Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 21 de novembro de 2009

Lua Nova

Superior ao anterior, mas ainda bastante imaturo, o filme incrementa sua trama com lobisomens, rapazes sem camisas e muitas juras de amor.

Lua NovaO que faz de um filme um fenômeno? Para desespero dos produtores de Hollywood não existe uma resposta certeira para essa pergunta. No entanto, alguns fatores contribuem consideravelmente para o sucesso comercial de uma película ou de uma franquia nos cinemas, entre eles: uma campanha publicitária bem feita, rostos bonitos estrelando a produção, tramas acessíveis ao grande público, mas acima de tudo um grande apelo adolescente.

Explorando essas características, mas contando ainda com o fato de ser uma adaptação de um best-seller, a saga “Crepúsculo” ganha repercussão a cada dia, algumas favoráveis, outras nem tanto. Com a chegada às telonas do segundo filme da série, os ânimos se exaltam e as expectativas aumentam. E “Lua Nova”, para o agrado de seus fãs e confirmação de seus detratores, permanece uma chata lamúria de um inconsequente e imaturo amor juvenil, apesar de ser superior, em alguns âmbitos, ao primeiro filme.

Ao contrário de “Crepúsculo”, este longa-metragem trata sobre a perda de um grande amor. Bella Swan (Kristen Stewart) está completando 18 anos e os inúmeros presentes que ganha são um indicativo de que ela realmente fez amizades na cidade interiorana que seu pai habita, Forks. O relacionamento com o vampiro Edward Cullen (Robert Pattinson) vai de vento em popa, mas uma situação desagradável o levará a se questionar sobre o futuro do casal: Bella é atacada por Jasper Cullen (Jackson Rathbone) após um pequeno acidente em que expõe seu sangue.

Com o intuito de protegê-la, Edward termina o namoro com a garota e parte para uma outra cidade acompanhado de sua família, assim como já fizeram várias vezes. Desconsolada, Bella passa por um período de desilusão recheado de muito choro e lamentos, em que se afasta até dos antigos colegas de escola. Até que o apoio de Jacob Black (Taylor Lautner) começa a preencher o vazio no coração dela. A amizade dos dois cresce a cada dia, assim como a busca de Bella por adrenalina. Porém, como não poderia ser diferente, Taylor também guarda um grande segredo: ele é um lobisomem. A moça agora deverá escolher quem a protegerá das ameaças da vampira Victoria (Rachelle Lefevre), que busca vingança pela morte de seu companheiro James: um vampiro ou um lobisomem.

Iniciada com um orçamento modesto para os padrões de Hollywood (foram US$ 28 milhões), a franquia não poderia ter tido um primeiro episódio mais fraco. Mais parecendo um telefilme de tão insosso e mal cuidado, o filme, ao mesmo tempo que decepcionou muitos espectadores, abriu margem para uma continuação que não poderia ser pior. E nesse sentido, “Lua Nova” não decepciona, mas também jamais empolga.

Ao longo de longuíssimas duas horas de duração o que se vê são contínuas juras de amor ditas por jovens apaixonados, com uma história mitológica como pano de fundo. Nunca vampiros e lobisomens pareceram tão desinteressantes, com seus poderes limitados e sua falta de carisma. Nem mesmo a franquia “Anjos da Noite” juntou esses dois seres de maneira tão isenta de excitação, mesmo que os últimos episódios sejam muito ruins. Para alegria das fãs, entretanto, sobra a exibição de atributos físicos masculinos. Afinal, quando não se tem uma trama interessante na mão, o apelo visual sempre surte efeito.

Assinado por Melissa Rosenberg e baseado na obra de Stephenie Meyer, o roteiro intensifica os conflitos amorosos, mas permanece sem aprofundá-los. Não que se cobre algo introspectivo, porque essa não é a proposta da franquia, mas algo no mínimo interessante poderia ter sido realizado. Aguentar um romance falsamente complexo com direito a um rio de lágrimas despejado por Bella não é das coisas mais agradáveis. Além disso, o triângulo amoroso de tão melodramático e sem razão de existir mais parece o de uma novela teen mexicana. Só fica faltando o confronto final entre os pretendentes para que tudo se complemente. E quase que ele acontece.

No entanto, deve-se ressaltar que dessa vez o desenvolvimento do romance entre Bella e Jacob é mais gradual e consequentemente mais convincente. Se em “Crepúsculo” estranhamos a instantaneidade do crescimento do relacionamento entre a garota e Edward, agora a roteirista utiliza boa parte do filme para justificar a paixão que a moça passa a nutrir pelo lobisomem. Mas, para contradição total do roteiro, o desfecho não condiz com a realidade mostrada e, mais uma vez, a saga confirma sua condição de romance imaturo.

Tentando incrementar a trama, a roteirista e a escritora inserem mais elementos do universo vampiresco, revelando a existência dos Volturi, uma espécie de família real dos vampiros. Mas tudo é feito de uma maneira tão tímida e sem maiores esclarecimentos que a sensação é de que tudo foi inventado sem a busca de uma fundamentação para os fatos. Além disso, o enredo falha ao praticamente ignorar a história dos lobisomens, tornando-os meros seres raivosos e musculosos que dispensam a utilização de camisas.

Se há algum responsável pelo salto de qualidade de “Lua Nova”, este é o diretor Chris Weitz (“A Bússola de Ouro”). Mesmo que sua missão fosse um tanto fácil de ser cumprida, dado o fracasso que foi a direção de Catherine Hardwicke, o cineasta realiza um trabalho competente e com poucas falhas, tornando a película visualmente mais agradável. Weitz acerta ao dispensar flashbacks desnecessários, reduzir as chatas panorâmicas de “Crepúsculo” e acrescentar câmeras lentas eficientes nas cenas de ação, mas erra ao explorar sem escrúpulos tomadas que exaltam os músculos dos jovens garotos, em cenas que tem a clara intenção de fazer as meninas suspirarem nos cinemas.

Tecnicamente, o longa conta com uma fotografia regular, que falha ao mudar o tom no último terço da fita. A trilha sonora não é lá um grande atrativo, mas pelo menos dispensa aquele ar de alternativo que “Crepúsculo” possuía. Já os efeitos especiais e a edição são o pior de “Lua Nova”. Os lobisomens mais parecem desenhos animados de tão mal feitos e a duração é desnecessariamente longa. Cortar meia hora do filme não faria nenhuma falta. Pelo contrário, beneficiaria a produção, dando-lhe mais ritmo.

Constituindo-se no maior fenômeno juvenil da atualidade, a série criada por Stephenie Meyer acaba de ganhar uma adaptação fiel e consequentemente melodramática de seu segundo episódio. No entanto, como costuma acontecer com fenômenos como este, não será uma crítica negativa que vai impedir o sucesso de “Lua Nova” nas bilheterias. Dessa vez, pelo menos, Robert Pattinson, Kristen Stewart e Taylor Lautner presenteiam seus fãs e todo o alvoroço que eles geraram com atuações mais expressivas.

Darlano Didimo
@rapadura

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