Cinema com Rapadura

Colunas   quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Especial Oscar 2018: entendendo melhor as categorias técnicas – Som

Qual é a diferença entre mixagem e edição de som? O que exatamente faz parte da trilha sonora de um filme? A resposta para essas e outras perguntas você encontra agora!

Neste domingo (04/03), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos realizará a cerimônia de entrega do Oscar, prêmio máximo da indústria do cinema. Novos vencedores escreverão seus nomes na história da premiação, novos cineastas chamarão atenção por suas conquistas, elogios e críticas serão feitas, possíveis injustiças e gafes serão cometidas, mas, principalmente, celebraremos a emoção que é assistir a um bom filme.

Como sempre, todos estão ansiosos para saber qual será eleito o melhor longa de 2017, quais serão os melhores atores, quem levará para casa a estatueta de melhor diretor, melhor roteiro, entre outros. São 24 categorias no total, mas 14 delas não costumam ser tão aguardadas quanto as principais, ou ter tantas pessoas palpitando acerca. São elas as chamadas categorias técnicas, que, apesar de não saltarem aos olhos de forma tão imediata quanto atuações, direção e roteiro, são tão importantes quanto. Cada uma conta com suas peculiaridades, processos específicos para escolha dos indicados. E sem elas, claro, não haveria filme.

Ainda assim, muitos espectadores não sabem avaliá-las adequadamente, ou mesmo identificar o que as torna tão especiais. Pensando nisso, o Cinema Com Rapadura, como parte da cobertura especial para o Oscar 2018, preparou uma lista destas categorias, no quê elas consistem e como os indicados se saíram em cada uma delas, além de algumas curiosidades. Vamos começar pelas que envolvem o som.

Melhor Trilha Sonora Original

Indicados: “A Forma da Água“, “Dunkirk“, “Trama Fantasma“, “Star Wars: Os Últimos Jedi” e “Três Anúncios Para Um Crime“.

Toda a música que acompanha as sequências que vemos na tela durante um filme é parte de sua trilha sonora. O Oscar, no entanto, avalia apenas aquelas que são composições originais, concebidas especificamente para os indicados. A maioria delas costuma ser orquestrada, mas existem também diversas variações em termos de estilo. Vale ressaltar que composições de música popular pré-existentes utilizadas por algum filme não configuram trilha sonora original, como por exemplo, as playlistsAwesome Mix” elaboradas por James Gunn para a franquia “Guardiões da Galáxia“. Já a trilha orquestrada composta por Tyler Bates, que acompanha a ação ao fundo das cenas do filme, sim.

Neste ano, o compositor Alexandre Desplat desponta como o grande favorito na categoria por seu trabalho em “A Forma da Água“. Com uma trilha sonora que se ajusta perfeitamente ao ambiente de conto de fadas do filme de Guillermo del Toro, ele já conquistou o Globo de Ouro e o Critics’ Choice Movie Awards. O principal candidato a surpresa é Hans Zimmer, já premiado em anos anteriores. Por “Dunkirk“, o compositor alemão optou por deixar de lado as melodias e o embalo em favor de elementos novos, que aumentassem a tensão e causassem até um pouco de incômodo em determinadas situações, tal qual uma guerra real. Para tanto, até um despertador ele chegou a utilizar em seu processo, fazendo alusão às linhas temporais sincronizadas ao redor das quais o diretor Christopher Nolan desenvolve seu filme.

Correndo por fora temos o consagradíssimo John Williams – concorrendo pela 51ª vez – , o experiente Carter Burwell e o novato em indicações Jonny Greenwood. Ainda que um nome como Williams chame atenção por seu status quase lendário, seu trabalho em “Star Wars: Os Últimos Jedi” não vem sendo lembrado como um de seus principais; esperava-se que ele seria indicado, mas por “The Post – A Guerra Secreta”, o que causou surpresa na divulgação das indicações. Burwell, por sua vez, é um compositor experiente, já tendo sido nomeado em 2015 por seu trabalho em “Carol“. Parceiro de longa data do diretor e roteirista Martin McDonagh, esta é a terceira vez que trabalham juntos desde 2007, com “Na Mira do Chefe“. Greenwood, conhecido também por ser guitarrista da banda Radiohead, tem apenas seis trabalhos como compositor em seu currículo, sendo esta sua primeira indicação.

Melhor Canção Original

Indicados: “Mighty River” – Mary J. Blige (“Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississippi“), “Mystery of Love” – Sufjan Stevens (“Me Chame Pelo Seu Nome“); “Remember Me” – Gael García Bernal, Natalia Lafourcade e Miguel (“Viva – A Vida é uma Festa“); “Stand Up For Something” – Common e Andra Day (“Marshall“); “This Is Me” – Keala Settle (“O Rei do Show“).

Se as “Awesome Mix” de James Gunn não podem concorrer como Trilha Sonora Original, tampouco podem como Canção Original. Nesta categoria, as músicas são avaliadas de forma individual, não podendo pertencer à trilha sonora do filme e devendo ser uma canção que se enquadre nos padrões da música popular, não erudita. De acordo com as normas do Oscar, “deve haver uma interpretação claramente audível, inteligível e substancial (não necessariamente apresentada visualmente) de letra e melodias, usadas no corpo do filme ou como a primeira sugestão de música nos créditos finais”. Outro ponto importante de se ter em mente é que a canção precisa ter sido escrita para uso no filme: “deve ser gravada para uso no filme antes de qualquer outro uso”.

É comum os indicados apresentarem suas canções ao longo da cerimônia, e em 2018 não será diferente. A grande favorita é “Remember Me”, da animação da PixarViva – A Vida é uma Festa“. Seus compositores, Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, já possuem uma estatueta por “Let it Go”, música que virou febre com o filme “Frozen – Uma Aventura Congelante“. O rapper Common e Andra Day tocarão “Stand Up For Something“, do filme “Marshall“, cinebiografia do jurista americano Thurgood Marshall. Common é co-autor da música, junto a Diane Warren. Ele já possui um Oscar da categoria, que ganhou com John Legend por “Glory“, do filme “Selma – Uma Luta Pela Igualdade“.

Mary J. Blige se apresentará com “Mighty River“, do longa “Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississippi“, pelo qual também concorre na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. A composição é dela própria junto a Raphael Saadiq e Taura Stinson. Keala Settle mostrará “This Is Me“, de “O Rei do Show“, co-escrita junto a Benj Pasek e Justin Paul, vencedores no ano passado por “City of Stars”, de “La La Land: Cantando Estações”. E, por fim, Sufjan Stevens apresentará sua canção “Mystery of Love“, do longa “Me Chame Pelo Seu Nome“.

Melhor Edição de Som

Indicados: “A Forma da Água“, “Dunkirk“, “Blade Runner 2049“, “Em Ritmo de Fuga“, “Star Wars: Os Últimos Jedi“.

“Edição de som” é a prática de criar, desenvolver ou adaptar gravações sonoras para um filme, que são divididas em quatro tipos: diálogo, som ambiente, efeitos e música. O primeiro longa a ter um editor de som (ou “designer de som”) portando tal título foi “Apocalypse Now”, e a definição de seu trabalho foi dada pelo próprio Francis Ford Coppola: “editor de som é o responsável por todos os aspectos relativos ao áudio de um filme, desde diálogo e gravação de efeitos sonoros até eventuais regravações da faixa final”. Por exemplo, sons como o zunido de sabres de luz ou a respiração de Darth Vader na saga “Star Wars” não teriam sido possíveis sem o trabalho do editor de som Ben Burtt, criador destes e diversos outros sons.

Enquanto “Blade Runner 2049” e “Os Últimos Jedi” exigiram muito de seus editores no sentido de criar desenvolver sons novos – da aceleração dos spinners no primeiro ao grito dos porgs no segundo -, Dunkirk teve de recriar todos os sons e barulhos típicos de um cenário de guerra baseado em tecnologias que não existem mais, como caças com motor a hélice, por exemplo. “A Forma da Água” teve a mesma situação para lidar, com o trabalho de atribuir todas as características sonoras a um ser vivo totalmente novo como é o homem-anfíbio. O próprio Guillermo del Toro contribuiu com sua voz e respiração neste processo. Em Em Ritmo de Fuga, o editor Julian Slater é parceiro de longa data de Edgar Wright, conhecido por usar o som quase como um personagem em si em seus filmes. Com um protagonista como o Baby de Ansel Elgort, que trabalha com fugas automobilísticas e tem um zunido constante em seus ouvidos, combinar todos estes ruídos de fato se mostrou um desafio, com ele chamando seu trabalho neste filme de “lightning in a bottle” (“trovão em uma garrafa”, em tradução livre”).

Melhor Mixagem de Som

Indicados: “Dunkirk“, “Em Ritmo de Fuga“, “Star Wars: Os Últimos Jedi“, “A Forma da Água“, “Blade Runner 2049“.

Mixagem de som é um processo que ocorre na etapa de pós-produção de um filme, no qual todas as faixas sonoras gravadas ao longo da produção são combinadas em uma faixa final. Neste estágio, o conteúdo da frequência, a dinâmica e a posição panorâmica são manipulados e têm efeitos adicionados. O processo de mixagem costuma ocorrer em um estúdio, uma vez que os elementos de imagem esteja editados em uma versão final. O engenheiro de som irá, então, mixar os quatro elementos de áudio principais: diálogo, som ambiente, efeitos sonoros e música.

Se o processo de edição e montagem de um filme já demanda muito de quem o realiza, mixagem de som não fica atrás. Via de regra, o próprio editor de som conduz o processo de mixagem, como é o caso de Julian Slater em “Em Ritmo de Fuga“. Tendo ele próprio desenvolvido muitos dos efeitos sonoros empregados no longa, e conhecendo as cenas de ação e perseguição do filme, poucos teriam o mesmo tato para lidar com contextos sonoros tão vastos. No entanto, nas premiações do sindicato da categoria, o grande destaque vem sendo Dunkirk, o que o coloca um pouco à frente na corrida. Ainda assim, não convém desconsiderar os demais indicados, principalmente por terem o poder de grandes estúdios por trás, principalmente “Os Últimos Jedi” com a infraestrutura do lendário Skywalker Ranch, na Califórnia.

Conseguiu entender melhor como funcionam as categorias técnicas relacionadas ao som? Pois é, agora você já deve estar craque pra dar seus palpites sobre quem ganha no dia 04/03. Não esqueça de ficar ligado no Cinema Com Rapadura, pois além de todo o conteúdo já conhecido por vocês, teremos matérias especiais diariamente sobre o Oscar 2018, além da grande #RapaduraLive servindo como a sua segunda tela durante a grande premiação. Não deixem de acompanhar!

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O Rapadura no Youtube também fez um vídeo explicando as categorias do Oscar, entre elas as citadas nesta coluna!

Julio Bardini
@juliob09

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