Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 07 de novembro de 2009

Jogos Mortais 6 (2009): os jogos sempre dão um jeito de continuar

Mais um “Jogos Mortais” chega aos cinemas com a promessa de desvendar novos mistérios do passado do assassino Jigsaw e resolver os problemas deixados em aberto. Ainda que seja melhor do que o péssimo “Jogos Mortais 5”, o novo longa perde o suspense e o horror deixados pelos três primeiros filmes.

Falar de “Jogos Mortais” todos os anos requer criatividade, que, por sinal, a franquia perdeu gradativamente. Durante seis anos, as armadilhas de Jigsaw (Tobin Bell) são trabalhadas com sadismo e horror, em maiores ou menores proporções, em uma trama que parece não ter fim. Os primeiros filmes são ótimas demonstrações de como o suspense e a tensão podem ser trabalhados em uma película que visa simplesmente mostrar um serial killer que, por achar a vida preciosa, expõe as pessoas em situações que as façam valorizá-la. Assim aconteceu com Amanda (Shawnee Smith), fiel seguidora do doente e doentio Jigsaw. Ao lado deles também apareceu o Detetive Hoffman (Costas Mandylor), que desde o filme anterior se põe à frente do legado do assassino. O problema de “Jogos Mortais 5” esteve justamente em transferir esse poder de julgamento de Jigsaw para Hoffman, o que o torna canastrão e antipático, coisa que nem mesmo Jigsaw e todo o seu sadismo eram.

A franquia estabeleceu uma marca que tirava o fôlego do público: o prólogo. Desta vez, apesar de ainda continuar com jogos bizarros, o prólogo não causa o efeito de tensão esperado e se configura como o pior já visto da franquia. O mais engraçado é que a armadilha do prólogo acaba sendo uma das mais interessantes de todo o “Jogos Mortais 6”, e sabe-se lá quem pode explicar essa ambiguidade. Para este sexto longa, foi planejado começar o filme exatamente onde o anterior terminou. Não se preocupe, o longa tem flashbacks até demais que tornam possível a compreensão e ligação dos fatos, ainda que seja recomendável conhecer um pouco dos nomes, vítimas e detetives dos filmes anteriores. Agora, Hoffman tenta limpar as pistas que deixou e continuar o legado de Jigsaw. Em paralelo, Jill (Betsy Russell) revela a todos o que Jigsaw deixou de orçamento para ela. Meio a esses dois pontos dramáticos do filme, novas vítimas, muitos miolos e sangue invadem a tela.

O roteiro de Marcus Dunstan e Patrick Melton parece que realmente se perdeu em ideias. As armadilhas vistas são praticamente repescagens do que já foi armado em outros filmes, deixando tudo bastante previsível. As maiores sacadas de “Jogos Mortais 6” poderiam estar em alguns pontos dramáticos, mas os roteiristas também se perdem em tais sequências. Aliás, este filme tem bastante drama, o que às vezes o torna sacal. Como destaque temos a volta de um personagem bem interessante dos filmes anteriores, mas que é completamente desvalorizado da trama e poderia ter muito a contribuir para o jogo de gato e rato que Hoffman vive. Como sempre, uma surpresa é aguardada para o desfecho da película, e até cria boas e falsas relações entre os personagens, mas muito do que está no terceiro ato é previsível, principalmente no que diz respeito a Hoffman e Jill. Novos segredos são revelados e associações são feitas aos outros longas, mas nada é tão eficaz ao ponto de fazer de “Jogos Mortais 6” o grande salvador da franquia que está indo por água abaixo.

Kevin Greutert, que editou os filmes anteriores, agora assumiu o cargo de diretor e é perceptível o orgulho que ele tem a assinar a película. Tanto nos créditos iniciais quanto nos finais, seu nome junto com um “A film by” estouram na tela. Pena é que ele ainda tem muito a aprender como diretor, já que talvez ele ache mais fácil enganar e distrair o público menos atento para que não percebam seus erros.  Greutert se sai mais sóbrio nas sequências dramáticas, mas quando a intenção é mostrar o terror e o sangue, o diretor não tem sucesso. Aliado a isso, a direção de arte e fotografia estão menos eficazes aqui, assim como no filme anterior, perdendo um pouco do gosto real e nojento da série. E acredite: ser assim é bom para o sucesso de uma franquia que gosta de revirar o estômago do público.

O diretor também tem pouco tato com seu elenco. Quem costuma dizer que não é preciso ser um bom ator para transmitir o pânico em filmes de suspense e terror precisa reavaliar suas ideias. O pavor pode se tornar bastante cômico com a falha de atores ruins e estragar um filme que não tem a comédia como objetivo. Em “Jogos Mortais 6”, os atores que interpretam vítimas são regulares, porém não é possível perceber uma boa direção de elenco de Greutert. No elenco principal, Costas Mandylor continua o canastrão de sempre e apático, perdendo apenas para Betsy Russell, que poderia trazer o charme feminino para a franquia, mas agora parece estar preocupada em apenas fazer caretas para a câmera. Os experientes Tobin Bell e Shawnee Smith dão um toque de saudosismo à trama, o que é sempre positivo.

Depois do péssimo “Jogos Mortais 5” e do cansaço do público com a série, não é de se espantar que “Jogos Mortais 6” não tenha tido uma boa recepção na estreia nos Estados Unidos, mesmo que este exemplar seja um pouco superior ao anterior. Ainda assim, faltam ideias e novas emoções para a trajetória de vida e morte de Jigsaw. Talvez falte mais ainda Darren Lynn Bousman e sua incrível capacidade de chocar. Falta até o próprio Jigsaw e Amanda, a melhor dupla de psicopatas vista nos últimos anos. De qualquer forma, os jogos sempre dão um jeito de continuar. Agora é esperar os próximos, já que não temos o poder de mandar parar antes que continuem estragando tudo.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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