria disposição dos personagens já mostra como Lisberger não quis fugir muito dos arquétipos de filmes de aventura, revividos poucos anos antes por George Lucas em “Star Wars”. Temos Flynn, o mocinho mais atirado e malandro interpretado por Jeff Bridges, o herói certinho Tron encarnado por Bruce Boxleitner, a mocinha disputada pelos dois, Yori (Cindy Morgan novamente), Sark (também vivido por David Warner) como o homem de confiança do “chefão” e o próprio mal encarnado, no caso, o PCM.

Chega a ser engraçado notar que os relacionamentos e reações dos personagens do mundo virtual são repetidos no “mundo real”. Assim, basta substituir Tron por Alan, Yori por Lora e Sark por Dillinger que os arcos e desenvolvimentos daquelas figuras mantém-se inalterado.

Este fato, que poderia parecer uma repetição dentro da própria trama, acaba enriquecendo-a, com o conceito de que os programadores e usuários acabam sendo espelhados por suas criações dentro do mundo virtual. Cada membro do elenco caiu como uma luva para encarnar seus respectivos estereótipos, de maneira bastante leve, mas sem grandes destaques em suas atuações.

O visual arrojado do filme (para a época) é o que mais chama atenção. Misturando animação digital, animação por rotoscopia e filmagens live-action, o longa compensa sua estrutura de roteiro simples através de seus efeitos. As clássicas corridas de lightcycles rondaram a imaginação de vários garotos nos anos 1980, bem como as disputas dos gladiadores eletrônicos.

Para os olhares de hoje, claro, os efeitos parecerão simples e tolos, muito parecidos com as imagens de pré-visualização adotadas pelos cineastas atuais ao verificarem como os efeitos finais de seus filmes irão se encaixar e com a mistura dos elementos computadorizados e reais sendo extremamente forçada, sempre com uma mão dos animadores tradicionais da Disney. No entanto, para a época, tal visual era simplesmente revolucionário e impressionou muita gente. Sim, os efeitos de “Tron” envelheceram mal, mas valem por seu caráter histórico. A trilha sonora do longa, assinada pela banda Journey, completa a sensação de nostalgia da produção.

Deste modo, “Tron” é uma aventura bastante simples e esquemática, mas que vale ser conferida pelos fãs de efeitos especiais para conhecer os primórdios de tecnologias atualmente corriqueiras. Mas o longa terá um sabor todo especial para aqueles que viveram a década de oitenta, seus videogames toscos e altamente viciantes e toda aquela atmosfera de que tudo era possível com um pouco de ciência estranha.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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