Superior ao anterior, mas ainda bastante imaturo, o filme incrementa sua trama com lobisomens, rapazes sem camisas e muitas juras de amor.
O que faz de um filme um fenômeno? Para desespero dos produtores de Hollywood não existe uma resposta certeira para essa pergunta. No entanto, alguns fatores contribuem consideravelmente para o sucesso comercial de uma película ou de uma franquia nos cinemas, entre eles: uma campanha publicitária bem feita, rostos bonitos estrelando a produção, tramas acessíveis ao grande público, mas acima de tudo um grande apelo adolescente.
Explorando essas características, mas contando ainda com o fato de ser uma adaptação de um best-seller, a saga “Crepúsculo” ganha repercussão a cada dia, algumas favoráveis, outras nem tanto. Com a chegada às telonas do segundo filme da série, os ânimos se exaltam e as expectativas aumentam. E “Lua Nova”, para o agrado de seus fãs e confirmação de seus detratores, permanece uma chata lamúria de um inconsequente e imaturo amor juvenil, apesar de ser superior, em alguns âmbitos, ao primeiro filme.
Ao contrário de “Crepúsculo”, este longa-metragem trata sobre a perda de um grande amor. Bella Swan (Kristen Stewart) está completando 18 anos e os inúmeros presentes que ganha são um indicativo de que ela realmente fez amizades na cidade interiorana que seu pai habita, Forks. O relacionamento com o vampiro Edward Cullen (Robert Pattinson) vai de vento em popa, mas uma situação desagradável o levará a se questionar sobre o futuro do casal: Bella é atacada por Jasper Cullen (Jackson Rathbone) após um pequeno acidente em que expõe seu sangue.
Com o intuito de protegê-la, Edward termina o namoro com a garota e parte para uma outra cidade acompanhado de sua família, assim como já fizeram várias vezes. Desconsolada, Bella passa por um período de desilusão recheado de muito choro e lamentos, em que se afasta até dos antigos colegas de escola. Até que o apoio de Jacob Black (Taylor Lautner) começa a preencher o vazio no coração dela. A amizade dos dois cresce a cada dia, assim como a busca de Bella por adrenalina. Porém, como não poderia ser diferente, Taylor também guarda um grande segredo: ele é um lobisomem. A moça agora deverá escolher quem a protegerá das ameaças da vampira Victoria (Rachelle Lefevre), que busca vingança pela morte de seu companheiro James: um vampiro ou um lobisomem.
Iniciada com um orçamento modesto para os padrões de Hollywood (foram US$ 28 milhões), a franquia não poderia ter tido um primeiro episódio mais fraco. Mais parecendo um telefilme de tão insosso e mal cuidado, o filme, ao mesmo tempo que decepcionou muitos espectadores, abriu margem para uma continuação que não poderia ser pior. E nesse sentido, “Lua Nova” não decepciona, mas também jamais empolga.
Ao longo de longuíssimas duas horas de duração o que se vê são contínuas juras de amor ditas por jovens apaixonados, com uma história mitológica como pano de fundo. Nunca vampiros e lobisomens pareceram tão desinteressantes, com seus poderes limitados e sua falta de carisma. Nem mesmo a franquia “Anjos da Noite” juntou esses dois seres de maneira tão isenta de excitação, mesmo que os últimos episódios sejam muito ruins. Para alegria das fãs, entretanto, sobra a exibição de atributos físicos masculinos. Afinal, quando não se tem uma trama interessante na mão, o apelo visual sempre surte efeito.
Assinado por Melissa Rosenberg e baseado na obra de Stephenie Meyer, o roteiro intensifica os conflitos amorosos, mas permanece sem aprofundá-los. Não que se cobre algo introspectivo, porque essa não é a proposta da franquia, mas algo no mínimo interessante poderia ter sido realizado. Aguentar um romance falsamente complexo com direito a um rio de lágrimas despejado por Bella não é das coisas mais agradáveis. Além disso, o triângulo amoroso de tão melodramático e sem razão de existir mais parece o de uma novela teen mexicana. Só fica faltando o confronto final entre os pretendentes para que tudo se complemente. E quase que ele acontece.
No entanto, deve-se ressaltar que dessa vez o desenvolvimento do romance entre Bella e Jacob é mais gradual e consequentemente mais convincente. Se em “Crepúsculo” estranhamos a instantaneidade do crescimento do relacionamento entre a garota e Edward, agora a roteirista utiliza boa parte do filme para justificar a paixão que a moça passa a nutrir pelo lobisomem. Mas, para contradição total do roteiro, o desfecho não condiz com a realidade mostrada e, mais uma vez, a saga confirma sua condição de romance imaturo.
Tentando incrementar a trama, a roteirista e a escritora inserem mais elementos do universo vampiresco, revelando a existência dos Volturi, uma espécie de família real dos vampiros. Mas tudo é feito de uma maneira tão tímida e sem maiores esclarecimentos que a sensação é de que tudo foi inventado sem a busca de uma fundamentação para os fatos. Além disso, o enredo falha ao praticamente ignorar a história dos lobisomens, tornando-os meros seres raivosos e musculosos que dispensam a utilização de camisas.
Se há algum responsável pelo salto de qualidade de “Lua Nova”, este é o diretor Chris Weitz (“A Bússola de Ouro”). Mesmo que sua missão fosse um tanto fácil de ser cumprida, dado o fracasso que foi a direção de Catherine Hardwicke, o cineasta realiza um trabalho competente e com poucas falhas, tornando a película visualmente mais agradável. Weitz acerta ao dispensar flashbacks desnecessários, reduzir as chatas panorâmicas de “Crepúsculo” e acrescentar câmeras lentas eficientes nas cenas de ação, mas erra ao explorar sem escrúpulos tomadas que exaltam os músculos dos jovens garotos, em cenas que tem a clara intenção de fazer as meninas suspirarem nos cinemas.
Tecnicamente, o longa conta com uma fotografia regular, que falha ao mudar o tom no último terço da fita. A trilha sonora não é lá um grande atrativo, mas pelo menos dispensa aquele ar de alternativo que “Crepúsculo” possuía. Já os efeitos especiais e a edição são o pior de “Lua Nova”. Os lobisomens mais parecem desenhos animados de tão mal feitos e a duração é desnecessariamente longa. Cortar meia hora do filme não faria nenhuma falta. Pelo contrário, beneficiaria a produção, dando-lhe mais ritmo.
Constituindo-se no maior fenômeno juvenil da atualidade, a série criada por Stephenie Meyer acaba de ganhar uma adaptação fiel e consequentemente melodramática de seu segundo episódio. No entanto, como costuma acontecer com fenômenos como este, não será uma crítica negativa que vai impedir o sucesso de “Lua Nova” nas bilheterias. Dessa vez, pelo menos, Robert Pattinson, Kristen Stewart e Taylor Lautner presenteiam seus fãs e todo o alvoroço que eles geraram com atuações mais expressivas.