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Colunas   quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Yves Saint Laurent: estrela nas passarelas e no cinema

Filmes retratam a trajetória de um dos maiores nomes da moda.

yves-saint-laurentEm abril deste ano estreou nas telonas brasileiras o longa “Yves Saint Laurent”, do diretor Jalil Lespert, baseado no livro “Cartas a Yves”, escrito pelo eterno companheiro e parceiro de negócios, Pierre Bergé. Tal filme deu bastante o que falar, principalmente no mundo na moda, tanto por colocar em foco novamente uma das maiores mentes criadoras do século XX, quanto pelo seu conteúdo e a forma que contou um pouco da história do estilista.

Lançado em 2010, “O Louco Amor de YSL” é narrado pelo próprio Bergé e focado no relacionamento de 50 anos dos dois. Uma outra cinebiografia foi lançada recentemente no festival de Cannes, intitulada “Saint Laurent”, do diretor Bertrand Bonello, traz no papel principal Gaspard Ulliel (“Hannibal – A Origem do Mal”). Aqueles que puderam assistir contam que é uma versão bem mais ousada da história do estilista, com muitas cenas de abuso de drogas e não teve o apoio de Pierre Bergé. Esse outro longa segue sem data de estreia agendada aqui no Brasil. Mas quem foi YSL?

Yves Henri Donat Mathieu Saint Laurent nasceu na Argélia e desde pequeno demonstrava seu interesse por moda, quando desenhava vestidos para suas irmãs. Se destacou nos estudos, ganhando até um concurso de novos talentos e seu primeiro grande emprego foi como assistente de ninguém menos que Christian Dior, em Paris. Em 1957, Saint Laurent assumiu o cargo de diretor criativo da Dior e revitalizou a Maison com várias criações inovadoras, incluindo o famoso vestido trapézio, com ombros estreitos e saia evasé.

Em 1960, YSL teve que se ausentar da Dior porque foi convocado a lutar na guerra de independência da Argélia, levando o estilista a ter um colapso nervoso e ter que ser tratado em um hospital psiquiátrico até se recuperar. Saint Laurent foi substituído permanentemente e então resolveu abrir seu próprio negócio com a ajuda financeira e administrativa de Pierre Bergé, que depois veio a ser seu marido.

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A década de 60 foi o auge do brilhantismo de YSL, que transformou o universo da moda feminina com criações como as botas até as coxas (muito copiadas depois), a jaqueta estilo safári, as bermudas com os laços nas bainhas, os vestidos em tubo com estampas geométricas em cores primárias remetendo ao cubismo e, finalmente, uma ideia que fez muito sucesso: o Le Smoking. O look era uma interpretação do guarda-roupa masculino para o feminino, algo como Coco Chanel já havia feito, mas dessa vez com mais ousadia, pois o composé era de calça masculina e camisa branca levemente transparente. Entre as personalidades que mais representavam o estilo de Laurent estava a atriz icônica Catherine Deneuve, amiga pessoal e musa inspiradora até o fim da vida dele.

A marca YSL se expandiu nos anos 80 e faz um sucesso absurdo até hoje, reinventando clássicos e apostando em acessórios como óculos e bolsas. O grande mestre faleceu aos 71 anos em 2008 e, em homenagem à contribuição do estilista para a moda mundial, seu companheiro Bergé criou um acervo de objetos, fotos e roupas para conceber a Fundação Pierre Bergé-Yves Saint Laurent. São mais de 5 mil peças de vestuário, 2 mil pares de sapatos, mais de 10 mil joias e centenas de chapéus criados por Saint Laurent desde o tempo da maison Dior catalogados e exibidos em exposições e retrospectivas pelo mundo afora.

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yves-saint-laurent-pierre-bergeFoi pensando nessa grande figura artística que Jalil Lespert criou um filme que foca bastante nos conflitos emocionais, na fama repentina e nos relacionamentos de Saint Laurent. Somos imersos no ambiente de drogas, excessos, loucura e criação em que o estilista vivia, sua dualidade entre o perfeccionismo e a depressão que constantemente o atormentava e, por fim, na imagem de pessoa doce e gentil que ele foi. O longa não conta a história completa do estilista, deixando o espectador sentindo falta de uma certa continuidade, mas ele aborda muito bem o início da carreira de Laurent na Dior nos anos 50 e a transição do rapaz tímido para uma pessoa extravagante nos anos 70 até a década de 80. A estética do filme é belíssima e conta com uma harmonização interessante ao trazer imagens em tons neutros nos primeiros anos de carreira e cores bem fortes na época mais conturbada emocionalmente da vida do estilista.

O ator principal, Pierre Niney, surpreende tanto na caracterização quanto na performance, gerando muita emoção nas plateias do mundo todo, mas principalmente para o próprio Pierre Bergé, que comentou de acordo com o site FFW: “Eu fiquei desconcertado. Até chateado porque é muito difícil. Às vezes eu cheguei a pensar que era o próprio Yves… É um sentimento enorme.” Contudo, o ator pouco conhecia a vida e o trabalho de YSL antes de ganhar o papel, mas ao assistir o filme, percebemos que Niney se empenhou bastante para aprender rápido. Infelizmente, o filme em questão foca muito no drama da vida pessoal de Saint Laurent e esquece um pouco de mostrar o quão verdadeiramente importante ele foi para a indústria da moda e a maneira de ver e se usar a moda feminina.

Bia Guedes
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